Refletindo sobre o fluxo da vida
Estou ali.
Sentado na praia, sentindo o frescor do final de tarde.
Olhando o movimento das ondas.
Ainda sentindo o calor na pele, apesar do sol estar prestes a se pôr.
Ouço o som distante de uma gaivota.
De outros pássaros.
Mas agora eu me concentro no som das ondas.
No som do mar.
E quase que como numa hipnose, eu esqueço tudo.
Na verdade, me abstenho de tudo.
Fato é que não sinto mais nada...
Eu me fundo com o som do mar.
Eu e o mar, seu som, o vai e vem das ondas... agora somos um!
E entro em estado de meditação!
Um estado alterado da minha consciência.
Só escuto duas coisas: o mar e minha respiração!
Me entrego a esse fluxo contínuo e incansável das ondas.
E continuo prestando atenção em ambos.
Me ponho calmo, sereno!
Sem pensar!
Sem julgar!
Sem mentalizar ou raciocinar!
Só observo!
E agora deixo vir pensamentos, sensações, sentimentos dentro de mim.
De forma aleatória, deixo vir.
Não brigo com eles, não racionalizo, só acolho, recebo e observo!
E em seguida, deixo ir!
À medida que não ofereço resistência aos pensamentos, minha mente vai se acalmando mais e mais!
Mais e mais!
Aí eu olho para trás e analiso, tanta gente que foi embora da minha vida.
Gente que me excluiu, cancelou, bloqueou ou simplesmente sumiu!
Isso no mundo virtual!
Pessoas também se afastaram no mundo real!
Pessoas que me chatearam, entristeceram, ou magoaram com suas atitudes.
E vejo também que por outro lado, eu excluí, bloqueei ou somente sumi no mundo virtual.
Ou também me afastei na vida real.
Também houve casos de pessoas que afastei se aproximarem novamente!
E de pessoas que se afastaram e se reaproximaram.
Teve de tudo.
Quanta gente passa na nossa vida!
Já parou para pensar?
Em todas as vizinhanças que moramos...
Em todas as escolas que estudamos...
Em todo clube que frequentamos...
Tanta gente em cursos...
Tanta gente que conversamos uma única vez, como em bancos de ônibus ou metrô, praças, mercados, feiras, shoppings, etc. Numa fila.
Tanta gente foi que nem percebi ou liguei.
Tanta gente que sofri com o afastamento.
Tanta gente que me alegrei com seu afastamento!
Tanta gente que veio e foi...
Veio e foi...
Veio...
E foi!
Como as ondas do mar!
Percebo que assim como não comando o fluxo, o ritmo, a força das ondas, também não comando a vida e as pessoas que estão ou passaram na minha vida.
Pois elas vêm e vão!
As ondas vêm e vão!
Percebo claramente agora o ritmo da vida!
Os seus ciclos!
Seu pulsar...
Compreendo na alma que tudo tem seu tempo, seu ritmo, seu ciclo... e que tudo tem início e fim!
Início e fim!
Onda vai e vem!
Respira e solta!
Sinto claramente a pulsação da vida no meu ser!
Que está integrado ali ao todo!
Não sinto separação!
Não percebo nada em particular.
Nem o mar, areia, eu mesmo... nada!
Minha sensação nessa meditação é de comunhão com o todo.
Como quem olha um quadro e vê o todo!
E me surge novamente na consciência as pessoas que passaram em minha vida!
E ali sentado na areia, embalado com o som das ondas, leve, sereno e em paz... não julgo as pessoas, não as limito, não as quantifico... absolutamente não nutro sentimentos.
Como se houvesse a faculdade ou um botão de desligar sentimentos e emoções.
Desliguei...
E me senti mais leve.
Mais livre!
E me senti definitivamente dono de mim.
Para deixar ir quem quis...
E receber quem vir...
Nesse vai e vem...como nas ondas!
Não importa mais os motivos ou impulsos das idas e vindas...
Só sei que elas vêm e vão...
As pessoas vêm e vão...
Os dias vem e vão...
Os sentimentos vêm e vão...
As ondas vêm e vão!
Só consigo agora sentir ou nutrir algo em mim.
Assim como o sol que igualmente vem e vai... surge em mim lentamente uma sensação que vai crescendo, me iluminando, tomando meu ser, como um sol nascente: gratidão!
Percebo esse sentimento.
Na verdade, percebi que me pus em estado de gratidão!
Porque percebi que hoje sou a soma, o reflexo e o resultado de todas as pessoas que passaram em minha vida!
Todas deram algo!
E também levaram!
Todas aprenderam...e ensinaram!
Vieram e foram!
Sou somente gratidão!
A todas as pessoas que passaram na minha vida:
Eu sinto muito...
Me perdoem...
Eu as amo!
E sou grato!
E ali na praia, em completo estado de mansidão, de paz e harmonia... me sinto ainda pleno!
Em comunhão com algo muito maior que eu possa conceber!
E levemente tocado por uma brisa mais fresca que arrepiou minha pele, paulatinamente fui voltando ao estado subjetivo, percebendo as sensações físicas...
Fui retornando da meditação profunda!
Perdoando...
Soltando...
Desapegando...
Deixando ir...o que tiver que ir!
Receptivo pelo que há de vir!
Pois tudo vem...e vai!
É a dualidade!
O Yin e Yang da vida!
O pulsar...
Nesse ritmo incessante, como o mar...
Que vem...e vai!
Vem e vai!
Vem...
E vai!
Assim é!
Mauricio Franchi
- Veeresh Prem Das -