Clarice Lispector

“ De manhã cedo era sempre a mesma coisa renovada: acordar. O que era vagaroso, desdobrado, vasto. Vastamente ela abria os olhos.

Tinha quinze anos e não era bonita. Mas por dentro da magreza, a vastidão quase majestosa em que se movia como dentro de uma meditação. E dentro da nebulosidade algo precioso. Que não se espreguiçava não se comprometia não se contaminava. Que era intenso como uma jóia. Ela.”

Trecho de Clarice Lispector.

Na ausência do enredo factual, ou a falta de ação externa em hipóteses alguma desvaloriza a obra de Clarice Lispector. Com as melhores nuances da alma poética, ela borda o fluxo da consciência, os interiores dos sentimentos refletidos nas faces da condição humana. E fragmentar um enredo é guiar-se pelo tempo psicológico, de personagens mergulhados no absurdo.

Clarice soube não somente sondar os mais complexos mecanismos psicológicos, mas também vestir os estados mentais no abismo do inconsciente. Soube proporcionar ao leitor os olhos da liberdade e embriaga-lo de *epifania.

E nos deixou uma lição que deve ser aderida em todos os cantos da Terra.

(...) Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e ás vezes receber amor em troca. Clarice Lispector

Jane Krist

• epifania.: vocábulo de cunho religioso proposto por James Joyce. É uma manifestação súbita onde uma experiência que, a princípio é simples e rotineira, acaba por mostrar a força de uma inusitada revelação.