Manifesto Antropófago: uma necessidade de redescobrir o Brasil de Oswald de Andrade
Um dos principais líderes do movimento modernista ao lado de Anita Malfatti, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, entre outros, jornalista e escritor, formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), Oswald de Andrade não somente marcou seu nome na história como participante da Semana de Arte Moderna de 1922, como também deixou registrado em seus anais, o Manifesto Antropófago, publicado na Revista de Antropofagia em sua primeira edição em 1928, sua maior obra e contribuição à literatura brasileira moderna.
Aproveitando e muito da estrutura textual do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, escrito em forma de aforismos, no ano de 1924, Oswald questionou as estruturas políticas, culturais e econômicas do país, chamando os artistas brasileiros a originalidade e criatividade, já que anteriormente, reproduzia-se muito do que acontecia em outros países.
Porém, tal fato não significa que ele era nacionalista no sentido da palavra que conhecemos hoje ou tinha aversão a tudo que era estrangeiro, mas, desejava apropriar-se da cultura estrangeira, misturá-la, processá-la, absorvê-la e a partir daí, dar origem a uma cultura propriamente brasileira, de forma autônoma e independente.
A frase: "tupi or not tupi, that's the question, intertextualidade de Shakespeare em Hamlet, reflete bem suas intenções quanto a seu manifesto.
A origem da palavra antropo que vem do gregos antropos, significa homem e a palavra phagein significa comer, dando o sentido metafórico de incorporar as características da vítima e o próprio título denota uma valorização do multiculturalismo e da miscigenação.
Repleto de intertextualidades e diversas fontes consultadas, fruto de imensa pesquisa sobre nossas raízes a fim de promover nossas independência cultural como afirma na frase:
"A nossa independência ainda não está proclamada" (ANDRADE, 1976, s.p)
Muito mais do que apenas um convite à descobrir nossa identidade nacional, mas sim um chamado à redescoberta revendo nossas origens, nosso passado, nossa história e tradição.
Infelizmente, após a década de 1930, esse ideal começou a se perder e com o processo de industrialização brasileira ocorrido na década de 1950 e a consequente chegada de novas tecnologias, formação de cultura de massa voltada para o consumo e entretenimento e recentemente o aparecimento do fenômeno da globalização, voltamos a mesma situação de quase um século atrás. Não à toa a busca por identidade e pertencimento é uma questão crucial para o homem pós-moderno.
O que é ser brasileiro? O que nos une? Como chegamos até aqui? Existe uma cultura propriamente brasileira livre de adaptações?
Perguntas como essas, que antes de serem respondidas, torna-se necessário, primeiramente passar por um processo de redescoberta do Brasil nas mais diversas áreas, assim como os modernistas e outros intelectuais fizeram no passado, com a devida contextualização de nossos dias atuais, começando a revisitar Oswald de Andrade, trazendo uma nova perspectiva pois:
"Só a antropofagia nos une. Socialmente! Economicamente. Filosoficamente". (ANDRADE, 1976, s.p)
Que precisamos de uma nova identidade nacional a partir das diversidades, não resta a menor dúvida, mas, como isso irá se realizar sem antes conhecermos e entendermos as raízes do Brasil e suas particularidades? Eis o desafio!
Referências Bibliográficas
Manifesto Antropófago. In: Revista de Antropofagia. Reedição da Revista Literária publicada em São Paulo – 1ª e 2ª dentições – 1928- 1929. São Paulo: CLY, 1976.
FUKS, Rebeca. Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade. Disponível em: <www.culturagenial.com/manifesto-antropófago-oswald-de-andrade/> Acesso em: 02 de Julho de 2020.