A Cidade Penitenciária

A Cidade Penitenciária

Armstrong

Quando a sobrevivência do homem é ameaçada pela presença de um animal perigoso, difícil de ser adestrado, restam-nos três soluções para o problema: ou matamos o animal, dizendo não para o problema, ou o enjaulamos, deixando-o mais perigoso, ou o soltamos em seu habitat, onde poderá cumprir o papel reservado a sua espécie. Temos uma situação um tanto semelhante quando julgamos que uma pessoa é uma ameaça ao bem-estar de todos: como falhamos no item educação, nos restarão as mesmas três soluções. Neste caso, o problema maior é encontrar o habitat perfeito para o tipo de pessoa que não mereça o castigo das outras duas alternativas. Como esse tipo geralmente vive em cidades, é dedutivo que se pense em uma Cidade Penitenciária, construída e administrada por seus próprios moradores, onde poderiam viver e cumprir suas penas, de um modo, pelo menos, diferente do atual sistema carcerário. Bastaria a imaginação, um pouco de regras e vontade política para fazer funcionar esse modo de isolamento, onde cada aprisionado, quem sabe convivendo até com sua família, teria muito mais oportunidades de construir um futuro melhor para si e/ou seus familiares.

Todo investimento que se fizesse em prol do melhoramento e/ou aperfeiçoamento dessa cidade poderia ter um retorno social de valor inquestionável. Não seria necessária a construção de muros, até porque a cidade precisaria crescer com o crescimento da demanda ocupacional, nem a existência de agentes prisionais. O que impediria um morador de fugir antes do cumprimento de sua pena, precisaria estar na cabeça de cada apenado. Uma alternativa poderia ser a utilização de uma moeda que só tivesse valor no ambiente penal. No Brasil, um bom nome para esse dinheiro seria o Penal, cuja unidade seria equivalente à unidade da moeda real vigente. A idéia central é de fazer dos aprisionados com mais iniciativa, empreendedores que poderiam manter a cidade em funcionamento a custo zero para o governo que a administrasse. Evitando-se os exageros da concentração de renda, impondo-se limites, é possível que na Cidade Penitenciária se tivesse uma excelente renda per capita, tal que fosse motivadora da permanência do detento até o final de sua pena, ou que permitisse que ele, pelo menos, sonhasse. Quando saísse levaria apenas seus bens móveis, o dinheiro que poupasse e muita experiência. Seus bens imóveis ficariam para os novos moradores.

A Cidade Penitenciária poderia ser o lugar que quiséssemos; teria as regras que estabelecêssemos; poderia ter a forma, logradouros, dimensões e capacidade que desejássemos que tivesse etc. Seria o céu sonhado por muitos aprisionados que hoje sofrem nos infernos dos calabouços do mundo, mas só iria para esse céu aquele que efetivamente merecesse. Para tornar essa cidade realidade, como ela poderia ser planejada, bastaria imaginarmos que ela deveria abrigar, por exemplo, a pessoa que mais amamos no mundo, ou a nós mesmos.