COM OS OLHOS DA ALMA

Dizem que a vida começa aos quarenta.

Eu que já passei um tantinho deles, tenho a concordar com tal afirmação.

Na verdade, aos quarenta me parece que a percepção aumenta, e tenho para mim, que ao menos no meu caso, os quarenta anos são um marco, uma linha divisória que nos demarca nitidamente a hora que acionamos o nosso motor de arranque, e de fato, partimos para a vida.

Mas como a tudo , sempre pagamos o preço.Tanto da percepçãp boa, quanto da percepção ruim.

O que mais me encanta é que aos quarenta anos começamos ficar presbíopes, ou seja, as lentes dos olhos da matéria encurtam, os cristalinos ficam preguiçosos, esticamos os braços para enxergar, caludicamos as articulações, enfim precisaria dum compêndio de horas para descrever o tudo que nos ocorre, mas o meu foco é para os olhos da alma, que aos quarenta anos, ganham lentes de aumento.

Quantas vezes me pego pensando: Será que sempre foi assim e era eu que não enxergava "isso"?

E como tal pergunta se repete!

Mesmo para nós que escrevemos, os quarenta anos nos abrem páginas e nos oferecem a pena.Aquelas mesmas! As tão cantadas páginas da vida.

É impossível, aos quarenta anos , não se ter histórias para contar, fatos à argumentar, propostas a se defender, direções a se mudar! Ainda que equivocadas.

Muitas vezes sinto pena dos vestibulandos, quando na hora das redações, colocam-se temas que apenas a vida os poderia dissertar.

Mas sem a intenção de pessimismo, embora admitamos que a realidade o estimula , os quarenta anos, trazem-nos certa inquietação, porque ao voltarmos à história, mesmo à História do mundo mais proxima ao nosso tempo, sabemos que a mesma é cíclica e sempre se repete.

Com nuanças, mas se repete.

E aos quarenta anos, somos capazes de fazer previsões, e não nos é preciso "bolas de cristal".

É como um filme revisto.

Hoje o mundo cresceu, está violento, complexo.

Vejo que os loucos também são cíclicos e disfarçados, e talvez tal explicação não esteja ao alcançe do nosso entendimento, nem mesmo aos quarenta anos.

Então, não abro mais os livros de história.

Pefiro apenas abrir os de poemas.e acreditar que os meus quarenta anos, são as águas divisórias "INVERTIDAS", entre o sonho do hoje e a realidade do ontem, que deixei pra trás.

Amplio os olhos da alma, e com lentes coloridas, enxergo apenas a poesia, que mesmo cantando as loucuras holísticas, embeleza a ótica da assustadora realidade.