Tarde

dele parte#

Sempre detestei as tardes. Sou lento. Raivoso. Desatento. Mau educado. Só durmo de dia. O sol esconde a escuridão. Vejo o que bem entendo. Não procuro por filmes. Muitos começam pelo fim. Terminam no começo. Sonho falar francês. Turco. Só sei falar o velho guarani. Sinto solto. Mio no apartamento. Filmo miando. Só durmo no amanhã ser. Descobri que sempre estive aqui. Sem atalho. O realismo deve ser combatido. Li no Google. Do primeiro até o fantástico. Borges que diga. O bizarro agrada se tiver afeto. Não tem fronteira. Sou um ser sem certidão. Sem saber onde nasci. Nem quando. Mimetismo dela. Escutei um escritor de ficção comentar: é provável que suas histórias possam ser fraudadas. Como um teto fictício. Ainda bem que na ficção posso brincar. Me divirto sem necessidade de cair uma turbina de avião na minha cabeça. A ficção vive no extraordinário. Vivo ficção. Senão vida fica uma sucessão de fatos. Iguais. Comuns. Fila. Boleto. Pipoca aos macacos. Sujeito chato que sou que não acho nada engraçado. Disse ouvindo o rádio. Com que voz você me lê? Qual é voz que você coloca na minha voz? Tardo. Importuno quem acorda de um pesadelo. Falho. Fardo. Graças a Deus.

Severo Garcia
Enviado por Severo Garcia em 13/12/2021
Código do texto: T7406704
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