O Governante Filósofo

Platão, na sua obra “A República”, faz toda uma defesa de que somente os filósofos são capazes de atingir o que se mantém sempre do mesmo modo, ou seja, de modo todo, que vai ter uma visão, um conhecimento e a devida sabedoria para poderem bem governar a cidade.

Ora, aqueles que não são filósofos, com certeza, não são capazes de ter uma visão do todo para poderem bem governar uma cidade, logo, não poderem ou não terem condições de ser chefe de uma cidade.

Dutra e Assman (2008) esboçam a respeito dos filósofos e não filósofos, pois para bem governar, o governante não pode ser político ou fazer política baseado na doxa (opinião), pois tal situação poderia ser algo que uma cidade fosse governada por sofistas.

Um bom governante deve ser um filósofo, ou seja, deve ser amigo da sabedoria e não amigo da opinião (doxa). Quem se baseia numa doxa, é um filodoxos, ou seja, baseia-se em opiniões, e caso fosse governante, governaria com base em opiniões. E se for um filósofo (amigo da sabedoria), vai governar baseado na sabedoria, ou seja, com devido conhecimento aprofundado, refletido, crítico, baseado no todo, ou seja, vai governar sabiamente, logo, vai ser um bom governante.

No sexto livro de “A República”, Platão aborda de que o filósofo vai ter uma visão do todo sobre a sociedade e a cidade, e por isso, vai tal filósofo governante promulgar e fazer leis que sejam justas, boas e belas. E por que os filósofos fariam tais leis? Porque os filósofos odeiam a mentira e amam a sabedoria como substância (ousía), pois são motivados e capazes de realizar a justiça na prática.

E para demonstrar que sua ideia esteja certa, Platão faz uma analogia a respeito do navio. O capitão do navio era muito forte e alto, bastante míope e surdo, que ignora tudo, bem como ignora a arte e a prática da navegação. Diante disso, os marinheiros brigam entre si para ver quem o capitão entregará o comando do navio para navega-lo. E assim, entre os marinheiros, entre eles, a maioria dos marinheiros não querem deixar o comando do navio para o marinheiro que aprendeu a navegar corretamente, pois acreditam que se aprende na prática navegar, e não que fica só no conhecimento da teoria, e que também, não admitem que o mais preparado assuma o comando. E para isso, recorrem à violência para não deixar o mais preparado e como navegar o navio.

Da mesma forma na direção de um navio, assim é na cidade. Se o mais preparado, o mais sábio não conduzir a cidade, porque tem conhecimento sobre o todo, e se for alguém que não é sábio, ou seja, não for uma pessoa preparada para conduzir a cidade, a tendência é de a cidade não ter boas leis, não ser justa e nem eficiente, no sentido de ser boa e bela. Por isso que é necessário que o governante seja sábio, ou seja, filósofo, que ame o saber e se prepare para governar devidamente a cidade.

Assim, conforme Platão, como o navio, o marinheiro seja um piloto, que saiba cumprir a sua missão, de navegar o barco em prol da coletividade, porque observa o céu, os astros e as estações, porque é alguém que olha além do próprio navio, por isso que ele é o mais apto para conduzir o navio. Assim, deve ser o governante, que deve ser um sábio ou filósofo, no sentido de que está preparado, tem a visão do todo e tem uma visão além para o bem conduzir da cidade.

No Livro VII de “A República”, Platão defende a tese do filósofo rei, que é aquele governante bom e sábio, uma vez que tem o dever de ser um bom governante, pois fará de tudo pelo bem da cidade, porque vai ser aquele governante que vai ver a luz, ou seja, enxergar a verdade sobre a condução da gestão da cidade. Pelo mito da caverna, o filósofo é aquele que vê a luz e vai poder conduzir quem não a enxerga. O governante filósofo vai poder mostrar a luz, a verdade, de forma pedagógica, pois fará assim pelo bem comum. O caminho para a verdade é bem superior em relação ao caminho da opinião.

Enfim, a idealização de Platão para o governante ser um filósofo para o bem conduzir da cidade, é uma forma de observar que todo governante para o bem conduzir da cidade, tenha uma visão do todo e que vai conduzir pela coletividade e pelo bem comum.

REFERÊNCIAS

ASSMAN, Selvino José . DUTRA, Delamar J. V. Filosofia Política I. Florianópolis: Filosofia/EaD/UFSC, 2008.

PLATÃO. A República. São Paulo: Martín Claret, 1996

Lúcio Rangel Ortiz
Enviado por Lúcio Rangel Ortiz em 27/12/2023
Código do texto: T7963111
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