Escolas cegas

Edson Gonçalves Ferreira

Em Divinópolis, houve vestibular para o curso de Medicina do campus da Universidade de São João del Rey e nenhum aluno de nossos colégios passou. Fiquei perplexo, embora não tenha dado aula em curso de Ensino Fundamental e Ensino Médio na última década. Recordo-me, contudo, de que os "ismos" que invadiram a nossa escola colaboram para um certo analfabetismo que existe.

A maioria dos colégios não cobra leitura de livros, com a elaboração da tradicional ficha que, embora muitos educadores possam achar ultrapassada, é uma forma de exigir que o aluno leia, interprete e escreva a respeito do que leu. Esse negócio de ultrapassado é lenga-lenga para muita gente não trabalhar.

Lembro-me de que, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, eu dava mais de 36 aulas/semana, cobrava leitura e fichas de livros e, portanto, era uma luta corrigir tudo isso. Eu ficava louco, porque ainda fazia a compáração de ficha por ficha, verificando se não havia cópia. Uma vez, numa sala só, encontrei 45 fichas iguaizinhas e chamei a orientadora pedagógica e dei zero para todo mundo. Houve choro e ranger de dentes, mas valeu. Nenhum aluno ficou com raiva de mim e desenvolveram-se.

Durante as últimas décadas, muitos professores aboliram o ensino da gramática, alegando que ela amarra o aluno e impede que ele desenvolva seu espírito criativo. Uma bobagem de todo tamanho. A gramática é um dos instrumentos vitais para se ter um certo domínio da norma culta e a leitura, a interpretação, a redação também são outros instrumentos.

Sinceramente, percebo que muitos professores não ensinam a gramática, porque também não sabem gramática, porque não têm domínio de didática e, assim, acreditam que aula de gramática precisa ser chata quando, na verdade, podemos fazer aulas altamente lúdicas, sedutoras até.

O ponto crucial, contudo, do Ensino no Brasil é que temos uma escola excludente e não includente, tanto para o professor quanto para o aluno. O governo paga um salário tão indigno que o professor finge que recebe, uma vez que não consegue sobreviver com esse salário e, do outro lado, o aluno vem de uma família que não tem condições financeiras ou que não quer cobrar nada dele e, assim, deixa-o entregue ao professor que, sozinho, nada pode fazer.

O problema é tão grande que seria preciso um tratado sociológico para entender o caos da Educação no Brasil, mas precisamos nos lembrar de Gnerre quando diz: "Que a não aquisição da Norma Culta constitui o arame farpado que impede a ascenção social".

Perdão, por não escrever a frase direitinho como é, mas escrevo esse

trabalho correndo, indignado com o descaso para com a Educação do nosso Governo que acha que tudo se resolve com bolsa-escola e outros paliativos!

Divinópolis, 22.01.08

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 22/01/2008
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