Adolescência

A adolescência é um período de profundas transformações não só físicas, mas também emocionais e sociais.

A adolescência funciona como uma lacuna entre a infância e o futuro. Essa experiência temporal vivida pelo adolescente se caracteriza pela construção de sua identidade e também pela relação com o outro. Visa criar uma nova teia de relacionamentos mais ampla que a família. Entrelaçar-se com a vida e com o outro numa nova dimensão e significado.

A adolescência significa uma passagem obrigatória através de um processo delicado e turbulento bem diferente para cada um. Uma tarefa nada fácil.

Em todos os tempos sempre houve o tempo de adolescer. Hoje, no entanto esse processo tomou características próprias devido às fortes mudanças sofridas pela sociedade.

O sujeito que está entrando na adolescência nos dias de hoje, encontra uma sociedade que atingiu enormes avanços científicos e tecnológicos, oportunizando a ampliação do conhecimento e proporcionando maiores comodidades ao ser humano.

Num contexto de evolução científica e tecnológica surge ainda a filosofia da velocidade que gera mais ansiedade do que felicidade e que vem valorizar um comportamento de competição em detrimento do de cooperação.

Na concepção atual de vida tudo passa pela economia. De acordo com o filósofo e historiador Karl Polanyi, vive-se numa sociedade de mercado, onde o que vale é a competição, onde tudo vira mercadoria e qualquer bem pode ser negociado tendo em vista o lucro que se possa obter. Uma convicção, materialista, de que qualquer situação pode ser resolvida através de um número significativo de bens materiais.

O maior prejudicado pelo paradigma acima é o adolescente, que por conta da sua imaturidade deixa-se atrair por conceitos audaciosos mais destituídos de ética, afirma Joanna de Ângelis.

Adolescer nesse ambiente exageradamente materialista tem formado seres individualistas que ao invés de adquirirem valores humanos como generosidade e solidariedade têm-se tornado egoístas e narcisistas.

“Por ser um período difícil no desenvolvimento humano, que apresenta maiores desafios do que a fase infantil, existe uma tendência quase natural de entender a adolescência de um ponto de vista intolerante. Resultado de uma observação externa sem a conveniente compreensão do processo de adolescer e suas significativas transformações. O comportamento dos adultos inclina-se a censurar mais do que compreender.” ( Luiz, Álvaro; 2015).

O adolescente é o sujeito que passa gradativamente da fase da infância e vai se dirigindo ao mundo adulto. Nessa passagem vai apresentando impulsos naturais que fazem parte do desenvolvimento físico e logo em seguida começa a passar pelas mudanças emocionais.

Em 1905 Sigmund Freud destaca a adolescência como uma fase. Mais tarde, em 1957, sua filha Anna Freud admite que seja uma fase muito difícil de ser tratada pois nela aparecem traços marcantes como: ansiedade, angústia, glória, desejo de liberdade e solidão, sensação de opressão por parte dos pais, atrações físicas e fantasias.

Na fase da adolescência o indivíduo busca autoafirmação procurando romper com o que já foi estabelecido e busca sua individuação. Em consequência deste comportamento torna-se vulnerável aos excessos em relação ao sexo e do uso de drogas.

Os pais, por outro lado, já adultos e com seu processo de individuação definido emprega suas “Forças” para manter o já estabelecido.

Não é recomendado, no entanto que prevaleça essa disputa entre forças contrárias. É preciso, portanto que os pais, por questão de maior maturidade, disponham-se a entender esse processo de transição pelo qual o seu filho, ou filha, está passando e como esse processo pode influenciar de forma definitiva na formação da sua personalidade, para encontrar a melhor forma de ajudar e evitar distorções de comportamento que possam vir a ser irremediáveis .

De que forma então encontrar o equilíbrio entre esses polos totalmente opostos promovendo o entrelaçamento dos dois de uma forma mais harmoniosa possível?

O instrumento mais poderoso para tornar esse encontro mais fácil é o diálogo.

Usando o recurso poderoso do diálogo as relações podem se tornar mais humanas, oferecendo novas perspectivas para a compreensão da realidade do adolescente, favorecendo o seu encontro com o adulto e gerando um convívio que irá respeitar os pontos de vista de cada um.

A predisposição ao diálogo pode levar ao encontro com o outro (nesse caso o adolescente). O trajeto entre a infância até chegar à vida adulta, é formado por linhas sinuosas e cheias de curvas, e obstáculos que levam o adolescente a correr riscos. É preciso que os pais (que já fizeram esta trajetória e bem conhecem suas dificuldades), possam ajudar seus filhos encontrando a melhor maneira de livrá-los desses riscos. A maneira mais adequada é através de uma educação não apenas formal, por parte da Escola, mas principalmente de uma educação familiar.

É preciso garantir o desenvolvimento global do adolescente por tratar-se o homem de um ser integral constituído de vários aspectos (físico, emocional, intelectual, moral, espiritual).

Nessa fase de transição o indivíduo encontra-se aturdido pelo conflito de não ser mais criança e de não estar ainda preparado para a fase adulta e seus jogos. “É, portanto, o período intermediário entre duas fases importantes da existência terrena, que se encarrega de preparar o ser para as atividades existenciais mais profundas.” (Joanna de Ângelis).

Os conflitos internos e externos vão ser vencidos gradativamente e de forma diferenciada em cada um. O adolescente que recebeu os limites necessários durante a fase infantil (e se através desses limites a família conseguiu fortalecer referências seguras para suas experiências) terá menos dificuldade em transpor esses conceitos para o seu próprio processo de individuação e formar seus próprios valores desenvolvendo-se de forma consciente.

Inúmeras mudanças ocorrem em ambos os sexos na adolescência; a começar pelas físicas na sua organização fisiológica. Essas são mais visíveis. Outras ocorrem mais interiormente e, portanto, são mais sutis mas também importantes, já que como já foi dito o homem é um ser integral..

O processo de adolescer abala o desenvolvimento do ser mediante inúmeros aspectos. Seja nos seus interesses, na sua qualidade de vida afetiva, no seu comportamento social (relações nos diversos grupos) ou no seu crescimento espiritual.

A família precisa compreender todo esse processo, conviver com as mudanças em todos os aspectos, ser mais tolerante e desenvolver empatia em relação aos conflitos do adolescente. É imprescindível que os pais esforcem-se para entender o desafio que é para o adolescente a relação com eles, a necessidade de afirmar-se negando as convicções dos adultos e de dizer não às regras estabelecidas. Esta flexibilidade do adulto vai permitir ao jovem o exercício de suas possibilidades, o reconhecimento dos seus próprios limites e a preparação para uma vida adulta saudável em todos os sentidos..

Bibliografia: Feliz adolescer, Álvaro Luiz, editora Boa Nova,2015.