Vício

Parte dele#

Depois de ler algumas páginas de um livro distópico, por acaso ou epifania, um óbvio pensamento sobreveio. Habituei. Se fosse vício dirão que tudo é nefasto. Se é hábito é supostamente saudável. Se é vício é mal fadado. Não escrevo o que digo. Íntimas intimidades. Vejo. Quero. Crítico. Valorizo. Sonho. Brinco. Amo e vivo no cotidiano. Peças. Fragmentos de dentro e do fora. Essas palavras amontoam-se em meses. Horas. Tempo. Passei a corresponder-me com você. Bilhetes e mais bilhetes. Delas nasceram ficções. Dramas. Música. Choros. Excitação. Tudo isso fortemente intenso. Não sei se está certo dizer que habituei a falar com você por palavras. Criamos nosso recanto das letras. Pensando com atenção, correto seria dizer que viciei em você. Um indício: um silêncio. Um meio turno sem uma palavra. Sem palavra. Sem uma marca de troca. E tudo é mais vazio no meu dia a dia. Então sim. Viciei em você. E foi uma crescente. Algo. Inesperado. Detalhe do detalhes. Adaptamos nossa língua. Forjamos um universo particular. Íntimo. Sem qualquer explicação para o infinito. Exceto para você e mim. Não adianta. Você é meu vício. Aceito os malefícios.

Severo Garcia
Enviado por Severo Garcia em 02/01/2022
Código do texto: T7420124
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