Uma boa Aparência

Todo mundo se preocupa com a aparência. Evidência disso é a situação saudável das empresas que trabalham com cosméticos, capazes de superar qualquer crise econômica ou recessão. Não há dúvida que uma boa aparência tem grande importância para a vida de cada um. Recorda-se que o filósofo Jean-Paul Sartre foi uma criança muito bonita, mimada por todos. Depois, se torna um criança feia quando decidem cortar seus belos cabelos ondulados para seguir o modelo de corte curto padronizado para o sexo masculino.

A partir daí, segundo o filósofo, ninguém mais quis fotografá-lo, talvez, como brincou, para não queimar o filme. Embora Sartre tenha sempre afirmado que a constatação de sua feiura não lhe causou traumas ou transtornos pessoais, é fato que a partir desse momento, aquela simpatia expontânea que sua beleza lhe trazia - e segundo seus biógrafos lhe trouxe algum narcisismo – despareceria para sempre. Daí por diante passou somente a contar com seu cérebro como modo de afirmação na sociedade, e foi, deve-se dizer, muito bem sucedido nisso.

Tal experiência me lembra que meu pai sempre insistiu que eu usasse cabelo muito curto, como devia na época ser para um homem. E de cabelo curto, muito curto, me achava muito feio. Já de cabelo mais longo me achava com muito boa aparência. Mesmo criança tinha um sentido estético expontâneo. Mais tarde veio a moda do cabelo mais longo, mas meu pai continuou irredutível, e eu continuei feio. Muito mais tarde, quando tive a liberdade de decidir sobre o comprimento do meu cabelo, senti muito a diferença de ter uma boa aparência. Pode ser ilusão, mas as pessoas tinham sempre uma aproximação mais simpática, evidentemente as meninas, e isso durou muitos anos.

Depois segue uma fase de transição que se demora a perceber. Foi a partir do momento em que fui ficando mais velho, com rugas e perdendo os cabelos, até ficar quase careca. Então, a situação mudou. Passei gradativamente a sentir que as pessoas não me tratavam mais como antes, e as mulheres nem olhavam mais para mim. Sem a capacidade intelectual de Sartre a vida ficou mais difícil, mas talvez mais autêntica. Desprovido da aparência atrativa, tive de sobreviver com o que o que tinha sobrado de mim.

Mas é preciso acrescentar que a boa aparência só serve para facilitar primeiros contatos. Depois, é decerto preciso mostrar muitas outras qualidades para mantê-los.