O INFERNO É AQUI...

Impossível não se incomodar como o desfecho dum crime bárbaro que a imprensa tem acompanhado e noticiado aqui em São Paulo.

Embora o ocorrido tenha acirrado o ânimo de todos, inclusive da população que acena com o "olho por olho, dente por dente", hoje me peguei pensando no fato como um todo, e nas lições que dele podemos tirar.

A primeira delas, depois que analisei o que ocorreu e o tipo de "vingança" que a própria vida tão rapidamente já vem operando, é de que o inferno pode ser aqui sim, e bem perto de nós.

E o mais importante: Ninguém está livre dele, independentemente da posição social ou intelectual que se ocupa na vida.

Pergunto-me o que ocorre na dinâmica da vida dos humanos que pode desviar a tênue linha da sanidade mental para episódios de psicose momentãnea, com a destruição de tantas vidas.

A quais tipos de emoções incontidas podemos ser submetidos para que nos tornemos vítimas de nós mesmos?

Com que rapidez a vida nos dá e nos tira a felicidade, aquela que muitas vezes nem nos enxergamos a desfrutar...

Desde criança, fui formada religiosamente numa crença que nos ensinava céu e inferno.

Sempre imaginei o céu cheio de anjos, num cenário azul pastel.

E o inferno bem longe de mim, caricaturado e denominado por um ser

diabólico...que poderia nos espetar.

Hoje entendo perfeitamente que ambos residem em nós!

Somos uma mescla desse céu e desse inferno, essa dialética teológica conduzida pelo livre arbítrio de nosso discernimento.

Falei em vingança da vida e percebo que a lei do retorno é infalível.

Collhemos o que plantamos, e a colheita sempre demanda por terrenos préviamente adubados...portanto quem semeia vento realmente só poderá colher tempestades...

E é assim com todos nós!

Desde pequenos delitos, daqueles escorregões que todos damos na vida, até aos atos mais danosos e irrevogáveis que nos lançam nas labaredas dos nossos eternos infernos.

Às vezes tenho medo das imprevisões da vida, pricipalmente por entender que até mesmo os infernos estão cheios das boas intenções...

O povo clama pela justiça dos homens!

Mas o pior dos julgamentos e das sentenças nem sempre são os que o mundo faz de nós, mas aqueles que carregamos e sentenciamos nas nossas entranhas, no nosso silêncio, nos nossos medos,nos nossos deseperos...são os nossos piores castigos...

Vejo que a vingança, mesmo a da vida , é um prato que se come frio, não só por esfriar à indolência do tempo, mas principalmente porque nunca é tão palatável a quem o saboreia...

Chego a esta conclusão porque tudo que envolve o tal crime, é muito triste.

Para onde olho, além da criança que se foi, só vejo sofrimento e desespero.

O dia das mães se aproxima.

E como mãe que sou, me coloco no lugar dessas famílias que choram pelos seus filhos e netos...

Só Deus para estender sua misericórdia a todos os corações, principalmente àqueles vazios de caridade.

Lembrando uma passagem Bíblica, ilustro meu sentimento com uma conhecida fala de Cristo : " são os doentes que precisam de médicos".

E aqui me refiro à doença que assola a todos nós, enquanto humanidade: A falta de referência, aquela que deveria nos distiguir dos demais seres, nos elevando à digna condição de seres humanos.

São as referências que também fazem com que encontremos o nosso céu...ainda que aqui... na difícil dimensão daTerra.