Os não-seres

Os seres humanos costumam procurar bons exemplos para seguir nesta vida. É, afinal de contas, confortador deveras sentir-se dignamente fulcrado. O que precisa ser ressaltante aos olhos humanos é que, muito mais corriqueiramente, encontrar-se-á gente que pouco vale. Muito viável, pois, é não desprezar as pessoas irrelevantes. Elas são, diversamente do que aparentam, de grande relevância.

Se os bons exemplos nos faltam e os maus, infelizmente, infestam-nos os arredores, não podemos deles não fazer uso. O pífio deve ser o modelo daquilo de que nós jamais deveremos nos aproximar. Por meio da mediocridade encontrada nos maculados, cresce-se muito. De grande valia é encontrarmos nossos defeitos nos outros: enxergamo-nos por um ótica bem insuportável; por uma ótica que, rapidamente, faz-nos tomar nojo de nós próprios, e aprendermos. E, mormente, aprendermos.

De igual maneira, é válido enxergar defeitos que não ostentamos na carcaça alheia: faz-nos procurar jamais os possuir. O agudo aos comportamentos humanos tende a comportar um fluxo de recebimento de aprendizado distinto: o tempo inteiro, e cada vez mais aceleradamente, sabe o que precisa assimilar e o que precisa rejeitar e, destarte, inclina-se a se tornar um ser humano grandioso.

Alcançar esta mensagem traz grandiosidade simplesmente porque, verificado que se aprende a colher de solo soante improdutivo; a extrair de águas aparentemente sem vida; a encontrar brilho no ermitão, ganha-se enorme (e merecida) vantagem ante os demais. Fazê-lo é amadurecer duplamente; ostentar uma maturidade mais comum em pessoas com o dobro da idade que possuímos. É ser bom ao dobro, por distinta celeridade.

Vale observar que, quanto maior a mediocridade, mais há o que se assimilar: quanto mais coisa ruim for retida, de mais coisa se deve buscar distância. E tal assimilação dar-se-á de forma radical: ao enxergar um defeito alheio, deve-se arraigar como um princípio não carregá-lo para si, jamais. Destarte, o crescimento será inevitável.

Conviver com tanta gente indigna e, ao mesmo tempo, não querer cessar a prosperidade é aproveitar o bom que existe em toda ela: o ensinamento por distanciar-se do que, como ela, é indigno. Limitar-se às pessoas-espelho é pequeno, porque as mesmas existem em quantidade excessivamente minguada. E não se pode perder tempo. Portanto, liguemo-nos nos não-seres.

Marconi Lustosa
Enviado por Marconi Lustosa em 23/01/2008
Reeditado em 22/05/2009
Código do texto: T829098
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