2021

Vem aí uma nova era. A primeira recuada de várias outras, com mudanças de hábitos, mais controle e menos prazer.

Natal 2020. Sem festa na Av.Paulista, sem povo na rua. Os sobreviventes da ditadura sanitária municipal rapam o que resta das lojas populares do Brás. No meio do jingle bells da má sorte, interfere o neobrega "Recairei", coqueluche parida das sanfonas do Barões da Pisadinha.

Em 2020 o Brasil foi obrigado a romper sua parceria política com americanos (derrota de Trump), teve que dobrar-se à onipresença chinesa e afastou-se de ONGs e países europeus por conta de uma suposta conivência com desmatamentos no Pantanal e Amazônia.

De Zurique a Seul, de Wall Street a Pequim nada interrompe a escalada de bitcoins e fluxo do dinheiro digital. Mas vai acabar a economia como conhecíamos. Pode haver o reset do capitalismo e a implantação da Agenda 2030, só que o planeta assistirá manobras de estratégias juvenis contra este realinhamento financeiro.

Dizem que a cultura européia está morrendo, bibliotecas e museus vazios, aqui não é diferente. O perigo é o que restou da velha cultura ser absorvida pelo streaming. A mulata do Carnaval cada vez mais vestida porque em época de "meu corpo minhas regras" a objetificação da mulher deve ser combatida. No cancioneiro brazuca o embate entre o rap de araque, com moleques de periferia com seus cabelos desenhados à maquininhas e tênis sem cadarço, emulando o funk branco que Vanilla Ice erigiu trinta anos atrás, versus o rap politizado de jovens da classe média dos centros urbanos tentando derrubar o governo em ano pré-eleitoral esculpindo músicas com slogans anti-racistas e politicamente corretos. Suas armas? Amigos estratégicamente inseridos em segundos cadernos e programas musicais na TV.

E a coisa não pára. Anitta, Luisa Sonza e Pabblo Vittar continuarão despindo roupas e consciências, no YouTube artistas envelhecidos e preteridos pelo mainstream continuarão a cruzada esquerdista contra o Capitão sempre de olho em likes e views, enquanto a Globo tentará surfar a onda crescente de impopularidade sinalizando e recauchutando um novo "Ele Não 2.0".

Enterro final do rolê, da peregrinação, do barzinho, já transformado em local proibido e frequentado por negacionistas e insensíveis. Predomínio do privado. Festa só íntima de preferência com menos de dez pessoas. Fim dos encontros ao acaso, começo dos encontros agendados pelas redes sociais e desaparecimento das viagens onde o destino é desconhecido. A volta do lounge onde o espaço é amplo, os sofás distantes, o volume da música baixo e os telões transmitem lives sem som.

A ambição, outrora motor do mundo pré pandemia, continuará a não valer nada, porque agora a era é de culpabilização do acumulo de riquezas onde o período é de divisão forçada, empatia oficial e caridade sem alma.

Em 2021, menos curtição e sexo só com camisinha porque a gravidez será de risco. Em 2021, o ato de comprar em megaespelhados shopping-centers dará lugar ao toque de polegares nos celulares e a sacolinha da loja trocada pela caixa de papelão da Amazon e do Mercado Livre.

Quem voltar a ouvir? O rock gélido, o pop eletrônico de Portishead, Air, Radiohead, o baudrillardiano Fausto Fawcett, samba dos anos 50 e bregas setentistas de programas de auditório. Em 2021, a verdadeira trincheira, a verdadeira resistência continuará sendo a (re)descoberta do passado. Leituras? Biografias e devaneios de malucos visionários da ficção-científica. Histórias de pessoas e lugares também.

E se aproxima o centenário da Semana de Arte Moderna. Quem serão os novos Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Villa-Lobos?

O mundo clama pelo fim da praga, as pessoas pelo fim do tédio. Queremos matar o tempo, o tempo quer nos matar.

Bem vindos ao admirável novo mundo dos assassinos