ECOS DA HISTÓRIA DOS MEUS ANTEPASSADOS

ECOS DA HISTÓRIA DOS MEUS ANTEPASSADOS

Por: Cristina Nobrega

O eco das histórias dos meus antepassados ressoa em minha mente, tantas foram às vezes em que as ouvi, e não sei dizer quanto. Trago na memória as trajetórias de suas vidas, de seus sentimentos, emoções, dores, lutas, esperanças, desesperanças, e por fim, o deixar de ser para voar as alturas, rumo a eternidade, com Deus ou sem Ele.

Cunhei tantas histórias, e hoje vejo-me a repeti-las para meus filhos, minhas irmãs, quando têm paciência para ouvi-las. Há algumas que são fragmentos de existência, mas de um significado que para mim cheira a referência. E são, pois ficaram registrados na minha memória genética.

Ouvi isto a primeira vez numa consulta. Achei interessante as versões sobre as possibilidades e impossibilidades da “memória genética”, incluindo análise do que pode ser transmitido pelo gene. Para mim, inconclusiva, pois não tenho conhecimento na área para descrever.

Dentre as histórias contadas por minha trisavó para minha bisavó, para a minha avó, e finalmente para mim, por minha mãe. Lembro de um domingo frio de julho de 1975, estávamos sentadas na sala, eu, minhas irmãs e minha mãe, ouvindo nossa avó contar suas memórias e suas lutas. A tarde foi caindo e sala foi ficando na penumbra. Ouvi essas histórias sentia-me transportada para aqueles momentos, imaginando seus rostos, suas vestimentas e suas ações.

Ah, as memórias ainda mais infantis são muitas. E, quando a Tia Judite ia passar o dia lá em casa, e dizia: Cristina, tenho uma nova história para contar. Quando lembro, ouço sua voz forte. Sentávamos no terraço e ouvíamos sua história. Sim, eu e minha irmã Sandra. Sempre fomos inseparáveis.

As histórias de vida da minha mãe em família, umas são tristes, cheias de muito trabalho, de vida difícil por causa de doenças e da pobreza. Mas, uma coisa ela dizia: “menina, as coisas eram difíceis, mas em mim havia esperança em dias melhores. Eu tinha esperança”. Ela era grata a Deus na velhice por ter tido um bom marido, filhos saudáveis e que estavam sempre ao seu redor, e dizia que não podia reclamar da vida, pois quando olhava para o passado era grata a Deus. Quanto ao meu pai, bem, ele não era de contar histórias, e nem seus irmãos e nem sua mãe. O que hoje sei, cunhei nos livros de história.

Em 2007 resolvi escrever muitas dessas histórias, pois aos poucos Deus foi colhendo alguns para si, e, portanto, escrever antes que as últimas duas matriarcas vivas falecessem. Algumas precisavam de visita em loco para saber de sua veracidade. E, assim, empreendi junto com meu marido, Eudes, viagens a locais cuja sensação era de que pertencia aquele lugar. Senti uma emoção muito forte quando entrei na cidade do Teixeira e em Pombal na Paraíba. Sabe aquela sensação que o autor da letra da música escreveu, “andei por onde Cristo andou há muito tempo atrás...” Foi assim que me senti. Andei por onde meus antepassados andaram há muito tempo atrás. Tentei capturar na memória os lugares por onde andei. Entrei na igreja onde eles casaram, batizaram seus filhos. Vi a Santa Maria Madalena que o trisavô Jose Antônio de Castro doou a igreja para pagar uma promessa. Peguei no tijolo da casa onde o poeta Leandro Gomes de Barros viveu com seus pais e irmãos até que seu pai falecera. Cunhei muitos materiais. Garimpei documentos, e ainda continuo até hoje, após 17 anos de pesquisa de campo. Mas, visitei outras cidades como Santa Luzia, Souza, Catolé do Rocha.

Consegui descobrir toda a família de Leandro Gomes de Barros bem como os ancestrais Xavier de Farias e os Gomes de Barros, José Soares Brandão como descendente dos de Carvalho Soares Brandão, os Paula Mendes. Descobrir os descendentes de Jose Antônio de Castro seus filhos e seus descendentes, da família Bernardo de Oliveira, dos de Carvalho Paes de Andrade, os Alves da Guarda, incluindo o testamento do meu trisavô, João hermínio Alves da Guarda. Porém, não consegui até agora descobrir os ancestrais de Jose Antônio de Castro e nem João Martins Sobral, além de muitos outros. O mais importante foi saber que seus registros estão nos anais dos livros de História.

Esbarrei num empecilho. Não consegui estabelecer uma ligação do sobrenome Nóbrega adotado pelo meu bisavô, Daniel Gomes da Nóbrega, cujos registros aparecem como Gomes de Barros Lima, Gomes do Nascimento. Daniel registrou-se na certidão de nascimentos dos filhos que só veio a registrar em 1911, com o nome de Daniel Gomes de Barros Nóbrega. Já Leandro mudou seu sobrenome para Gomes de Barros Lima. Mas, na certidão de nascimento de uma filha, Cândida Adelaide, sua irmã, registrou o nome do seu pai como Jose Gomes do Nascimento, e Adelaide Gomes do Nascimento. Enquanto em outros registros aparecem Adelaide Xavier de Farias.

Continuo pesquisado em livros, registros paróquias nas igrejas, e cartoriais indo aos cartórios mais distantes, na Igreja dos Mórmons no Recife, e na Fundação Joaquim Nabuco. E, por fim, em sites como www.familysearch.org, hoje digitalizados, quando antes tinha de ler em microfilmes. Além de ter entrado em contato com genealogistas os mais diversos. Não direi seus nomes para não cometer o erro de esquecer alguém. Participei como pesquisadora da biografia de Leandro Gomes de Barros, cujo autor, Arievaldo Vianna, poetar, escritor e cordelista faleceu de Covid. Uma perda irreparável. Conheci cordelistas, poetas e escritores de renome da literatura de cordel, professores em História. Uma experiencia impar na minha vida como pesquisadora, e continuo a pesquisar e escrever. Meus registros podem ser pesquisados no site www.myheritage.com.br/cristinanóbrega onde há uma árvore genealógica com registros de nascimento, batismo, casamento e óbito de aproximadamente 1800 pessoas cadastradas.

Há dois anos fiz um exame de DNA pelo Genera.com, e descobri minha ascendência, com os seguintes dados: Europa-82% (Iberia 48%, Europa Ocidental 11%-Alemanha, França e Países Baixos, Sardenha 6%, Judeus Ashkenazi 5%, Fenoscandia 4%, Itália 3%, Balcãs 3%, Basco 3%, judeus sefarditas, 3%), Oriente Médio e Magrebe 8% (Magrebe 4%, Arábia e Egito 4%), África 7% (Mande 4%, Costa da Mina 3%) América 3% (Patagônia).

Concluo dizendo que as histórias anotadas e pesquisadas posteriormente têm importância. Porém, essas histórias por maiores e melhores ou ao contrário, fazem parte da minha vida. Uma história para além da minha história de vida, que são fragmentos de memória. E, estou construindo uma história de vida no meu tempo. Talvez não tenha relevância nenhuma para muitos, mas estas memórias ficarão para os meus descendentes. Assim espero.

Recife, 22 de Maio de 2024.