LIVRE-ARBÍTRIO X PREDESTINAÇÃO

Esta é uma reflexão sobre uma grande dúvida minha.

Será que se pode culpar uma pessoa, por exemplo, por não ter a fé exigida por Deus? Ou por suas ações e sua personalidade?

Uma pessoa drogada provavelmente perde capacidades inatas, como a busca por um ser superior e a distinção entre o certo e o errado. Essas que são, na verdade, as características que nos diferem dos outros animais. Se essa pessoa nunca tivesse visto droga, certamente não haveria com o que se drogar e viciar. Assim, sua razão e fé poderiam ser usados da maneira como deveriam.

Acidentes e oportunidades são distintos e únicos. Eles podem, tranquilamente, alterar a personalidade de um indivíduo. Além de que a criação dos pais tem grande influência, entre outros fatores relacionados à infância, cuja importância é evidenciada por toda a vida.

Eu, por exemplo, estou escrevendo este texto segundo minha vontade e livre-arbítrio, sim. Porém talvez não estivesse vivo agora se eu e outras pessoas tivéssemos feito escolhas diferentes, ou talvez não houvesse pensado sobre isto se meus pais tivessem me criado de outro modo, ou talvez as idéias e palavras não fossem as mesmas se não ouvisse e lesse o que ouvi e li de fora, ou simplesmente não estivesse com paciência para escrever e refletir sobre isso se algo tivesse me deixado de mau-humor recentemente.

Como é visto na Biologia, fenótipo (qualquer característica percebida) = meio ambiente + genótipo. Se o critério ambiental é muito abrangente para se fazer um julgamento, qual seria o critério então? Genético? Aí seria muito pior, pois é menor ainda a culpa do indivíduo, que nem pediu para nascer, muito menos foi resultado de uma escolha justa ou, pelo menos, não-aleatória.

Não dá para burlar o tempo, é verdade. Então não é muito conveniente querer levantar hipóteses sobre os verdadeiros culpados na moldagem da situação atual do indivíduo, que é apenas resultado do passado.

Predestinação, irrevogabilidade do destino... o que se pode dizer sobre isso? É verdade que tudo que não possui consciência ou escolha está sujeito a formar caminhos e efeitos calculáveis, determinados ou certeiros. Por outro lado, há, sim, o livre-arbítrio em boa parte dos seres vivos, muito mais nos humanos. Porém até que ponto o “livre-arbítrio” é independente de todo o resto que rodeia o indivíduo, incluindo as situações que geralmente são humanamente imprevisíveis, além das ações sempre duvidosas que dependem do livre-arbítrio de todos os seres capazes de usá-lo?

Sem falar que o livre-arbítrio é capaz de alterar os elementos naturais sem livre-arbítrio. Estes que podem refletir, facilmente, mudando e moldando indivíduos com livre-arbítrio, pelo simples fato de exibirem um meio diferente ao que estariam expostos. Assim segue a relação entre os elementos, que estão muito mais interligados do que imaginamos, tendo em vista que estão constantemente reagindo entre si, fugindo de nossa capacidade de assimilação. Para entender melhor isso, basta pensar nas leis da física, da química e nas capacidades sensoriais dos seres vivos, que são intermediárias entre causas e conseqüências da maioria das situações.

Não acredito que um simples e humilde indivíduo seja responsável por tudo que rege sua razão e espírito. O universo possui muita liberdade, mas os elementos interagem bastante e dependem muito entre si. Assim, um julgamento individual e superficial seria totalmente equivocado ou, pelo menos, injusto. Certamente tal tema foge de nossa compreensão. Afirmações sobre culpa, presentes e punições relacionadas a uma divindade são incertas e, provavelmente, cometem erros.

“Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus.” (1 Coríntios 6:9-11)

Cláudio Theron
Enviado por Cláudio Theron em 07/02/2008
Reeditado em 19/02/2008
Código do texto: T849311
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.