Ensaio sobre a afirmação "a verdade os libertará"

E a verdade os libertará. Normalmente esta frase é dita com um simples sentido. A mentira prende e nos aflige. A verdade nos liberta e conforta. Isto é verdade, mas esta frase contém muito mais significado que esta leitura superficial.

Num outro nível podemos lembrar que o próprio Jesus afirmou “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Sendo que Jesus não mente, ele nos liberta. Então somos libertos de toda aflição, toda prisão, pela nossa busca dEle.

Eu, no entanto, gostaria de tentar aprofundar conforme minhas capacidades, que não são grandes. Gosto de ler um pouco de filosofia e, aprendi conforme o tempo, que filosofia trata-se, principalmente para os iniciantes, majoritariamente, de buscar simplesmente o verdadeiro sentido e definição das palavras.

Fica claro que nesta frase há dois termos principais que definem todo o sentido da sentença. Vamos tentar dissecá-los conforme possível. Comecemos pela liberdade. Ela, como concebida atualmente pela maioria, principalmente pela visão materialista da realidade, trata-se de não estar preso a nada mais que a própria vontade. É claro que somente a falta de fé pode criar uma visão limitada como esta. Como pode um ser limitado, cuja presença, ou melhor, cujo ser é limitado e cuja existência isolada é impossível? Qual pessoa pode existir por si mesmo? Quem pode ser verdadeiramente independente? Basta observar o mundo com atenção para perceber que aqueles que buscam tal independência acabam justamente dependentes de quem não querem depender. É impossível não depender de ninguém. Estas pessoas, no entanto, iludem a si mesmos porque focam no vínculo afetivo e esquecem do vínculo material. Vivem na cidade e acostumaram-se a pagar por tudo que recebem, esquecendo que estão vinculados a tudo pelo dinheiro. Sem dinheiro não tem nada, dependendo sempre de outras pessoas que lhes fornecem o emprego ou que as contratam para fornecer-lhes outros serviços. Dependem, no fim, de uma gigantesca rede de necessidades e satisfações, chamada economia ou mercado. Muitos reclamam de uma entidade “mercado", com sua corrupção, ou da sociedade de consumo, sem perceber que estes, na verdade, somos nós, com nossas necessidades de subsistência. Se a sociedade consome é porque nós precisamos consumir para não morrer.

Quem vive esta ilusão de liberdade acaba preso, incapaz, muitas vezes, de fazer a mínima coisa por si. Além, cai num egoísmo que coloca a satisfação da própria vontade como sinônimo de liberdade, confundindo o afeto com aprisionamento. Ao fim o que resta é uma prisão aos próprios desejos e a simples satisfação de si mesmo. Aquele que ama somente a si acaba objetificando o próximo exigindo que o próximo a trate como pessoa. Exigir do outro algo que não somos capazes de dar é a maior prisão em que podemos nos colocar.

A liberdade verdadeira para aqueles que são corruptíveis, como nós, não se trata da falta de adesão mas sim da adesão à autoridade máxima existente, chamada de verdade, porque trata-se da adesão do que é corruptível ao que é incorruptível. A liberdade é viver na verdade. A autoridade é, de certa forma, sinônimo de poder. Todo aquele que quer poder mais pode impor-se de duas formas independentes uma da outra; pela força ou pela verdade. O poder que quer se impor pela verdade não depende da força e a autoridade que quer se impor pela força não depende da verdade. É claro, falando assim, que a verdade absoluta, Deus, não necessita de força para impor-se.

