Entrevista dada a Manias de Maria

1.Rosa, você estudou literatura em Paris e contabilidade nos Estados Unidos. O que a levou ao contato com místicos de diversas culturas e a dedicar-se aos estudos mitológicos, filosóficos, e místicos?

R.Muito antes de ir para França, houve um grande tremor de terra em Lisboa. Nessa altura eu não acreditava em nada. Nasciamos e morriamos. O sentido da vida seria o que cada um lhe quisesse dar. Mas nesse momento, em que a Terra tremia e rugia de uma forma tão feroz, eu não tinha dúvida que seria o meu fim. Eu e meu marido fomos nos quartos das crianças, pegamos neles ao colo e colocamo-nos por baixo da viga de mármore da porta da entrada. Nesse momento eu disse: “Deus, se existes salva os meus filhos”. No dia seguinte só duas coisas martelavam na minha cabaça, o ruído da Terra durante o terremoto e a minha oração. Seria Deus uma necessidade? Seria Deus uma consciência ou força gravada desde o princípio dos princípios, na minha alma? Pouco tempo depois li “O Despertar dos Magos”. Depois li muitos dos livros indicados na bibliografia desse livro, incluindo o Al Corão que estudei em língua francesa. Entretanto casei novamente, com um moçulmano, e já em Washington DC encontrei-me com sofistas, assim como tinha feito na Tunísia. Em Washington também tive muitos encontros com tibetanos, com suamis (vedantas), com membros de ordens místicas, com seguidores de gurus etc etc. Ter estudado literatura num país tão aberto como a França e particularmente em Paris, onde não há nada que não se encontre, ajudou-me, pelo menos a procurar. Talvez ainda não soubesse bem o que procurava, mas obtive muitas respostas. Continuei a minha busca e entendi que não era necessário ir à Índia para encontrar respostas. Aliás, fui à China e foi uma desilusão. Finalmente, claro que com uma ajudinha, descobri que as respostas estavam todas dentro de mim. O fato de ter estudado literatura e depois contabilidade, mostra que sou uma sonhadora, mas também uma realista. Essas duas faces de mim mesma equilibram a fantasia que sempre quer abraçar-me e reter, e uma visão equilibrada da realidade que me leva a ter uma compreensão da vida, de mim e dos outros, sem que me deixe cair em extremos. Durante todos estes anos, talvez 36, sempre li e estudei com prazer. Os professores passaram a ‘acontecer’, já sem eu os procurar. E foi assim que cheguei onde estou. Continuo procurando, mas já tenho muitas respostas. É sobre elas que escrevo, sob uma fortíssima vontade de transmitir - não as minhas dúvidas, mas as minhas certezas, as quais me levam a sentir no mais íntimo do meu ser, a responsabilidade que tenho em passá-las adiante. Quando temos uma vida tão privilegiada, não é para a guardarmos no guarda jóias ou nos albuns de fotografia, mas para propagar e comunicar tudo aquilo que nos enriqueceu.

2.Particularmente eu acredito que todos, homens e mulheres, temos um grande potencial criativo em estado latente que, por diversas razões, às vezes, não deixamos aflorar. Você concorda com essa minha crença? Em que momento você se “descobriu” pintora? O desenvolvimento dessa nova forma de expressão provocou uma alteração no modo como você se enxergava, enxergava o mundo, as pessoas e sua relação com tudo isso? Enfim, mudou sua visão de vida?

