Ensaio mental.

É dia, nublado porém, o choque térmico entre meu corpo e o ambiente faz minha letra trêmula vacilar. Por dentro sinto o afago cardíaco acelerado, a mente fervilhante querendo exprimir algo: música, prosa, pormenores estéticos, absorver e abstrair, prolongar o alcance cerebral, dançar inconscientemente um lento Gilmour solo.

Sapatear?

O cerne prolongado, dizendo tons e andamentos, assobiando chopin, chutando latas ambidestramente, é simbiose, sincronia, sintonia.

Quando o dia é cinzento e a música instrumental, a arquitetura máquina de morar com pintura abstrata, o olhar distancia, apesar de míope.

O horizonte infinito é tocado, sentido e compreendido: epifania.

E você, Lispector, que pede o instante, o agora, o intenso, outrora enjôa o passado, rememora o futuro em tempo real, iminente, presente.

Eu, pronome primeiro torto, invejo e almejo aproveitar a noite, Kadjamente: escuridão, lua branca, infinita, tinge meus olhos de sangue, braços da noite maldita.

Vivida sem frigidez, o frigir dos ovos foi fricção, ardente. Apimentei a ficção, que emancipou-se, agora fixa entranha a dentro o intrínseco, o meme genético.

O gene fétido tem nome boemia.

Racional dia, claro e quente sol foi faz tempo. Nato, renato ou non nato, talento urge para prosperar na penumbra. A noite esconde escombros, criaturas, alucinações e profecias.

Amanhecer reluz fraquezas, ressacas morais, enxaquecas alcólicas por pecados capitais, interiores ao instinto.

O sol, bestialmente, esclarece.

Nossa cidade é tão pequena e tão ingênua, Gessinger, a concentração feminina é privilegiada, abre um leque de raio infinito. Aqui as esculturas são móveis, manequins charmosos hábeis ao afável em calor de matar.

Miragem?

Viagem?

Alucina, mente, indisciplina e prova o cerne belo da beladona a mirar. Atira, sua frio, goza, jorra vida, acelera e diminui. Anda, lenta, mas não pára.

Por fim, morre, desaba, tira o peso dos ombros e alivia. Acopla, pós-cópula, o corpo complementar.

Dorme, sonha, mas acorda.

Começa o dia, levanta e respira, inspira e toca.

Sente.

renato barros
Enviado por renato barros em 18/02/2008
Reeditado em 14/10/2008
Código do texto: T864947
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