Reflexoes sobre o brincar

Antes, a rua era espaço democrático de brincadeiras de todos os tipos, as quais, crianças oriundas de qualquer classe social participavam somando experiências diversas.

Essa diversidade gerava riquezas ao imaginário infantil, através de um convívio espontâneo, dialético e dialógico.

Com a industrialização, veio também a evolução tecnológica, que culminou no que chamamos de Sociedade da Informação.

Acabou-se o espaço democrático, agora as crianças são obrigadas a brincar em poucos (ou muitos, dependendo das condições econômicas dos pais) metros quadrados. São separadas pelas classes sociais às quais pertencem, o que, conseqüentemente, faz brotar uma uniformidade na brincadeira.

Nascimento do brincar artificial.

Esse modelo homogêneo é incentivado pela mídia, sob a forma de propagandas e principalmente, por programas infantis, cujos patrocinadores têm as crianças como público alvo e/ou potencial.

São tempos de globalização, imperialismo, retrocesso liberal.

Acabou-se a criatividade do fazer, a autoria.

Incentivo ao consumo exacerbado, incontrolável.

A industrialização transforma o brincar, como forma de descoberta ingênua, como forma de expressão e oportunidade de interação, em sentimento de posse, em desejo de ter.

O brinquedo foi transformado em mercadoria de consumo. Está agora, restrito e elitizado.

Capitalismo gerando necessidades

Os grupos infantis – fase de descobertas e “rituais de passagem”, sofrem influência direta de suas relações com a sociedade.

Mundo fragmentado, em transição.

Mundo que nos quer homogêneos, padronizados.

Consumidores acéfalos.

Sistema que acaba com a riqueza cultural característica de nosso país, mata o processo criativo e o olhar sensível, corrompe nossas produções, animaliza o homem ao exterminar com as práticas naturais da infância.

Jogos, brincadeiras, brinquedos - que guardam séculos do imaginário popular - possuem espaço diminuto e raramente são presenciados. Porém, não estão extintos. Mesmo que, com partes omitidas, formas esquecidas e transformadas, os brinquedos e brincadeiras de antigamente sobreviveram à chamada pós-modernidade.

Nutrindo esperança de resgate de nossa expressão verdadeira e intrínseca.