Economia não é soma zero

Em todo lugar todo mundo condena o acúmulo de capital como mazela social. É claro que não entendem o funcionamento da economia, considerando-a como um jogo de soma zero, onde um bem possuído por um falta necessariamente a outro.

Considerando o dinheiro como um bem limitado, como seria com qualquer outro objeto comum existente, esta forma de ver aparentemente faz sentido. De fato, há uma conta de todo dinheiro disponível em determinada sociedade a que chamam de base monetária. Ou seja, trata-se da soma de todo dinheiro disponível na economia. Na data de hoje, 13/07/2023, segundo o “neo pai dos burros”, google, a base monetária brasileira está, de acordo com nota para imprensa do Banco Central de 28/06/2023, em R$396,3 bilhões, vindo de uma queda de 0,5% em doze meses. Assim, há menos dinheiro em circulação no Brasil. Só a efeito de curiosidade, isso representa aproximadamente R$ 2 milhões a menos rodando na nossa economia.

A grande questão aqui é a seguinte; para que exista uma soma zero é necessário que um bem seja em número finito, condição que não está presente no dinheiro, sendo que é expediente conhecido, ao menos por qualquer um que esteja minimamente bem informado, que a impressão de dinheiro é uma das principais causas de inflação em qualquer economia, sendo que inflação é justamente a redução do valor do dinheiro.

O valor do dinheiro, por sua vez, não é fixo e sim variável, como todo valor é. O dinheiro, atualmente, é o referente central na economia, permitindo-nos usá-lo como base de comparação entre o valor do tomate, do pão, de uma casa, etc. Assim, o dinheiro está fazendo as vezes do que chamamos de moeda, de forma que dinheiro e moeda são sinônimos. Nem sempre foi assim.

Todos conhecem a expressão moeda de troca. Nos presídios, por exemplo, comumente a moeda de troca, levando em conta que nestes locais não deve haver dinheiro, são os cigarros. Durante a evolução disto que chamamos sociedade, vários materiais já fizeram este papel, como o sal, origem da palavra salário.

Assim, vamos definir os termos:

Valor: atributo subjetivo relativo à quantidade de bens que alguém está disposto a fornecer em troca de outro bem;

Custo: atributo objetivo formado soma dos bens necessários à produção de outros bens;

Preço: quantia arbitrariamente definida para trocas entre diferentes bens.

Moeda: referente universal para definição do valor dos bens;

A definição do que é o dinheiro é mais complicada. Dinheiro já foi moeda mas, atualmente, é apenas número simbólico de uma quantidade virtual de bens. Ou, como definiu o professor Olavo em uma de suas aulas, é uma quantidade definida de bens indefinidos. Porém, como todos os valores são variáveis, o valor do dinheiro também é variável, relativo. Assim, seu valor só pode ser definido levando-se em conta uma rede imensa de relações de preços, custos e disponibilidade.

Todos sabemos que o valor de um copo de água é maior no deserto do que num barco sobre o rio São Francisco. Entre os diversos fatores que afetam a valoração subjetiva dos bens está a própria posse de outros bens. Em outras palavras, alguém que é rico valoriza os objetos de forma diferente de quem é pobre, fazendo com que um rico esteja disposto a pagar mais por um bem que, apesar de desejado, não é essencial. Isto não significa que ele valorize mais ou menos aquele bem, mas apenas que a sua disponibilidade de recursos permite-o valorizar diferentes coisas de diferentes formas; os ricos têm mais opções.

Com relação ao preço de um produto, há sempre que levar-se em conta o valor dele para o comprador e o seu custo de produção. Se o preço for maior que o valor ninguém irá comprá-lo e se o valor for menor que o custo, não vale a pena produzi-lo. Assim, o sonho de todo produtor é encontrar um produto de alto valor e baixo custo, aumentando assim o seu lucro. Este é o motivo pelo qual alguns fabricantes optam por operar no mercado de luxo. A margem entre valor e custo dos seus produtos é bem maior. A dificuldade deles reside no problema de que o número de ricos é menor do que o número de pobres, diminuindo a demanda por seus bens. Produzir uma Ferrari dá menos trabalho que produzir um Fusca, vender a mesma Ferrari dá muito mais trabalho do que vender o mesmo Fusca.

Aqui chegamos ao ponto central. Os ricos que tem mais que 2 neurônios sabem que o comércio entre ricos é melhor do que o comércio entre miseráveis. O rico inteligente quer que todos sejam ricos porque desta forma a sua margem de lucro pode ser maior.

E aqui vem outro fator; a fabricação, ou manufatura, de um bem é um processo que necessita obrigatoriamente gerar um outro bem que tenha mais valor do que o seu simples custo. Ninguém vai empreender em um trabalho se não puder tirar algum bem disto. Se não há bônus no movimento é melhor não executar movimento algum. Assim, fabricar algo não significa necessariamente aumentar a base monetária, mas aumentar a base valorativa.

Num primeiro momento podemos ter a impressão de que o valor das coisas e o valor do dinheiro são opostos, que aumentar o valor das coisas as torna mais caras, aumentando o seu preço e gerando algo semelhante à inflação. Esta impressão está errada. O universo de valor é o mesmo tanto para o dinheiro quanto para os outros bens. Gerar bens mais valiosos diminui o valor de outros bens de menor qualidade. Tomemos como exemplo o Brasil. Os carros atuais, com air-bags, abs, direção hidráulica, ar-condicionado, etc, que são carros mais valiosos, custam, em conversão direta, quase o mesmo que custavam os carros da década de 80, estes que, muitas vezes não tinham nem ar quente. O que possibilitou a vida moderna com os seus confortos foi muito mais o crescimento do valor dos bens do que o aumento do dinheiro. Qualquer pessoa comum hoje possui bens melhores do que os reis da Idade Média não porque tem mais dinheiro, mas porque tem mais bens, ou bens mais valiosos.

Disto podemos tirar três conclusões. Primeiro, vale sempre a pena gerar valor na vida sua e das outras pessoas, ou seja, valorize elas e os bens que elas têm ou podem vir a ter futuramente. Segundo, a economia não é um jogo de soma zero, onde a quantidade de riqueza disponível está limitada, pois o bem nunca é limitado, sempre podemos fazer algo melhor e mais valioso. Terceiro, o ter é mais claro para nós porque é mais fácil contabilizá-lo. Entretanto, o importante é ser porque ser é melhor do que não ser. Ser alguém é, de certa forma, ser importante. No entanto, é importante quem tem ou quem faz o bem? Assim, a melhor forma de ser é gerar valor na vida dos outros. É exatamente isto que significa amar.