Um Pequeno Ensaio Sobre Luzes e Barcos

São seis da tarde, é quarta-feira, estou em frente ao mar desfrutando as minuciosidades de um dia comum, enquanto a vida com seus sabores escorre pelas ruas, meu olhar atravessa a imensidão perfurando o que resta de luz até tocar sutilmente o que não se vê... É notável o quanto de mim está preso nesse carrossel atemporal de pensamentos, sentimentos e ilusões, não importa qual seja a estação, o dia ou a semana, meu espírito sempre retornar ao lugar feito de tempo e canção, um sítio único, indefinido, sagrado, uma lacuna entre a minha saudade, o oceano e o sorriso dela... As ondas vão e as ondas vêm, então surge-me uma reflexão tão magnética quanto o balanço das águas: como o mundo pôde perder uma de suas maravilhas e ainda assim clamar para si algum sentido? "A vida é um mistério!" Seria uma óbvia resposta a qualquer possibilidade pretensiosa de se atribuir sentido a vida, no entanto, para isso ainda não tenho respostas… Contudo, tenho o brilho divino das luzes da cidade refletidas no mar, valsejando com os barcos como se fosse a última dança do dia, tenho um papel, uma caneta e o dorso da noite, tenho uma imensidão de palavras a serem inventadas, um dialeto secreto que se aninha no vento, sobrevoa as ruas, adormece em meu peito e deságua em teu nome, e isso por ora me basta...