PAI OU MARIDO?

Ele era o homem que toda mulher gostaria de ter para marido. Eu não cogitava ainda em me casar, mas, mamãe, ficou super feliz com a possibilidade de ter um genro assim, rico, elegante, bonito e ótimo “partido” pra mim, uma menina órfã, com quatorze anos, desamparada, muito bonita, e além de tudo ele era patrão do meu irmão, era diretor da fábrica onde o meu irmão trabalhava! Nossa! isso era o mais importante de tudo, além de ser estrangeiro, filho de alemão, possuir um carro importado, uma Nasche preta que brilhava ao sol daquela tarde quente de dezembro. A satisfação da minha mãe era indescritível! como poderia negar o pedido daquele homem poderoso, mais velho, ( onze anos) que queria se casar comigo? Era o genro ( ou marido?), que minha mãe sonhara. Eu, nessa idade, achava chic ter ao meu lado um homem como aquele. Não posso negar que ele me atraia muito, passei a amá-lo como se fosse a pessoa mais importante da minha vida. Namoramos algum tempo, ele satisfazia todos os meus desejos por mais absurdos que fossem, eu achava uma maravilha ser protegida e amada por aquele homem bonito. Hoje, depois de cinqüenta anos de união, percebo que nos amamos ainda, ele, como se eu fosse sua filha, e eu, como se fosse o pai que perdi com seis anos de idade! Isso atrapalha um pouco o relacionamento que tantos anos dura. Ele ainda me trata como uma criança, criança essa que eu tenho dentro de mim , graças à Deus. Não quero envelhecer, não me sinto velha e nem quero ser, por isso cultivo essa criança que não desaparece. Namorar? Ainda sinto vontade, namoro sim, amo platonicamente. Amo através do que escrevo, pra quem escrevo e aqueles que me dão carinho com os poemas que leio “imagino” que foram feitos para mim. Não abandono a fantasia, mas não entro dentro dela, apenas cultivo-a para colorir a minha vida como uma aquarela!

dezinha
Enviado por dezinha em 26/12/2005
Código do texto: T90709