DUALISMO DA SAUDADE

No peito, há saudade acumulada. Ela passa uns dias fora, mas insiste em voltar quando já há certeza de que a tormenta no coração passou. Eu sei que não sou um páreo para ela, e ela sempre chega com essa mania de doer como aqueles beliscões com a ponta da unha e aponta sempre para a mesma direção, me fazendo sentir de novo e de novo a mesma sensação.

Essa variante tresloucada ainda vai me levar à loucura, Santo Deus. Por que não some logo ou me toma de uma vez? Esse bang-bang, esse pinga-pinga, esse vaivém é chato. Entenda, saudade, que pingos d'água mais me irritam do que enchem a minha banheira e eu já nem tenho mais idade nem paciência para tolerar tais joguinhos.

Inconveniente como ela é, chega sem bater à porta, às vezes, no final de tarde de um domingo; outras, nas manhãs de uma quarta-feira, enquanto a vida ocorre normalmente. Se instala numa música que gruda na cabeça ou numa lembrança boba de um momento aleatório que ainda causa um riso de canto de boca.

Esse dualismo incessante ainda vai implodir meu peito.