Desculpa?!

São raras as memórias que tenho com o meu pai, por exemplo, não me lembro de um carinho, um sequer. Lembro de um "conselho" após uma surra que ele me deu e eu me mijei de dor...

Lembro de uma indagação que ele me fez: Quem te ensinou isso? Quando viu uns desenhos pornográficos que eu tinha feito. Quem me ensinou aquilo? Garanto que não foi ele, a propósito, não me lembro de ter aprendido nada com ele, nem a lavar as partes…

Quando ele foi embora eu ainda era criança, de vez em quando ele aparecia lá em casa e dava um trocado para mim e para o meu irmão. Quando ele foi embora do mundo eu era adolescente, nenhum trocado ele deixou…

Não escrevo isso com raiva, minha tentativa de entender os outros se estende a ele também. Esses fatos me trazem tristeza e uma certa autopiedade pelo o que me causou e causa…

Quando um pai abandona um lar, (no sentido de não dar nenhum suporte aos filhos) automaticamente a mãe também "abandona", pois ela tem que suprir tudo sozinha, ou seja, os filhos perdem os dois pais….

Minha mãe arranjou um outro emprego, saía de casa de manhã cedo e só chegava por volta da meia noite. Mesmo com todo o seu zelo eu tive que aprender a fazer tudo praticamente sozinho, ou com a rua, que me ensinou muitas coisas, boas, outras, ruins…

Por causa da ausência dos meus pais eu não aprendi a ser cuidado, sou muito independente, não fico a vontade em ser servido, apesar de eu ser extremamente cuidadoso com os outros, não consigo, por exemplo, deitar no colo de alguém e receber um cafuné...

Racionalmente eu entendo e fico muito grato pela intenção de quem tenta me propiciar carinho, emocionalmente, essa ação não é entendida pelo meu cérebro como algo importante, é como se eu vivesse numa tribo isolada do mundo e alguém me desse uma mala de dinheiro… Desculpa?!