EU PELA CIDADE

São muitos pedaços de mim espalhados pela cidade. Tantas outras vezes eu cultivei toda paciência do mundo para me coletar e me remendar, mas o cansaço me abraçou e meus fragmentos vão ficar onde estão e serão devorados pelo tempo e pelos vermes da existência. Eu lamento por mim, porque só eu era capaz ou só eu tinha interesse de me refazer tantas vezes fossem necessárias, mas minha intenção de me manter inteiro já não me alimenta mais. É trabalhoso e doloroso a labuta de dia após dia se autocolar para ser facilmente quebrado novamente. Nem tenho mais sangue para jorrar, lágrima para chorar ou alento para levantar. Aceito o final de muito bom grado, porque esse jogo de autocura e logo em seguida sair catando pedacinhos pelas praças e vielas me destruiu e soterrou minha esperança que outrora ainda respirava.

É uma lástima, mas me vou.