ENTRE A FÉ E A RAZÃO

Pelo buraco da fechadura...com todo cuidado, eu espio o mundo...

(MAVI)

A filosofia sempre me fascinou, talvez por ser uma ciência mãe.

Toda a evolução da humanidade passa por ela, por suas indagações e deduções.

A vida é uma seqüência de evidencias misteriosas e sem o pensamento , não conseguiríamos caminhar, tampouco aquietar momentaneamente o espírito.

Porém é fato que não é tão somente nos grandes pensadores, naqueles historicamente consagrados, que a filosofia alimenta e apazigua as inquietações dos Homens; pois a cada momento, ligados ao derredor do nosso mundo também paramos para analisar e questionar.

Viver talvez seja a mais genuína e intrigante das filosofias.

Ainda outro dia, comentava com um amigo o quanto é difícil estar no planeta nos tempos de hoje, mas logo cogitei a possibilidade de nos ser de grande valia, quem sabe um ‘privilégio’ viver numa era de tantas transformações, a galope, que em última instância nos fazem valorizar a paz.

E são os conflitos da Humanidade, as dificuldades, os paradoxos, e as tragédias, a mudança dos ciclos que atualmente mobilizam as minhas inquietações.

Olho para as minhas paredes, toco-as, sei que são solidamente edificadas pelo tempo duma vida, porém sinto que não são seguras...tampouco eternas. Podem balançar...e ruir!

Desde o meu primeiro “tremor de terra” aqui por São Paulo, que “materialmente” me dei conta do quanto o tudo é tão frágil e ilusório...inclusive nós.

Mas...certa vez ainda muito jovem, não me lembro bem se foi assistindo um filme ou lendo um livro, nunca mais me esqueci duma mensagem que dizia mais ou menos assim: “ Se algum dia tudo a sua volta cair e você se constatar em pé, lembre-se de que restou cem por cento do tudo”

A princípio a mim me pareceu uma dedução egoísta, mas com o tempo fui entendendo o conteúdo daquela mensagem.

Falava da fé, da força da nossa “força interior”, na verdade do “centrismo’ de nós em nós mesmos, da capacidade que temos de erguer os entornos e recuperar os cenários...ainda que internos, e a despeito das tragédias.

Minha mãe sempre me fala de algo que acho um pérola: Na vida toda a matéria nos é apenas emprestada. Seguimos no espírito de fé...no caminho da fé...e pela fé.

Sem a fé, não existimos.

E como é verdade! Grandes impérios, quando não sucumbem, quase sempre são erguidos para o domínio do próximo Imperador..

Olhemos para as nossas vidas: Sempre há que se ter fé para saber abrir as mãos.

Do que aprendi que talvez somente nos pertença a força do “espírito”, que ninguém pode nos furtar...se não o permitirmos.

Mas sair da materialidade é difícil, posto que exige amadurecimento dos olhos...da alma.

Lembro-me de certa vez em que perguntei a um teólogo do porquê de nossa fé balouçar ao longo da vida.

-É da condição Humana, me respondeu ele. Está escrito já no velho testamento. Deus a cada instante testa a nossa fé, e é necessário pedir para que ela não se esvaeça.

A fé é a mais forte manifestação da vida...portanto de Deus...em nós.

Mesmo os ateus têm fé!

Porém recentemente ouvi um sermão religioso que me pareceu paradoxal quando ensinava:

“A fé não pode se distanciar da razão”.

Na verdade, tal assertiva estava inserida na onda de manipulação da fé que vemos hoje em dia.

Sempre há um interesse novo em manipular a fé religiosa e intrínseca ao ser humano, frente a tanta adversidade.

Parei para analisar.

Afora aquele contexto mais mundano da manipulação, entendo que a fé quase sempre se distancia da razão, porque a própria razão não explica a fé.

É impossível assumir a posição de São Tomé o tempo todo.

Temos que crer sem ver. Ou melhor, há que se enxergar o que não se vê, para professar e ratificar a fé...a cada dia. Há que se sentir e decifrar os sinais.

Difícil explicar, se não pela fé, a força de se reerguer frente a tanto sofrimento, por exemplo, da população asiática , nas cenas protagonizadas pelo último terremoto.

É sofrimento demais. Fere os nossos olhos e estrangula a alma.

Ali, toda a razão aniquilaria a fé! Mas no sofrimento a fé acalma a pungente razão.

Mas o fato é que seguimos.

A humanidade atravessa ciclos ,igualmente cada um de nós ultrapassa nossas transformações interiores do nosso micro cosmo físico e espiritual.

Lembro-me que tinha medo de completar quarenta anos.

Ao completá-los, no dia seguinte alguém me ligou zombando:

-E aí, já mudou alguma coisa?

Achei engraçado, porque nunca havia me sentindo tão bem.

Nossos medos são nossos maiores obstáculos para o exercício da fé...e portanto, da vida!

E embora “ medos” sejam a fé negativa, são justamente deles que tiramos as melhores lições para seguir pelo caminhos que a razão não entende.