UM ANIVERSÁRIO NA COLÔNIA - MAIOR EXTRAVAGÂNCIA

UM ANIVERSÁRIO NA COLÔNIA - MAIOR EXTRAVAGÂNCIA

Autor Moyses Laredo

A comemoração de seu aniversário, na Colônia (sítio) Mutum, pouco mais de 30 Km da cidade, foi a maior festa que eu já presenciei até os dias de hoje, qualquer tentativa de descrição, passa longe do que de fato aconteceu naquele dia. Me avisou com antecedência, fazia questão que eu fosse. No dia da festa, bem cedinho, foi à minha casa me lembrar, morávamos próximos, na mesma rua, não poderia faltar, ele havia comentado a semana toda.

Ao chegar na festa, me assustei com a grandiosidade da coisa, tudo muito bem organizado, centenas de mesas e cadeiras, do lado de fora da casa, dentro, tinha dez tonéis (barris) de caipirinhas, cinco de cada lado em cima de banquinhos, outros tantos de Coca-Cola, ao longo de uma imensa mesa de madeira que mandou colocar no térreo da casa, sem contar com os barris de chopes, que distribuidora teve que aumentar a produção para lhe atender com exclusividade, tudo estava ali para quem quisesse se servir, como dizia, “na cuia grande” significa, na maior fartura, mandou buscar um conjunto musical, com doze integrantes, que se reversavam. Calculei que havia por baixo, umas oitocentas pessoas, e cada vez chegando mais gente. As linhas de churrasqueiras dispostas, no lado de fora da casa, feitas com duas fileiras paralelas de tijolos, bastante lenha colhidas na mata, já feito carvão em brasa no meio, abarrotadas de carne sobre grelhas, nos espetos se viam todo tipo de carnes, as peças de picanha faziam fila, nada de cortes delicados, era a peça inteira mesmo, me disse que mandou matar dois bois grandes de 400 kg cada, quatro carneiros, três porcos de 200 kg e uma dezena de galinhas. Nos três fogões à lenha, também no lado de fora, haviam vários panelões de 40 litros de feijão e de arroz, até à boca, sempre se renovando à proporção que mais pessoas chegavam, a farinha, ficava no próprio saco de 60 litros, não dava tempo de botar na farinheira, quem quisesse ia lá e se servia o que queria, com um caneco, não tinha nenhuma regra ou etiquetas, sem limites, ninguém foi barrado, alguns que ainda na cidade, ouviam falar da festa, se mandaram para lá, foram de caminhão, até de carroça de boi, pessoas que nem mesmo ele sabia de quem se tratava, mas dizia que todos ali eram empregados e ex empregados de sua empresa de vigilância e seus familiares, mas acho que vieram até os parentes e aderentes deles em terceiro grau. A arrumação do lugar começou uma semana antes, imagino a mão-de-obra necessária para pôr tudo aquilo em ordem, foi preciso um batalhão de ajudantes. A festança só diminuiu quando todos estavam empanturrados e satisfeitos, isso já bem tarde da noite, também teve de tudo, pense num pessoal bêbado, se desentendiam por nada e a porrada cantava direto, ninguém apartava ninguém, os “cabras” só paravam quando cansavam, a vantagem é que não usavam suas peixeiras, ele tinha pedido que não as levassem, ou, quem levasse, tinha que deixá-las na porteira da entrada. A animação era generalizada, nem sempre eram conflitos, de vez em quando, uns caiam no açude para resfriar os ânimos, tudo ao seu estilo, livre sem miséria, na cuia grande, como era na sua casa. Ele era conhecido por todos os seus vizinhos, também sempre o convidavam para acontecimentos, como aniversários casamentos etc., os quais comparecia a todos, se quisesse sair para política tinha muitos eleitores, nunca se interessou por isso, dizia que lá, só tinham bandidos safados, ele não se adaptaria com isso, porque a qualquer sacanagem, ele “logo metia a porrada neles” (sic). Pela manhã cedinho, voltei na Colônia com ele, para ver os estragos do dia anterior, encontramos um “magote” de bêbados ainda dormindo por cima dos paus, no chão, no tablado do açude, parecia que tinha havido uma guerra, com “mortos” por todos os lados.

Molar
Enviado por Molar em 18/12/2020
Código do texto: T7138947
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