ENSAIO SOBRE MEIO AMBIENTE, PRODUÇÃO E CONSUMO

Heráclito Ney Suiter*

É um absurdo acreditar na inverdade de que as forças destruidoras da modernidade podem ‘ser controladas’ simplesmente com alocação de mais recursos (riqueza, educação e pesquisa), como forma de combater a poluição, preservar o meio ambiente natural, criar novas fontes alternativas na geração de energia e fomentar acordos mais efetivos para a uma coexistência mais pacífica entre o homem e o meio ambiente.

Certo é que riqueza, educação, pesquisa e muitas outras coisas são necessárias para o avanço de qualquer civilização, entretanto, o que de fato deve ser mais importante nos dias atuais é uma revisão dos fins que esses meios se propõe a servir.

Isso quer dizer que urge uma mudança radical de estilo de vida que possa atribuir às coisas materiais o seu devido e legítimo lugar secundário e não primário, como vem acontecendo.

A ‘lógica da produção’ vigente e consequentemente de sua cria, ‘o consumismo desenfreado’, não é a lógica da vida nem de uma sociedade que se diz verdadeiramente avançada.

Os modelos de produção e consumo ao longo de décadas vem aumentando em níveis de complexidade e grau de violência cada dia mais distantes das leis do universo a que o homem e toda a criação estão sujeitos.

A redução da taxa de esgotamento dos recursos naturais e, a harmonia das relações entre àqueles que possuem e os que não possuem riqueza e poder, só se consolidará a partir do momento do despertar de uma consciência, nas palavras de Shumacher (1), de que “a ideia de que ter bastante é bom e ter mais do que o bastante é mau”.

Ainda no ano de 1972, em um relatório sobre o controle da poluição na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, apresentado ao Secretário de Estado para o Meio Ambiente da Inglaterra (2), trouxe em suas conclusões que “as sociedades mais tecnologicamente evoluídas tinham a oportunidade de rever seus valores e modificar seus objetivos políticos”, sendo uma questão de “escolhas morais” e que “nenhuma quantidade de cálculo por si, poderia dar as respostas para o controle da poluição”. No relatório, o alerta para que a população e o consumo de recursos no mundo passassem a ser orientados para um equilíbrio permanente e sustentável, sob o risco de uma queda da civilização, uma experiência ruim reservada a nossos filhos e netos (hoje uma realidade que nossa geração está sentindo na pele).

O relatório apontou uma saída: a liberdade perfeita a serviço da verdade. Pois a humanidade não pode ficar presa a mercê da ‘lógica da produção’ ou outra fragmentária qualquer, deve se prender a verdade, vez que só a serviço dela, encontramos a liberdade perfeita; neste sentido, mesmo àqueles que lutam com ideologias em prol de libertar-nos da servidão do sistema de produção vigente e seu consumismo desenfreado, na realidade, não mostram o caminho para o reconhecimento da verdade, são oportunistas e quando muito, intelectuais desonestos.

Há uma horda de canalhas que arrastam pessoas pusilânimes, criando uma trupe de ativistas acéfalos. Atente-se para o fato que, na maioria das vezes, àqueles que bradam em alto tom a defesa o meio ambiente estão justamente a serviço dos fomentadores da permanência da lógica de produção/consumo que aí está, basta que se busque na internet quem são os incentivadores econômicos/patrocinadores das ONGs ambientais.

Em um verdadeiro ataque a inteligência de quem estuda a sério e de forma honesta as questões ambientais, querem fazer crer que a questão ambiental só diz respeito a ‘plantinhas e bichinhos’, apartando do contexto do debate o meio ambiente artificial e principalmente o protagonista da ciência ambiental: o homem.

Certo é que não podemos colocar todos os ativistas e ONGs em uma tábua rasa, mas não se pode permitir que grupos e pessoas sem escrúpulos possam ser blindadas de críticas, protegidos por àqueles que, de forma mais coerente desenvolve um trabalho ladeado da verdade e com honestidade científica (o que é uma minoria).

O remédio para este estado de coisas é a prudência no mais amplo sentido que se possa abstrair dos ensinamentos de Pieper (3), principalmente quando se conhece o nível de maldade daqueles ‘que tem mais do que bastante’, e seus ideários iluministas, defensores ferrenhos do pensamento malthusiano.

* Advogado, Pós-graduado em Direito Ambiental e MBA em Gestão Ambiental- IEP/FACIMAB; International Environmental Auditor – IEMA/UK; Projetos de MDL e Créditos de Carbono – UFPR.

N.T.:

(1) (tradução livre) SCHUMACHER, Ernst F. Small is beltiful: a study of economics as if people mattered. UK: Blond & Briggs books, 1973.

(2 )(Tradução livre) Great Britain. Department of the Environment, and Sweden) United Nations Conference on the Human Environment Stockholm. Pollution: Nuisance Or Nemesis?: a Report On the Control of Pollution; Presented In February 1972 to the Secretary of State for the Environment. London: H.M.S.O., 1972.

(3) PIEPER, Josef. Virtudes fundamentais: as virtudes cardeais e teologais. São Paulo: Cultor de Livros, 2018.