Ou seja, a verdade é um ser e não apenas uma correspondência lógica. Por isso os materialistas não encontram a verdade e acabam afirmando que ela não existe. A proclamação da verdade absoluta somente é possível ao ser absoluto. Seres inferiores, como nós, não podem possuir toda a verdade e sim somente parte dela. Os ateus e materialistas, pela descrença no ser absoluto e na sua onipresença, ficam incapacitados de acreditar na verdade onipresente, verdade esta que está além da razão humana. Como percebem que as afirmações diversas produzidas pela razão humana conferem com a realidade apenas em algumas partes acabam por afirmar, como já afirmaram diversos filósofos, que “a verdade não existe”. Cometem o absurdo dos absurdos ao proferirem uma sentença ilógica. Se a verdade não existe como pode esta afirmação ser verdadeira? Eles porém afirmam que a verdade que não existe é a verdade absoluta, existindo verdades parciais que apenas com aspectos limitados da verdade. É o mesmo erro de Pilatos que, diante da própria verdade, penguntou-A “o que é a verdade”? Não obteve resposta porque a verdade não pode demonstrar-se a quem procura-a no local errado. “O pior cego é aquele que não quer ver”.

Após negar a verdade absoluta os materialistas começam a achar que as maiores verdades são a simples conjuntos de verdades menores. Como uma parede de verdade que aumenta conforme colocam-se mais tijolos de verdade. Esta é a origem de certa visão de democracia e da busca do consenso científico. Já está consolidada na cabeça do homem moderno que o consenso da maioria tem em si algum tipo de autoridade, sendo que quanto mais pessoas concordam maior é a chance de alguma afirmação ser verdadeira. Esta forma de autoridade, porém, não é autoridade da verdade mas autoridade de força. Qualquer um que não pense conforme a maioria costuma ser excluído e tratado como um “pária”, um esquisito, a quem não se deve dar ouvidos. Para perceber este erro basta olhar para o nazismo, que, de certa forma, foi amplamente democrático sem ser republicano. A maioria estava errada e os que estavam certos foram isolados e desacreditados.

A verdade absoluta, ao contrário do que afirmam certos materialistas, existe sim. Porém, a verdade absoluta para ser absoluta necessariamente deve ser onipresente e dizer que algo é onipresente significa dizer está em todos os lugares. Para se estar em todos os lugares é necessário ser um ser perfeito, logo, Deus é a verdade. Como disse o Padre Paulo Ricardo em um de seus cursos (não sei dizer quem afirmou isto antes) a verdade é o ser na inteligência. Ou seja, a verdade é que captamos da realidade de forma fidedigna, ou seja, que confere com a própria realidade, que não tem distorção. Assim sendo a verdade é o que é na realidade e a mentira, ou a falsidade, é o que não é na realidade. Fica claro assim que a verdade existe, inclusive porque a realidade é real e o que é real é verdadeiro. E isto clarifica porque utilizamos o termo realizar quando falamos sobre pessoas que atingem seus objetivos. É claro que temos que considerar os objetivos últimos de todos os homens conforme já declarado no Concílio Vaticano II, todo homem é chamado à santidade. Justamente vocação é sinônimo de chamado, sendo assim, a realização última do homem é chegar à santidade, ou seja, tornar-se realmente real. E para realizar-se é necessário ser sincero, e honesto, ou seja, para realizar-se é necessário viver na verdade.

No fim podemos reafirmar que a verdade nos libertará. Ao vivermos na verdade, ou seja, vivermos em Cristo, conforme os mandamentos da Igreja, buscando nossa realização conforme nossa vocação à santidade, sendo honestos e sinceros atingiremos a realização conforme as promessas de Cristo. Atingir a realização significa aqui tornar-se real não conforme a realidade material mas sim conforme a realidade superior da vida espiritual, ou seja, realizar-se aqui quer dizer alcançar a vida eterna, assim como abandonar esta realização significa não alcançar a vida eterna, caindo à morte eterna.

Esta vida eterna ocorrerá ainda em Cristo. Nela livrarmo-nos deste corpo de morte. A vida na eternidade é a vida na onipresença. Estaremos então livres das limitações materiais, amigos do infinito, livres da corrupção. Verdadeiramente livres. Uma liberdade infinitamente superior a esta impressão materialista de vida sem afeições. Viver na verdade, meus caros, nos libertará.

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