Os raios

Adoro imaginar.

Fico pensado, por vezes o quão chato seria se a vida fosse perfeita.

O mar sempre calmo para os banhistas e mergulhadores, e com ondas perfeitas para os surfistas.

As montanhas sempre lindas para as fotos e os alpinistas.

As pessoas sempre felizes no trabalho.

Este por sua vez, sempre pagando bem e recompensador.

A chuva, só para regar a natureza.

As pessoas sempre lindas.

Os amores – perfeitos

Primeiros encontros dignos de Hollywood.

Hollywood existiria?

Se acaso de uma vida perfeita, não poderíamos idealizá-la em filmes?

O cinema existiria?

Deixemos...

Ainda na natureza: os raios

Retos?

Uma simples linha descendo à um local previamente abandonado.

(A Morte existiria numa vida perfeita?)

Qual graça teria?

Ver uma coisa reta, lisa, sem forma descer do céu e não fazer nada.

Sem ziguezaguear;

Sem se ramificar.

Sem falar nos trovões, que teria de ser baixos para não assustar.

A vida não teria graça se fosse perfeita.

Os raios também não.

Pois ambos precisam de curvas, raízes, barulhos para serem eles.

Precisam ser surpreendentes para nos envolver.

Precisam ser perigosos para apaixonar.

Precisam ser enigmáticos para existir.

Como uma coisa feita a partir do atrito de partículas de gelo pode ser mais quente que a superfície do Sol?