Entre o real e o aparente

Deve-se procurar enxergar as religões como amigas muito íntimas da burrice. Não há uma melhor ou pior do que a outra; há, isto sim, formas distintas de mediocridade em cada uma delas. Há, também, semelhanças entre elas, sendo a mais notória o interesse pelo bolso dos fiéis carregados. Gosto de falar mal do Catolicismo - religião já morta, conquanto ainda não se saiba disso por aí.

Indivíduo mais desnorteado do que o que disse pela primeira vez ser católico não-praticante não há de haver. Talvez pior sejam os indivíduos que saem reproduzindo tremenda asneira por onde andam. Veja o quão coerente é o equivalente a afirmá-lo: "embora ecologista, não sou adepto às regras à conservação do meio ambiente". A mesma dosagem de loucura existente nesta sentença haverá à boca do católico não-praticante. Ora, somente um destituído de senso afirmará que faz parte de uma doutrina sem ser seguidor dos seus preceitos. "Destituído de senso" foi eufêmico.

Fatia significativa do catolicismo estatístico se esvai quando extirpados os cômicos não-praticantes. Fatia quase totalitária - saber-se-á o motivo do "quase" – é derrocada quando degolarmos os que se dizem católicos, mas não são seguidores nem da metade do extenso rol dos preceitos da religião ainda, aparentemente, soberana.

Por uma questão contábil: apartando as pessoas que casam castas; não ouvem Rock´N and Roll; não são favoráveis à manipulação de células-tronco; não utilizam os métodos anticoncepcionais; não acham coerente o aborto e a eutanásia em dadas circunstâncias; não são admiradoras de um divórcio quando a infelicidade reinar sob um lar; acreditam - como mencionou Bento XVI - que a desestruturação da família se dá pela inserção da mulher no mercado de trabalho; julgam o caráter de um indivíduo pela tatuagem, piercing ou, ainda, pela condição sexual que ostenta; acreditam – como mencionou Bento XVI – que os jovens sofrem de um "desvio mental"; não se drogam (inclusive não atingindo patamar de falta de sobriedade por meio do álcool); limitam-se à prática do sexo tradicional (nada de sexo oral!) chega-se à incrível constatação de que católicos, verdadeiramente católicos, são tão-só os membros eclesiásticos. E, se você for favorável a tudo o que foi supramencionado, não sendo um membro eclesiástico, passe a se considerar como um; é sobremaneira justo. Releia este parágrafo, leitor, enxergando-o como burlesco – caso já não o tenha feito, é claro.

Por uma questão de atenção: é claro que nem todos os membros eclesiásticos podem ser considerados católicos. Lembremo-nos das crianças estupradas! E, outrossim, dos membros do clero que cultivam as arraigadas práticas trazidas pela Idade das Trevas. Como é podre falar do passado do Catolicismo! Fazê-lo é recordar-se, naturalmente, das indulgências, da simonia e, primordialmente, do fogo inquisitorial.

Cortando toda essa gente, pode-se inferir, dando-se glória ao Supremo, que o catolicismo respirado por aí, ainda reinante, é mera ilusão. Quero grifar: a Religião Católica, tão exacerbadamente aclamada por tantos como a soberana, existe só às bocas de quem o diz e, destarte, às estatísticas, tendo morrido à realidade por não se checar a efetivação dos seus tristes preceitos entre os seus falsos seguidores.

Não se podendo mencionar derrocada totalitária – os membros eclesiásticos! – podemos falar em desaparecimento já relativamente próximo à consumação. É só uma questão de esperar o vulgo despertar ao acima esmiuçado. Uma vez distante do hodierno, a Igreja Católica claudica e, por não poder se adequar aos novos tempos, sob pena de perder a sua razão de existir, tem os seus dias contados. Glória ao Supremo!

...

Em se tratando de amizade íntima com a burrice, pertine reservar um espaço a falar das obras de auto-ajuda, que são as verdadeiras responsáveis pela maior parte dos altos índices de vendagens de livros dos últimos tempos. E como o são!

Ao ler uma obra que objetiva aperfeiçoar a nossa auto-estima, crê-se, à primeira vista, estar diante do manual do descobridor da fórmula à felicidade. O impacto inicial – impressionante! – é sempre o mesmo. Recentemente, uma obra dessa natureza, trazendo uma lei como fulcro, tornou milionária a sua autora e tem alucinado mentes pelo mundo afora, afirmando consagrar o segredo ao sucesso. Palmas à inteligência charlatã dessa autora: a obra é igual às demais, mas, amparada por aspectos aparentemente científicos, destacou-se distintamente.

Consta dessas obras indignas tão-só verdades já passadas às mentes de todos os indivíduos, por toda a vida, mas tratadas em um contexto emotivo convincente deveras – para alguns. E, ademais, são voltadas ao momento vivido pelos indivíduos - o que, indubitavelmente, as mantém fortes. Debilitados como não andam os seres humanos, qualquer dosagem de amparo emocional tende a cair bem a valer. E, quando vindo de pessoas que estudaram formas a persuadir para vender, explica-se tão estratosféricos índices de vendagens. O escritor mais influente do Brasil que nos diga! Achando que consegue esconder a sua essência de autor de auto-ajuda, o influente deve ser o foco de qualquer pretendente a bem-sucedido em vendagens de livros. Palmas para a inteligência charlatã desse brasileiro internacionalmente influente também.

Aparentemente solucionadoras de todos os nossos problemas, as obras de auto-ajuda nos roubam tempo e dinheiro, levando-nos do nada a lugar nenhum, com as suas proposições inconsistentes e frases bem redigidas – nem sempre - a serem postas às nossas agendas. Infelizmente, porém, diferentemente do Catolicismo – que já ruiu no plano da efetividade – as obras de auto-ajuda estão no seu melhor momento, tendendo à prosperidade constante.

...

Pela falta de percepção dos indivíduos ante questões tão óbvias quanto à incoerência do Catolicismo e à pobreza das obras de auto-ajuda, pode-se deduzir que é preciso ter cuidado para viver; andar como quem corre, a todo instante, o risco de pisar em ovos. Assimilar sem digerir – como é típico da multidão – é passo mestre à chegada ao pior lugar da existência: o vácuo.

Marconi Lustosa
Enviado por Marconi Lustosa em 13/04/2008
Reeditado em 22/05/2009
Código do texto: T944482
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.