VÍCIO CRÔNICO IRREVERSÍVEL

Aposto que, ao ver o título, o leitor achou que se trata de mais um incrível estudo sobre drogas ilícitas.

Sinto decepcioná-los, mas não pretendo falar a respeito de viciados em drogas, embora seja um tema que gosto muito de pesquisar para saber das novidades científicas que tem surgido.

Neste meu singelo ensaio, vou registrar minhas inquietações quando me deparo com pessoas acometidas pelo vício crônico irreversível em ideias, princípios radicais, parâmetros mentais autocriados, ou qualquer outro nome que se possa dar para regras que se criam na cabeça e procura de todas as formas impor como uma verdade absoluta. E o fato de ser uma circunstância crônica irreversível, elas ficam totalmente aprisionadas e hipnotizadas por radicalismos e fundamentalismos.

Vou ilustrar a assertiva com um exemplo concreto.

Desde 2018, tenho visto a olho nu, pessoas reais que colocaram na cabeça que o novo Presidente da República era um fenômeno e denominaram-no “mito”. Mas não parou por aí. O fato de haver “Messias” em seu nome, adivinhem?

 E, pasmem, de todos os viciados em ideias radicais que conheço, nenhum é usuário de drogas ilícitas. Deve ter explicações neurocientíficas, mas não é da minha alçada comentar isso. Não vamos criar um dualismo aqui entre usuários e não usuários porque, no meu entender, devemos estar fora de qualquer hábito que causa mal ao corpo ou a alma e, certamente, temos escolhas bem diferentes e mais saudáveis para apreciar nossa curta jornada aqui na terra.

Com os meus mais de sessenta anos de vida, posso afirmar que já vi de quase tudo, mas, ainda não vi um viciado crônico em ideias ficar curado e mudar de opção. Uma doença mental quando atinge esse grau crônico irreversível, no meu leigo entender, acontece quando uma pessoa faz uma escolha tão definitiva, que se apega de tal forma que quando alguém tentar e conseguir tirar ela dessa situação vai condená-la à morte, pois, ela sobrevive disso e não vai saber viver de outra forma.

O apelo que faço aqui é: deixem-nas em paz com suas ideias, você não vai conseguir salvá-las de coisa nenhuma. E, mais, deixa essa pessoa doente pensar que você está sendo salva de algo. Esse é o único jeito de se livrar dela.

Durante todo ano eleitoral podemos ver manifestações claras de pessoas com convicções de ideias confusas onde misturam religião, preconceito e fuga de sua própria realidade. Tivemos um exemplar público em que se apegava em princípios rígidos para justificar todos os seus defeitos de personalidade (misoginia, desrespeito às mulheres, preconceito etc.). Não há aqui uma pretensão política, por isso não me perguntem de quem estou falando.

Eu mesma conheço uma mulher que passou sua vida toda envolvida de tal forma com uma instituição que se autoproclamou “evangélica”. Ela aderiu a seguinte ideia: “Fazer sexo fora do casamento é pecado”. Apegada a este princípio, deixou de trabalhar todos os outros defeitos, justificando-se na lealdade absoluta a esta pequenina norma de conduta. Esse é só um exemplo grosseiro de uma vítima desse vício crônico irreversível. E, mais, essa pessoa, com base nesse seu sacerdócio, acha que adquiriu a salvação e sua missão é salvar outras pessoas. Agora, não me pergunte de que se salvou e quer salvar outros. Não faço a menor ideia, pois não consigo imaginar que se considerar perfeita por um apego normativo tão pequeno, isente qualquer ser humano de defeitos muito maiores.

Além de não ser política, minha intenção aqui está longe de tentar convencer de algo. A verdade, verdadeira mesmo: Isso aqui é só um desabafo. E, olha, recomendo, usar esse mesmo remédio. Estou me sentindo bem melhor agora.