MARCOS LOURES - o poeta

Acostumado a costurar palavras e sentimentos desde pequeno, o mineiro Marcos Loures cresceu, aprendeu a revirar a carne e a costurar dores. Formou-se médico. Nem por isto abandonou sua vocação inicial. Muito ao contrário, aprimorou-se, tecendo poesias, perfumando páginas em branco com nobres sentimentos.

Este ariano de 46 anos, nascido em Muriaé, uma simpática cidade da zona da mata mineira, já produziu aproximadamente 25 mil poesias. Isto significa uma produção diária de 1,5 poesias desde o dia 08 de abril de 1962, quando nasceu (!), até o dia em que esta entrevista foi realizada. E ele estudou, namorou, casou, teve filhos, e ainda encontra tempo para praticar a medicina em quatro diferentes cidades.

Ele se julga um sujeito normal, muito embora quem vasculha e aprecia sua produção literária sabe que o entrevistado em questão é uma máquina de sentimentos tão intensos que o faz um dos autores mais lidos do Recanto das Letras.

Como curiosa que sou, tentei conhecer um pouco mais sobre o escritor, apesar de que ele fale de si com muita parcimônia. O minimalismo utilizado nas respostas é um claro contraste com os textos com que nos presenteia. Acredito ser esta uma característica própria dos sábios. Aqui, divido com vocês.

• Quando você descobriu seu dom para a literatura?

Meu pai, Marcos Coutinho Loures, escreve há muitos anos em vários jornais de Muriaé e, por isso, sempre convivi com a literatura, escrever foi somente uma conseqüência.

• Quantas poesias já escreveu? Você publica todas, ou tem um baú de impublicáveis?

Devo ter escrito próximo de vinte e cinco mil, tenho algumas de “reserva”.

• Você tem livros publicados? Onde você expõe sua obra?

Não. Escrevo basicamente na internet.

• O que te inspira?

Utilizo mais a técnica do que a inspiração propriamente dita.

• Você tem algum ritual de produção?

Não.

• Qual é a sua formação literária?

Leitor, tão somente. Por isso me auto-denomino leitor.

• Quais poetas e livros deixaram marcas e/ou influenciaram sua poesia?

Catulo da Paixão Cearense, Dostoievsky, Vinicius, Camões, etc... sou bem eclético.

• Quem acompanha sua produção no Recanto da Letras imagina que você não faz mais nada na vida, que transpira poesia. O que mais você faz? E o que faz nas horas vagas?

Trabalho em 4 cidades, fazendo 3 plantões de 24 horas além de um PSF; nas horas vagas, escrevo.

• Você escreve todo dia? Como é sua rotina produtiva e literária?

Toda vez que tenho um tempo livre eu escrevo. É um prazer enorme e como sou meio compulsivo...

• Que tipo de pessoa você é, que consegue falar de amor inúmeras vezes, diferente de tudo o que já foi falado? Você parece não perder o encantamento. É estratégia, vocação ou um mundo de vastas sensações e emoções?

Na verdade eu sou um sanguessuga de emoções, tentando “roubar” as várias matizes do sentimento. Sou romântico, mas agridoce.

• Em suas poesias encontramos ritmo, musicalidade, emoção, precisão do vocabulário e da língua, além de profundidade de idéias estruturando o texto. Isto é dom ou aprendizado?

Dom sim, mas muito mais aprendizado.

• Tem alguma poesia sua pela qual você tem especial predileção? Diga pra mim qual e porquê.

Das minhas, não. Nem as sei de cor. Mas gosto muito de Vinicius, Florbela, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos...

• Você é um poeta. Tem intuição poética e conhecimentos técnicos. Você tem consciência do seu vasto potencial?

Não, não sou poeta. Apenas uso a técnica baseando-me no ritmo, por isso trovador ou repentista cai melhor.

• Até que ponto sua poesia brota naturalmente? Ou você trabalha-a, buscando palavras, rimas e elementos técnicos?

As duas coisas, e surgem automaticamente.

• Você concorda que a poesia sempre comporta mistérios?

Sim, a poesia verdadeira tem seus nuances de fantasia e de mistério.

• Acredito que a poesia se alimenta de vida. Como você alimenta sua vida?

Um misto de emoções, minhas e de quem escreve comigo, ou mesmo de fatos, frases, pensamentos. Sou meio vampiro.

• O que você pretende com sua poesia?

Basicamente me divertir e divertir as pessoas.

• O que é melhor para a poesia: amor, tristeza, dor, saudade, solidão ou o quê?

Emoção. Qualquer uma delas. Poesia sem emoção não é poesia.

• Marcos Loures por Marcos Loures.

Pacato cidadão, sem atos heróicos nem ideais sublimes, apenas mais um na multidão.