O Físico

O FÍSICO

Armstrong

Ele já estava com mais de setenta anos, aposentado, e seu modo de viver não lhe agradava. Passava os dias recordando os melhores momentos de sua gloriosa trajetória de Físico Nuclear. Lembrava os primeiros anos de sua vida, recheados de muita dificuldade; os tempos divertidos do colégio; os primeiros contatos com a ciência na universidade; seu curso de mestrado; o doutorado fora do país, cuja tese defendera há mais de trinta anos, e o pós-doutorado, quando já estava quase para se aposentar. Tinha tido uma vida acadêmica completa, mas faltava-lhe alguma coisa. Sabia que faltava. Sabia que ainda poderia ajudar.

Quando foi convidado para trabalhar em um hospital de câncer, para ajudar na manipulação dos equipamentos que utilizam produtos radioativos, chegou a pensar que não era isso o que queria, mas logo viu que ali poderia estar uma grande oportunidade de, mais uma vez, mostrar seus conhecimentos sobre o assunto que mais dominava. Os primeiros seis meses de trabalho lhe mostraram que ele estava completamente errado. Sentia-se novamente inútil, apesar da importância do seu trabalho para aquela instituição. Um dia, porém, como cientista que sempre foi, descobriu uma nova estrada por onde poderia caminhar.

Estava acompanhando uma equipe médica que visitava alguns pacientes terminais quando seus olhos se fixaram num leito onde gemia, de forma quase inaudível, um jovem rapaz vítima dessa terrível degeneração. Sabia que ali estava uma pessoa que talvez não resistisse mais que três dias. Já tinha visto vários casos semelhantes. Então resolveu ajudar. Decidiu que, no outro dia, viria conversar com aquele paciente.

Os primeiros momentos foram de muita tensão, muita dor. Segurava e apertava a mão do rapaz enquanto ele, com a voz fraca, lamentava seu estado de saúde. Então, após algumas palavras encorajadoras, convidou-o a passear pelos jardins do hospital. Chamou uma enfermeira e juntos deram-lhe um banho, apararam-lhe a barba, vestiram-lhe uma vistosa roupa e encheram-lhe de esperança. Os passos tímidos daquele rapaz pareciam de uma pessoa que estava novamente aprendendo a andar. Há muitos meses que ele não andava e sorria feliz. Durante o passeio pelos jardins pode novamente ver e sentir o sol, a beleza das plantas, o cheiro das flores e a força magnífica que emana das pessoas que sorriam ao lhe ver reagindo. Na volta para o quarto, dormiu como há muito não dormia, como um sono de bebê. Nos dias que se seguiram, o passeio pelos jardins era esperado com ansiedade, e a cada novo dia se sentia mais disposto. Para surpresa de todos, em três meses, a doença tinha regredido. Alguma forma de energia, desconhecida por aquele físico, tinha sido captada por aquele rapaz. E, mais algum tempo depois, ele estava completamente curado.

Antes mesmo dessa cura ter sido completada, outros pacientes começaram tratamento idêntico. O remédio era o mesmo: abraços fortes, apertos de mão, passeios pelos jardins, passeios pela cidade, amor na sua mais completa tradução. Novas curas aconteceram, e o ânimo tomou conta daquele velho cientista, que agora contava com a ajuda dos, antes incrédulos, médicos do próprio hospital. Decidiu então que a sociedade precisava saber disso, e, voltou novamente ao mundo das palestras, dos congressos etc. Voltava com uma nova mensagem, com uma nova visão da Física, uma nova visão do mundo, um novo paradigma.

No entanto, onde quer que proferisse uma palestra sobre sua descoberta, as pessoas, principalmente seus próprios colegas físicos, mostravam-se totalmente descrentes, mesmo quando liam os relatórios feitos sobre as curas presenciadas por aquele físico. Mas não se importava. Estava se sentindo realizado. Estava fazendo aquilo que Deus mais espera que as pessoas façam. Tinha a consciência de que, algum dia, os homens aprenderiam a se dar as mãos e a se abraçar. Aprenderiam a medir a energia que existe nesses gestos simples e, principalmente, como passá-la para alguém que precise mais do que nós.