Cemitério não tem CEP

Cemitério toda cidade e bairro, pequeno ou grande, tem.

Cemitério é a própria indicação geográfica, como se há eras estivesse brotado ali. Cemitério não tem número ou CEP, não precisa.

Cemitério é a morada final, quem para ali vai não tem contas ou prêmios a receber.

Cemitério, se localiza no dentro. Se sabe a morada que quer chegar pelo número de passos, pela posição solar, pelos vizinhos.

No cemitério, celular, smartphones, Wi-Fi, 3, 4 ou 5G, pouco importa para quem ali mora.

Cemitério lembra que redes sociais são artifícios dos vivos-mortos que caminham sobre a terra, que respiram. Não que sejam pulsantes de vida.

No cemitério a vida pulsa, na dor de quem perde, na inocência da criança que corre ou percorre corredores e admira anjos e flores. Aquela que ouve o barulho do vento e acompanha a gente grande.

Cemitério mostra o que vai e o que fica. Mostra quem vai e quem fica. Quem é profundo e quem é razo.

Cemitério tem muitas moradas, e quando se enche, abre-se espaço para mais.

Cemitério é murado, mas fica de portões abertos.

Cemitério, para uns é onde termina a vida. Mas na verdade é onde mostra que há muita vida no mundo.

Cemitério não atrai holofotes. Embora façam homenagens na morte do afeto que não foi dado em vida.

Cemitério não é lugar preferido de ninguém. Alguns frequentam por obrigação, poucos pelo coração.

Cemitério não tem CEP. Para encontrar quem lá mora, se encontra no sonho, na saudade, no bem, na lembrança e legado que deixa. E isso, no cemitério não cabe, embora gigante seja.

Cris Damiani
Enviado por Cris Damiani em 07/01/2022
Reeditado em 08/01/2022
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