Estuda Etimologia da Língua Portugusa Número 184

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº 184.

Flamengo veio do Holandês flaming, pelo Latim medieval flamengus, designando habitantes de Flandres, na Bélgica. Manual originou-se do Latim manuale, que é feito com o manus, mão. E lé com lé cré com cré vieram de leigo com leigo e clérigo com clérigo.

Cré: da expressão cré com cré, lé com lé, provavelmente para abreviar esta série de palavras, remontando, a antiga oposição entre clérigos e leigos, significando que cada qual deve juntar-se aos seus iguais: clérigo com clérigo, leigo com leigo. A expressão pode também ter sido forma de encurtar a pronúncia das palavras, “querer com querer”, que virou primeiramente “qu’rer com qu’rer, depois “crer com crer”, passando a crê com crê, mas com a pronúncia aberta por força da oura expressão, pela variante “clérigo com clérigo”, resultando em “cré com cré”.

Efes e erres: dos nomes das letras “efe” e “erre”, postos no plural para designar crítica a quem, entre os séculos XIII e XIV, recorria aos pandectas, compilações jurídicas eruditas, identificas nos manuscritos antigos por símbolos gregos que pareciam efes dobrados. Os mais pernósticos dobravam também os erres iniciais, onde não eram necessários, como no começo das palavras, escrevendo: “rraposa, rrazão, rreceber” etc.

Flamengo: do Holandês flaming, pelo Latim medieval flamengus, escrito também flamencus, designando o nascido, habitante ou que se refere ao condado medieval de Flandres, região situada hoje em território da Bélgica. O étimo latino indica também o fogo ou cor de fogo, como a cor de cabelos, barbas e pelos ruivos, comuns nos habitantes da região. Dá nome ao clube mais popular do País, fundado em 1895, na Praia do Flamengo, quando o remo era o esporte principal, daí o nome cujas iniciais, CRF, resume Clube de Regatas Flamengo.

Lé: da expressão “lé com lé”, que antecedia ou se seguia à de “cré com cré”. O Estado português, formado em guerras travadas em seu próprio território e alicerçado na união com a Igreja, exigia que os nubentes fossem da mesma religião., “credo com credo”, cré com cré”, com o fim de evitar uniões conjugais com inimigos. Os noivos deveriam também ser da mesma lei, pois em Portugal vigiam três delas quando os casamentos foram disciplinados: a dos cristãos, a dos judeus e a dos mouros. Lei com lei resultou em lé com lé . As Ordenações Afonsinas determinavam: “Nenhum cristão tenha ajuntamento com nenhuma Moura ou Judia, nem alguma cristã com Judeu ou Mouro por serem gente de LEIS DESVAIRADAS “.

Manual: do Latim manuale, adaptação do grego egkheirídion, título das reflexões escritas pelo filósofo Epicteto (50-127), que na antiga Roma mudou para Manual de Epitecto, vindo depois a denominar qualquer livro que reunisse os conhecimentos básicos de uma disciplina, ciência, técnica etc., como prevalecem ainda hoje em manual didático, manual de Medicina e outros. Originalmente foi apenas o que era possível de ser feito ou podia ser consultado, operado ou manobrado com as mãos e, por isso, designou de início os livros de rezas, como os breviários. Manual da Boa Escrita: Vírgula, Crase, Palavras Compostas, da professora e revisora Maria Tereza de Queiroz Piacentini, é exemplo de como esta palavra está presente em títulos de tantos livros. Ela ilustra o que ensina com exemplos claros, como estes, sobre o uso da vírgula: “Deixou toda sua herança para seu filho , Jorge Henrique,(é filho único). Parte da herança ficou com seu filho João Elias (entende-se que este pai tem outros filhos).”

Pandecta: do grego pandéktes, dicionário universal, abrangendo todos os assuntos, pelo Latim tardio Pandectae, já limitado aos campos religioso e jurídico, designando coletânea de leis compiladas pelo imperador bizantino Justiniano I (482-565), responsável também pela reunião do Corpus Juris Civilis, chamado por isso Código Justiniano, ainda hoje base do sistema de leis de várias nações. O imperador fechou as escolas de Filosofia de Atenas sob alegação de que ensinavam o paganismo, perseguiu hereges, guerreou contra os bárbaros, construiu mosteiros, igrejas e a famosa igreja de Hagia Sofia, na atual Instmabul, na Turquia, fequentemente identificada erroneamente como de Santa Sofia. Essas confusões, advindas de épocas em que Igreja e Estado atuavam em perfeito entendimento, deram ensejo a provérbios como “detrás da cruz está o diabo”, “pela saia do vigário sobe o diabo ao campanário”. Ou, em Inglês: “Where God has his chuch, the devil will have his chapel” (“Onde Deus tem sua igreja, o diabo terá sua capela”).

Deoníso da Silva, da Academia Brasileira de Filologia, é escritor, doutor em Letras pela USP, professor (aposentado) da UFSCar (SP), autor contratado pela Estácio de Sá (RJ), vice-diretor da Editora Unisul (SC) e colunista da Bandnews, com Ricardo Boechat e Pollyanna Bretas. Alguns de seus romances e contos foram publicados também em Portugal, Cuba, Itália, México etc., , Alemanha, Suécia etc., e é autor de De Onde Vêm as Palavras (17ª edição) . www.lexicon.com.br

Revista Caras

2014

Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 05/04/2022
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