HISTÓRIA CULTURAL

A história muitas vezes é contada a partir de seus grandes personagens sejam eles reis, estadistas ou mesmo ditadores que através de suas ações pessoais e intransferíveis mudaram o curso dos acontecimentos. Por vezes, a história pode ser contada também a partir das alterações estruturais do cenário político, econômico ou social. Neste caso, a ação do indivíduo conta menos do que o da coletividade. Numa outra perspectiva podemos pensar a história através de uma abordagem que privilegia a observação dos costumes e do cotidiano das sociedades.

Podemos afirmar, portanto, que há vários modos de olhar para o passado. O próprio conhecimento histórico tem sua história. O modo de olhar e compreender o passado são diversos e esta diversidade é conhecida pelos historiadores como correntes historiográficas ou escolas históricas. São através das escolas históricas que os historiadores utilizam os métodos de como escrever a história. Uma das escolas historiográficas contemporâneas que influenciaram e continuam a influenciar o modo de escrever a história é a “Escola dos Annales” também conhecida como “Nova História” que irá fazer ressurgir a “Nova História Cultural"[1].

A Nova História Cultural é resultado das grandes inovações que a produção historiográfica contemporânea vem passando. Ela tem uma dívida com os fundadores da chamada Escola dos Annales - surgida em França 1929 com Marc Bloch e Lucien Febvre –, que inovaram na pesquisa histórica através do seu conteúdo interdisciplinar. Com a Nova História Cultural a pesquisa histórica procurará relacionar-se com outras áreas das ciências humanas como, por exemplo, a antropologia, a psicologia, a literatura, a linguística a geografia, a economia e a sociologia. O espírito de síntese interdisciplinar é uma das características mais importante da Nova História Cultural.

Outra importante inovação que a Nova História Cultural trará à pesquisa histórica é a atenção ao entendimento de fonte histórica; fontes que ampliam o conhecimento sobre a história do cotidiano, da civilização material, das crenças, em fim, de tudo aquilo que possibilita o processo de formação da cultura, da economia, da sociedade num dado tempo. Nesta perspectiva historiográfica tudo aquilo que a sociedade produz (produção material e imaterial) passa a ser objeto de estudo da história.

A Nova História Cultural tem contribuído para alargar as pesquisas dos historiadores, desfazendo equívocos, criando novos problemas e abrindo caminho ao estudo dos traços mais esquecidos, quase apagados, da vida humana ao longo dos tempos. Esta história que se desdobra em tantas outras histórias: a história do corpo, da doença, da morte, da sexualidade, da infância, da mulher, do amor, do medo, da festa, da leitura, do livro, da crença, da superstição, da fantasia, do castigo, da alimentação, do olhar e de muitos outros campos significantes da nossa cultura.

Utilizando do método da antropologia cultural tanto da teoria quanto da prática, a Nova História Cultural proporciona aos historiadores uma linguagem para a discussão dos significados simbólicos procurando contextualizar no interior de um sistema social. Tal método antropológico, por exemplo, permite ao historiador pensar o corpo como uma construção simbólica.

Os historiadores da cultura devem tratar o corpo não simplesmente como um sistema biológico, mas deveriam tratá-la mediado por sistemas de sinais culturais. Pensar, por exemplo, como determinados grupos sociais dominante procuraram restringir, reprimir, reformar e mutilar o corpo dentro ou fora do seu próprio sistema cultural pode proporcionar aos historiadores grandes reflexões. O corpo dentro de um sistema cultural tem muito a dizer aos historiadores sobre a própria sociedade a qual ele está inserido. Ele carrega as marcas de identidades do tempo passado e presente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BURKER, Peter (Org.). A Escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1992.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

PORTER, Roy. História do Corpo. In: BURKER, Peter (Org.). A Escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1992.

[1]Trata-se de pensar a Nova História Cultural como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo. PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

Wander Caires
Enviado por Wander Caires em 13/07/2023
Reeditado em 13/07/2023
Código do texto: T7836319
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