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Sabem, eu sou uma garota esperta e feliz, tenho meus dramas mas eu sempre fui atrás dos meus sonhos. Desde que fui assistir uma peça teatral de uma amiga de minha mãe chamada Deborah Schcolnic que escreveu um livro autobiográfico sobre sua doença (esquizofrenia), eu me modifiquei. Em primeiro lugar identifiquei-me com um dos personagens, uma bailarina que fazia o papel de Anne Frank (simbolizando o despertar da feminilidade da mulher), no caso uma jovem em pleno descobrimento de si mesma que se vê enclausurada num quarto escuro querendo ver a luz do sol. Minha mãe me levou para conhecer Deborah depois da peça na qual ela também era a produtora e dava entrevistas, eu perguntei a ela: Quem é Anne Frank e por que ela estava sendo mencionada na peça com aquela música e poesia? E ela me respondeu: É que quando tinha mais ou menos a sua idade fui assistir pela primeira vez uma peça de teatro sobre Anne Frank, foi a primeira peça teatral que assisti e me identifiquei com ela por ter a mesma idade que ela e por ser judia, isso me marcou muito inclusive porque quem fez o papel de Anne Frank foi uma atriz que casou com o rapaz que fez o papel do namorado da Anne Frank que na vida real por acaso era meu primo, um primo pelo qual eu tinha muita ligação na minha infância. Acontece que esse primo casou com ela muito cedo, assim como eu assumindo a responsabilidade por uma família e acabou surtando como eu também mas quem o curou foi o amor de sua mulher. Hoje eles tem 3 filhos lindos, estão muito bem e felizes. Já no meu caso, tive 3 filhos lindos também mas só vim a me curar depois que me vi despertar através da arte, como escritora e poeta. Na saída do teatro de Anne Frank, um rapaz da minha idade me abordou, foi um único encontro que marcou o resto da minha vida. Ele veio comentar comigo sobre a peça e eu ainda estava muitíssimo emocionada. Na época minha vida era o esporte, no caso o tênis e nessa conversa ele sugeriu que eu me interessasse mais por teatro. Eu disse que não tinha tempo e ele me perguntou: Você não namora? Eu tinha 14 anos e a pergunta dele mexeu comigo, respondi que não e saí correndo chorando. Desde então, resolvi que ia começar a namorar e tinha um rapaz que jogava tênis e que gostava de mim, ele já havia me pedido em namoro quando eu tinha 11 anos e eu dizia que era muito nova e ele perguntava: quando você fizer 15 anos podemos namorar? Eu terei 18. E eu respondia que sim. Comecei a namorar com ele aos 14, casei com 19 e tive meus 3 filhos. E na peça você viu o que aconteceu comigo, né?

Aí, eu disse a ela: sabe, eu tenho um namorado desde meus 11 anos, agora estou preocupada se devo ficar com ele ou não. Então, ela disse: leia o Diário de Anne Frank, quem sabe te ajude.

Fui até uma livraria e comprei, o li e no meu caso o que me fez identificar com Anne Frank foi o fato de querer assim como ela me tornar uma escritora profissional. Ela tinha esse sonho se sobrevivesse ao Holocausto. Ela não sobreviveu mas quando foram achados pelos nazistas, o seu diário ficou lá e depois seu pai sobrevivente voltou ao anexo e o encontrou e publicou. E de fato ela se tornou uma escritora profissional aos 15 anos. Depois de ler o livro lembrei que na peça a música e a poesia de Anne Frank terminava dizendo assim: "Desperta Anne, o sol não se foi, da vida renasceu , na dor amanheceu.

Eu sou uma jovem resoluta e não considero minha vida sem luz. Acontece que estou passando por um dilema. Meu namorado me ligou, disse que recebeu um convite para trabalhar e morar como cantor em Portugal, ele tem cidadania portuguesa pois seus pais são de lá, além de uma família numerosa para acolhê-lo. Ele diz que sou a mulher da vida dele e que mesmo não estando junto comigo no momento ele tem a certeza de que acabaremos juntos. Ele diz que eu posso tentar publicar livros em Portugal, nós temos onde morar de início e seu tio escritor pode me dar uma força.

Mas por que estou contando tudo isso a vocês? Gostaria de ter a opinião dos recantistas se devo arriscar ou não. Aqui, tenho minha própria casa, moro sozinha com meu cachorrinho, tenho minha família mas não tenho muitas chances no mercado literário brasileiro. Lá eu estarei meio que emancipada, inclusive maritalmente com um homem que amo mas teria que começar de novo e contar comigo. Vale a pena? Por favor, meus amigos, conto com seus valiosos conselhos.

Obrigado

Graciliana

Graciliana Ramos de Oliveira
Enviado por Graciliana Ramos de Oliveira em 15/08/2008
Código do texto: T1130059