Tentativa número 1
deu vontade de escrever…
escrever gotas de tinta
gotas de vento
desejo.
um escrever abstrato, que não quer dizer nada, sem sentido, mas que pulsa nas veias como o sangue. Que sentido o sangue tem?
Era escrever assim que eu queria, um escrever-música. Mas falhei miseravelmente na música, na pintura. Me restaram as letras, as letras duras e concretíssimas, que nada têm de abstracionismo. São todas elas cheias de significado, cheias de conceitos, feitas pra conceitos. eu quero o pré-conceito.
não, não sei o que faço
não sei o que quero
se satisfaço desejo
desespero.
quando começa a fluir desse jeito como corrente elétrica desenfreada eu pressinto que a coisa vai longe, talvez não, será?
ah se eu pudesse! pintar elefantes em flor e a alegre desarmonia de uma tarde no oriente. posso
apenas
escrevê-los e enclausurá-los, tristemente, em linhas de papel branco fora do meu pensamento. Esvazio a mente ao aprisionar pobres criaturas de fantasia em letras de prisão surda.
Certa vez disse Picasso, em meio ao grande turbilhão de artistas que começavam a fazer abstratos, que o abstracionismo total era impossível, pois toda abstração vem de uma idéia, um sentimento, uma visão concreta e tal. Mais ou menos como não há a pura conseqüência sem causa. Se ele acertou eu não sei, fico remoendo dentro de mim...
remoendo, remoendo
c o r
r o e n d o
então, se os ideais nunca serão alcançados, se estamos subordinados à causa primeira (causa mortis!), se não fugimos da conseqüência última, não evoluímos, estamos presos e limitados. O super-homem (eu acreditava tanto...!) não vai pra lugar nenhum, construindo suas pontes que caem. Eternamente.
enfim, enfim. se não é possível abstração arco-íris em palavras
isto aqui o que é?!