Guia prático de exorcismo machista dos 04 aos 16 anos

CAPÍTULO I - Dos 04 aos 16 anos

Cada ano de nossas vidas é como se fossem degraus, pois bem, acredito que paixões e exorcismos também sigam essa analogia.

Primeira paixão, ah que coisa mais linda, geralmente é quando começamos a ir pro Jardim ou passear em algum parquinho perto de casa no qual tem meninos da mesma idade que a nossa e aquela insistente frase que teima sair da boca dos benditos adultos:

"- Dá uma beijinho nela, olha que bonitinha, vai filhinho."- GRRRRRR

Se continuamos a encontrar com esse menino lindo, eis nossa primeira paixão, ainda que inconsciente e sem malícia.

Nessa fase o exorcismo é brando, é, pensando bem a frase feita que diz " quanto maior se é, maior o tombo que se leva", até que passa a fazer sentido. Lágrimas de crianças e um sofrer e pesar passageiro, visto que na infância temos tantas outras coisinhas para nos ocupar e não nos preocupar que logo esquecemos o menino do beijinho doce e o trocamos por uma boneca linda que fala "mamãe".

O tempo continua passando e já estamos no colégio, os meninos não usam mais conguinha e shortinhos vermelhos, que os faziam parecer com duendes de Papai Noel, já usam calças jeans e camisetas e usam perfumes mais másculos, nada de colônia infantil com botinho desenhado no vidro.

Os hormônios tem a produção aumentada, espinhas aparecem no rosto, a dúvida - para nós mulheres- sempre será se surgem pelo excesso da ingestão dos chocolates ou se... Hehehe, vocês me entendem, falam que quando os meninos fazem... Aquilo... Oras, descascam o palhaço sozinhos, é isso mesmo, "maria maricota, com a direita e com a canhota".

Bem, o fato é que nesse período de suas vidas - e das nossas - começam a aprender o viver, amar, sonhar e enganar. Enganam-se a sí mesmos e pegam tanto gosto pela coisa que acabam nos enganando também.

É aí que o caldo começa a engrossar.

Começam as descobertas mútuas, os toques, as palavras, aquele amor louco e prazeroso, tudo lindo até que um belo dia...

Como um sopro de dragão, quente e impiedoso o amor dele acaba, a veneração vai pro esgoto, não atende mais ao telefone, a mãe dele - a tia que nos servia almoço, sim, todas as mães de namorados nessa fase, curiosamente são nossas tias- falam que ele saiu pra jogar futebol ou foi pro clube nadar um pouco.

Enquanto isso, nossas lágrimas jorram pra fronha do travesseiro e das almofadas na sala.

O exorcismo utilizado nessa fase é aquele que nos faz sentirmos vontade de irmos pra uma balada, parece piada, mas nessa fase a balada é matinê de domingo, daquelas que começam as 15:00 e o pai vai buscar as 22:00 na porta e ai de nos atrasarmos um minuto sequer... Dançamos, literalmente, porque na semana seguinte, como castigo, nada de danceteria na domingueira.

Mas enfim, fazemos questão de irmos ao exato lugar que ele costuma ir com os amiguinhos - tão cheios de espinhas quanto ele - começamos a dançar e aquele gato que sempre nos paquerava enquanto estávamos enroladas dando o maior mole, é essa a hora, dançar junto, ir atrás daquela pilastra, trocar telefone, tudo isso de forma que "ele" ou os "amiguinhos" vejam, nem que seja pra nem rolar nada e depois em meia volta correr pro banheiro chorar um pouco, mas tem que voltar no salto, com sorriso no rosto, nessa hora vale até treinar no espelho enquanto estiver no banheiro.

Ah, o olhar de desagrado do cara é evidente, o ego abalado, o pensamento que teima em martelar a cabeça "mas já com outro? e dizia que me amava e ainda ligou a semana todinha lá em casa", bem feito.

Nessa época temos forças, nos amamos, não entendo o que acontece com o passar dos anos com o nosso amor próprio, ao invés de sairmos, ficamos curtindo fossa trancada no quarto tomando sorvete e vendo filme antigo no Corujão.

SP 09/12/2005

Mas isso já é história pra outro capítulo.

HM Estork CCoelho
Enviado por HM Estork CCoelho em 09/12/2005
Reeditado em 14/12/2005
Código do texto: T83342