Usagi Tsukino (Sailor Moon), a menina messiânica, que combate o Mal em nome do Amor e da Justiça.

 

 

A Cosmogonia de Sailor Moon: o Caldeirão Central

A COSMOGONIA DE SAILOR MOON: O CALDEIRÃO CENTRAL

Miguel Carqueija

 

A saga de Sailor Moon, criada em 1991 pela quadrinista japonesa (mangaká) Naoko Takeushi, é complexa, profunda e objeto de muitas teorias, tal o número de mistérios que vão surgindo. Há muita espiritualidade na saga, e Naoko, antes de ser desenhista, exercera a função de sacerdotisa num templo xintoísta (uma “miko”). Apesar da clara influência do Xintoísmo (principal religião do Japão), há também símbolos cristãos, e inclusive, especificamente católicos. Por exemplo, a presença de padres e freiras em alguns episódios. Naoko Takeushi parece ter muito respeito pelo Cristianismo.

Uma das personagens principais, a Sailor Marte, é aprendiz de sacerdotisa xintoísta no Templo Higawa, de propriedade do seu avô, mas estuda num colégio católico. Isso no seriado de tv dos anos 90.

Examinando a história em suas diversas versões (o mangá e os três seriados de televisão, dois de animação e um em ação viva) além dos filmes de longa-metragem, noto que a mesma pode ser enquadrada na doutrina cristã. Isso também acontece com as grandes fantasias de “As Crônicas de Nárnia” de C.S. Lewis e “O Senhor dos Anéis” de J.R.R. Tolkien. Mas vamos começar de um início cronológico que não é o início da história, pois a mesma começa numa fase muito posterior e aos poucos o passado é revelado.

Pelo que se sabe, as “sailor-senshi”, isto é, as marinheiras-guerreiras ou navegantes-guerreiras são geradas no interior do Caldeirão Central da Via Láctea, ou seja, o buraco negro central cuja existência real foi agora confirmada. Elas são, de início, as “sementes estelares” que se tornam as guerreiras sailors. O nome “sailor” seria baseado nas golas de marinheiras dos uniformes escolares femininos do Japão, mas essa explicação me parece falsa. Afinal, as guerreiras já existiam muitos milhares de anos antes que o Japão existisse. O mais provável, creio, é que elas sejam navegantes por causa de seu poder de teleporte, que as permite se moverem no espaço cósmico sem necessidade de naves espaciais.

Mas essa criação não tem nada de aleatória. As sailors são criadas pela Guardiã do Caldeirão, ou pelo menos é ela quem monitora a criação. Na minha opinião a Guardiã do Caldeirão é Deus, em uma de suas manifestações. Por exemplo, no segundo livro da Bíblia, o Êxodo, Deus se manifesta aos judeus no deserto, na forma de uma nuvem que acompanhava a migração. Se a Guardiã do Caldeirão não é Deus, seria um de seus anjos ou arcanjos, com poderes muito especiais.

 

Sailor Marte e Sailor Mercúrio, duas das quatro guardiães da Princesa da Lua, a quem juraram dedicar suas vidas até o celibato: "Não há lugar para homens em nossas vidas", dirá Sailor Marte. "Eu sou aquela que jurou pureza à Princesa da Lua!"

 

As sailors, enfim, são uma raça cósmica intermediária entre anjos e homens, são as guardiães do universo físico. Não são anjos mas, como os anjos, elas não se reproduzem, são super-raças, portanto não possuem parentesco entre elas. Afinal, elas são criadas diretamente por Deus na forma de sementes estelares, e não através de geração sexual.

Somente uma delas, Sailor Moon, atinge o nível de anjo em sua transformação mais avançada, como veremos depois, ganhando grandes asas emplumadas.

Na visão de Naoko Takeushi, contrariando idéias comuns na ficção científica e até na teoria da evolução, a espécie humana é universal. Ou seja, os planetas habitados abrigam humanidades autóctones, mesmo surgindo independentemente em mundos diversos, a raça humana é a forma padrão da vida inteligente. Quanto às sailors, possuem forma humana porém a rigor não são seres humanos, são sailors.