R. A criatividade humana é uma realidade. Quem não a usa sofre. Entra em becos sem saída, em poços escuros, em círculos mascarados de desculpas e escapes, como drogas, indiferença, aborrecimento, julgamento etc. Todos nascemos com cérebro assim como todos nascemos com o dom de sermos criativos. Esse é um dos temas mais importantes dos meus livros, principalmente no Testiculos Habet et Bene Pendentes. Para os gregos o maior segredo dos Mistérios era que o ser humano é descendente dos deuses e que no caminho da sua evolução os próprios deuses também evoluiriam, o que punha a evolução de deuses e humanos dentro da mesma lei universal; com o andar do tempo e da evolução humana os deuses viriam a reconhecer o ser humano como seu descendente e herdeiro. Isso aconteceria no momento em que este atingisse o verdadeiro Poder Criativo através do seu próprio esforço, descobrindo também a sua verdadeira identidade. Esta esperança imortal que a Humanidade herdou dos gregos sublima a existência humana. Em relação aos meus dons artísticos como pintora, sei que não são grande coisa, e que jamais irão figurar em algum museu, mas a realização e satisfação que sinto quando pinto, não tem preço e isso é o mais importante. Nunca aprendi a pintar. Simplesmente um dia senti vontade, fui na loja, comprei tintas, pinceis e canvas e pintei um vulcão de onde saiam estrelas. Gostei e continuei pintando. O principal é que os pais ajudem os filhos a desenvolver a sua criatividade. Dar-lhes opções, levá-los a museus, exposições, e também expô-los a artesões, durante durante a infancia. Se eu tivesse tido uma educação assim, hoje seria escultora, além de arqueóloga. Mas estou contente por ter desabrochado para o dom de criar formas com o pincel e de descobrir verdades há tanto enterradas nas masmorras da consciência humana, com a caneta.

3. Desde 1983 você tem se dedicado à carreira de palestrante. Qual o objetivo de suas palestras e a quem são direcionadas?

R. Em 1983 dei a minha primeira palestra em Washington DC, no Banco Inter-Americano de Desenvolvimento, BID. Depois disso tenho sido convidada por grupos maiores ou menores, onde sempre tenho a imensa satisfação de colocar mais uma luzinha nessa árvore que é a vontade humana em ir ao encontro da Verdade. A espinha dorsal de tudo o que faço, embora os meus livros sejam tão diferentes uns dos outros, é que o ser humano não nasceu para sofrer, mas para evoluir, assim como para transformar este mundo noutro de paz e harmonia. Para isso temos de mudar a maneira de pensar. Temos de ‘esquecer’ ou renunciar à moral e religião que nos afoga em culpa e irresponsabilidade, onde não passamos de joguetes entre deuses e demônios, para outra onde a auto-estima, auto-confiança, sabedoria e verdadeiro amor nos encaminhem àquilo que Jesus ou outros grandes Mestres diziam: O reino de Deus está dentro de nós. Temos tudo. Descubra-se, conheça-se, ame-se, neste mundo, nesta encarnação, neste Agora. O que vier depois não importa. O importante é este momento e será dele que o caminho do depois toma forma, dentro da nossa consciência. Embora escreva sobre coisas que não são muito simples, tento escrever de maneira que todos possam entender. Antigamente, os ricos eram enterrados junto ao altar da igreja e os pobres junto à porta. O mundo mudou, ninguém mais acredita que os previlêgios divinos têm preço. É o medo a perder tal fonte de rendimento o que leva as igrejas a esconderem a Verdade. Mas hoje todos temos o direito de saber a Verdade e qual a razão da existência. Todos somos filhos dos deuses. Todos somos uma obra prima. Todos temos o direito de evoluir e de nos realizarmos. Isso é a felicidade que todos procuram sem o saber. Ninguém nasceu com pecado original; quem humilhar outro ser humano comete um crime muito maior contra a Humanidade do que não ser batizado.

4. Vamos aos livros... São cinco: “Pergunte a seus Sonhos”, “O Segredo Além do Pensamento”, “Edouard”, “Testiculos Habet et Bene Pendentes” e dois livros para crianças a serem publicados brevemente. Gostaria que você falasse um pouquinho sobre cada um deles.

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5. E, para terminarmos, você poderia deixar sua mensagem para todos os visitantes do “Manias de Maria”?

R. Ame-se. Conheça-se. Descubra-se. O Divino que procura está dentro de você. Porém, não o faça por ambição ou egoísmo, mas com egoência.

Rosa DeSouza
Enviado por Rosa DeSouza em 31/05/2008
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