Poeta? Eu heim?

Poeta não me acho. Não creio sê-lo. Pois poeta é um ser magnânimo, repleto de saberes e de rimas. Não que não o possa sê-lo, mas é que opto pelo assimétrico. Tudo muito certinho, retinho, homogêneo, dá-me a impressão de plástico. Aqueles estéticos entes quase indeterioráveis, que ousam querer a eternidade, já pensou?

Já tive poemas certinhos. Leram bem, digeriram bem. Mas eu os fazia para satisfazer um público. Estava insatisfeita. Foi então que percebi que só o que sai de minhas estranhas entranhas pode ser real. Comecei a dizer o que penso na exata proporção em que meus leitores foram-se minguando.

No início, fiquei carente. Aqueles aplausos todos eram bons, afinal. Mas a lacuna foi sendo preenchida. Já não sinto necessidade dos autógrafos. Nem sei bem onde foram parar as aclamadas poesias "bem feitas". Sei que Sandra Lopes, grande poeta (como me chamavam meus queridos recifenses), acabou por falecer. Simples assim: deixei de nutri-la. Acolhi outra cidade agora. Rude, eu sei. Mas Brasília não vem ao caso. O caso é que agora faço poesia para quem quiser. Não precisam gostar de qualquer bosta que escrevo. Podem gostar do que quiserem. Ficarão satisfeitos, estou certa, com o que ponho à mesa. Porque só coloco pratos que já saboreei.