Ora bem, algo muito importante acontece quando surge no caldeirão central uma semente estelar especial, mais brilhante que qualquer outra. A Guardiã do Caldeirão chamou Serenity, um ser também muito especial, e lhe confiou uma missão importantíssima. A Rainha Serenity, que desconfio ser uma espécie de anjo (ela tem pequenas asas, vistas em algumas cenas) veio de uma outra galáxia e aceitou a missão que lhe foi confiada: vir para o nosso sistema solar e estabelecer um reino místico na Lua, que iria monitorar todo o sistema. Sobretudo, deveria proteger a Terra.

O que havia de tão especial na Terra? Ora, não podemos esquecer o fato de que em nosso planeta haveria a Encarnação do Verbo, ou seja a vinda de Jesus Cristo, o que torna a Terra um mundo especialíssimo.

 

Sailor Moon diante do espírito de sua mãe, a Rainha Serenity: reparem nas asas de anjo da aparição.

 

Como quer que seja, Serenity trouxe um séquito e estabeleceu na Lua o reino místico intitulado o Milênio de Prata. Ela trouxe também aquela semente estelar, que lhe foi entregue pela Guardiã do Caldeirão. Desta semente surgiria a Princesa Serenity – sim, com o mesmo nome da mãe. Aqui, até parece uma concepção virginal, pois a princesa tem mãe sem ter pai. Nunca houve um rei no Milênio de Prata, só a rainha.

Nesse remoto passado a Lua deve ter sido maior, mesmo assim só numa restrita região havia condições para a vida. O Milênio de Prata não era um reino muito extenso, mas o Castelo Lunar tinha seus mistérios. Não sabemos se havia alguma classe sacerdotal, mas a Rainha Serenity era uma guardiã mística. No castelo havia uma Sala de Orações, ou seja uma capela. E Serenity (Serenidade) era a portadora do Sagrado Cristal de Prata, uma arma divina muito poderosa.

Outros planetas eram também habitados. Em Vênus existia uma espécie de satélite artificial, o Castelo de Magellan, que orbitava em torno do planeta. Nele habitava Minako Aino, a Sailor Vênus, até que, convocada pela Rainha Serenity, ela se mudou para a Lua. Também para lá foram as sailors Mercúrio, Marte e Júpiter. Elas foram chamadas para tomar conta da Princesa Serenity. Data dessa época o compromisso das quatro, de dedicarem suas vidas à Princesa da Lua Branca.

Entenda-se que a princesa seria no futuro a Guerreira do Amor e da Justiça, ou seja, Sailor Moon.

Naquele tempo ocorreu porém um fato perturbador. A Guardiã do Caldeirão escolhera Serenity para a missão, certamente por ser uma pessoa altamente confiável, todavia também existia outra rainha poderosa, Neherenia, que ambicionava aquele posto e poder.

Com seu séquito, Neherenia veio à Lua e apareceu no Castelo Lunar durante os festejos pelo nascimento da princesa, como a Malévola na festa de apresentação de Aurora (a “Bela Adormecida”). Neherenia, bela mas assustadora, surge “arrastando uma sombra negra” como diria depois a Sailor Vênus. No filme “Sailor Moon Eternal” (2021) a Sailor Marte chega a dizer: “Ouvi falar em você! Você é a encarnação do mal!”

Neherenia queria tomar parte na administração da Lua e pretendia que as Trevas poderiam se unir à Luz. Algo semelhante às propostas blasfemas de Lúcifer dirigidas a Jesus, que evidentemente as repeliu, conforme narram os Evangelhos. Sabendo que a Luz não pode entrar em pacto com as Trevas, Serenity enfrentou Neherenia e conseguiu selar a inimiga, que com todo o seu reino foi confinada no interior da Lua Negra ou Lua Nova, também chamada a Lua Morta. As quatro sailors, horrorizadas, apagaram o chocante episódio de suas memórias.

Entretanto, Neherenia lançou uma maldição contra o Milênio de Prata da Lua.

Veremos o que aconteceu no decorrer do tempo.

 

Rio de Janeiro, 10 de junho de 2022.

 

 

Neherenia, a Rainha das Trevas, conheceu Sailor Moon quando esta era ainda um bebê, no Milênio de Prata da Lua. No futuro, a Princesa da Lua Branca e a Rainha da Lua Negra seriam adversárias.