CLICHÊS DEMOCRÀTICOS

“É por debaixo dos panos/Que a gente/Entra pelo cano/Sem ninguém ver.”

(Ney Mato Grosso/Antonio Barros/Cecéu)

Com a eleição presidencial nos Estados Unidos da América, no dia 03 de novembro de 2020, todos os meios midiáticos e as redes sociais se envolveram numa onda inusitada que agregou várias ideologias em torno da torcida pela vitória do candidato Joe Biden do Partido Democrata.

Essa convergência de opiniões permitiu o surgimento do “pensamento único” que é o oposto do pensamento crítico. Uma unanimidade de posicionamentos refletindo a ausência de perspectiva futura diante da distopia social. Com o novo status quo e sem projeto alternativo para o país parcela da oposição se alinhou aos neoliberais. O foco desta aliança – debilitar o presidente Bolsonaro- aproximou as consciências e mentes em torno da vitória da democracia. Com base em Nelson Rodrigues “toda unanimidade é burra” propomos considerar os aspectos factuais e subjetivos que sejam contrários às teses predominantes.

Há Democracia nos Estados Unidos da América do Norte? É possível falar em Democracia num país que há setenta e cinco anos é a sede do Imperialismo Global? Um país que assegurou a sua soberania espalhando guerra e terror por todo o mundo? Ou já se esqueceram do golpe civil contra Dilma Rousseff em 2016 na presidência de Obama/Biden? Focaram em Trump, o facínora aloprado, que em seu governo não promoveu nenhuma “guerra quente”. Apostaram em Biden, o equilibrado, moderado, competente. No entanto, como Senador e depois Vice de Obama participou diretamente das guerras no Iraque, no Afeganistão, na Síria que, por suas proporções, foram consideradas guerras genocidas.

Por que a resistência em reconhecer o óbvio? Uns falavam que a juventude americana e os negros estavam mais sensíveis à luta por seus direitos civis, e outros, diziam (como Noam Chomsky) que a queda de Trump permitiria a retomada da Civilização Ocidental. Assim, tivemos os extremos que se tocaram em uma exaltação cívica que se distanciava da luta pela internacionalização dos interesses dos trabalhadores. Não podemos deixar de refletir sobre opções equivocadas que fundamentaram no passado involuções históricas.

Qual o valor da Democracia para os povos que vivem no Ocidente com fome e desemprego? Não seria o caso de lutarmos junto aos Movimentos Sociais pela qualidade de vida das periferias, por pleno emprego, por políticas sociais que permitissem a saída da crise econômico-sanitária? Mas se todos defendem a Democracia em abstrato esse paradoxo é mais simples do que se pensa. No fundo os indivíduos estão assustados com a decadência visível do Império Americano e da mudança para a soberania mundial do bloco China/ Rússia/ Irã. Entre uma tutela e outra preferiram ficar na submissão costumeira reafirmando os valores ocidentais.

Falamos das elites pensantes que disseram que o momento conjuntural foi apropriado a derrubar o poder da extrema-direita na América do Norte e sua influência junto ao presidente brasileiro. Este “pensamento único” moveu a politização de amplos setores produzindo a catarse da vibração geral com a vitória do Partido Democrata. Os grupos de esquerda de classe média optaram por uma concepção voluntarista ao atribuir responsabilidade às lideranças pelo avanço da onda neofascista. Contudo nem os que comandam o Estado e nem os Partidos Parlamentares dão a direção das estratégias do Imperialismo, elaboradas pelos integrantes do “Deep State”. As eleições dão a legitimidade do voto popular, mas os vencedores atuam como instrumentos do Poder de Estado, que por sua vez, se submete aos donos do Capital.

Ao apoiar o candidato democrata dos USA, parcela da direita à esquerda afiançou o Império como se fizesse uma “profissão de fé" ao Ideário Americano.

Os analistas geopolíticos asseguram que a partir de 2021 teremos o “Great Reset” com a proposição de medidas de controle populacional ao estilo orwelliano: a guerra das vacinas, a troca do padrão dólar pelo uso da moeda virtual e os novos avanços tecnológicos. Pelo andar da carruagem aceitaremos essas mudanças protegidos pelo aparelho repressivo de Estado, pela cibernética, mas longe das explosões espontâneas dos grupos excluídos e das guerras permanentes. Muitos continuarão proclamando suas afinidades como neoliberais, progressistas, humanistas, socialdemocratas, socialistas, comunistas irmanados democraticamente para felicidade geral das Nações. Os historiadores dirão no futuro que este contexto marcava o Espírito da Época.

Consulta bibliográfica:

Brasil 247. com (1Nov 2020)- O Episódio Greenwald- Biden- The Intercept ou quando o jornalismo se assume partidário. Hildegard Angel.

Brasil 247. com (2020) Façam a América Jeffersoniana de novo. Pepe Escobar.

Brasil 247. com (2020) EUA, potência decadente . Carol Proner.

Duplo Expresso.com (2020) Presidência Democrata. O retorno da Bolha Assassina. Pepe Escobar.

FSP/UOL (07 Nov 2020) Percepção da esquerda brasileira sobre Joe Biden está completamente errada. Entrevista com Greenwald a Mônica Bérgamo.

ISABELA BANDERAS
Enviado por ISABELA BANDERAS em 16/11/2020
Código do texto: T7112907
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