ENTRE A SOLIDÃO E A HIPERTENSÃO...

...UMA DOENÇA SOCIAL

Ultimamente, tenho ampliado o olhar para a dinâmica da vida dos grandes centros urbanos.

Já falei disso por aqui.

Eu não saberia dizer se o que observo é extensivo ao país de forma global, porém com muita probabilidade o deva ser para a maioria das “cidades grandes”, ao menos àquelas que têm algumas características da minha São Paulo.

A modernidade dos grandes centros , concentra um altíssimo número de pessoas descontentes como o todo, irritadas, ansiosas, deprimidas, agressivas, com reações neuróticas de defesa das mais variadas e imprevisíveis, (AQUI SE MATA POR UM SORRISO); e cuja somatização gera desde pequenos problemas até quadros mais sérios de saúde, que podem culminar com o óbito ou invalidez.

Afora as mortes por causas externas, as doenças cardiovasculares e degenerativas se avolumam nos grandes centros do mundo, e aqui não é diferente.

Mas antes da mente e do corpo padecerem, o que adoece é o estilo de vida e conseqüentemente a relação entre as pessoas!

Não há tempo para a alimentação saudável, e a comida industrializada ganha os fast food e as geladeiras das casas, favorecendo o aparecimento de obesidade, hipertensão e diabetes, precedentes indiscutíveis de doença cardiovascular.

Não há tempo para se lavar um pé de alface.

O sedentarismo torna-se exuberante. Algumas academias, embora lotadas, albergam seres estressados que sequer relaxam para a realização dos exercícios físicos, “encaixados" nos estreitos horários entre o trabalho e o "almoço", e que acabam por lhes acrescentar mais carga de stress.

E todas essas alterações na dinâmica da vida, por vários ângulos, isolam cada vez mais as pessoas do contato social, gerando o círculo vicioso duma sociedade adoecida!

O fato é que estamos doentes. E muito!

Somos doentes fabricados pelo estilo de vida psicótico da modernidade.

Por aqui, um dia de vinte e quatro horas já não nos é mais suficiente para se viver “um dia”!

A população, na sua grande maioria, gasta “A VIDA” no trânsito , que em São Paulo já caracteriza estado de caos total; sob um atmosfera negra, de ar seco, de ruídos insuportáveis, de grande calor, de aglomerados humanos por toda parte, de medos, de escassez de todos os recursos naturais básicos ao bem estar global do ser humano.

E bem estar, EM PRIMEIRA ANÁLISE , significa...saúde.

Portanto adoecemos de verdade..e de forma holística...está mais que provado.

Realmente é uma cidade que não pára... nem para pensar, porque se conscientizar da qualidade de vida por aqui, dói na alma.

Nessa semana, demorei uma hora para rodar dois quarteirões!

Famílias que em ultima análise deveriam compor um todo, seguem fragmentadas por horários malucos que nunca permitem agregação.

E o resultado?

O pior dos diagnósticos: As pessoas estão tristes e sozinhas.

Portanto a solidão habita a cidade. Uma multidão imensa de sozinhos, de seres sem rosto.

Tenho percebido pessoas se questionando a respeito, porém de forma individual, pois cada um questiona o seu mundo.

Por vezes pensei tratar-se apenas dum movimento dos mais velhos, mas hoje percebo ser um universo enorme de pessoas de todas as idades, que se inquietam e se movimentam para retornar as “origens” do obvio: voltar a viver!

E assim partimos em nossa busca, nesse coletivo enorme de singularidades infelizes!

Afinal., aonde queremos chegar?

Pessoas abrem mãos de férias, do contato em família, do lazer, da própria essência humana por não terem como se descartar dos compromissos de trabalhadores , ainda que autônomos.

Interessante que são autônomos sem autonomia, encarcerados, engolidos pelo modelo de vida!

Os rendimentos do trabalho pagam as contas e os impostos, quando pagam!

E quando há sobras, nunca nos há tempo!

Digeridos pela máquina da cidade e da vida moderna, as pessoas são reféns de si mesmas, porque para se “sobreviver” por aqui e (sem qualidade!), montamos o nosso mundo, e abrimos, literalmente, mãos à vida...deixando-a escapar.

E muitas vezes de forma irremediável! Um caminho sem volta.

Fica aqui portanto, o nosso grande desafio do hoje:

Buscar pelo essencial nessa insensatez urbana, angariar meios para que coloquemos um basta nessa roda viva que nos tritura, que busquemos imunizar a nossa alma da SOLIDÃO EPIDÊMICA dos grandes centros.

Revitalização é a ordem do momento! E não só do meio ambiente!

Em foco...nosso cenário interior!

Seja qual for a fórmula, que encontremos dentro de nós, um estilo mais harmonioso de vida, que retiremos as algemas da alma rumo à existência e “sobrevivência” da natureza... HUMANA.