Entrevista LUKA MAGALHÃES (Teatro & Literatura) - SP

Luka Magalhães (luka.magalhaes@yahoo.com.br), prosador, ator e dramaturgo, é meu amigo desde a infância. Isso afugenta um pouco o olhar crítico para sua obra mas não fugi do embate entre nossas ideias, afinal, apesar das similaridades, também tínhamos fervorosos debates alimentados por vitaminadas controvérsias. Fato é que desde adolescente ele já manifestava interesse profundo pelo teatro, e a ele tem se dedicado com afinco, apesar da intermitência. E é desse (ainda)romântico que tentei extrair sumo para esta entrevista. Espero que gostem:

1) Quem é Luka Magalhães?

Paulistano de coração, amante das artes que conhece e pratica. Respondo "eu sou eu, e isto me basta". Falo assim pois para mim existe uma questão filosófica ao tentar reponder "quem sou eu". Dizer meu nome, de onde vim ou do que gosto não atinge, na minha opinião, o real teor da pergunta.

2) O que você faz?

Dentre outras coisas, brinco de ser escritor. Gosto disso e tento me esforçar para um dia ter um texto do qual as pessoas digam: "Ah, esse é do Luka Magalhães. O cara é fera!", e coisas do gênero. Escrevo e me identifico com textos teatrais. Sou quase um dramaturgo... (risos)

3) Quando você começou a sentir as primeiras "erupções" do querer expressar-se para o mundo?

Foi na época de escola, onde tive a influências de várias pessoas, dentre ótimos professores, principalmente em educação artística e língua portuguesa, e de amigos que até hoje me acompanham e me motivam. É na escola que nos conhecemos e nos reconhecemos como seres pensantes e atuantes dentro de um gueto social. Tinha como companheiros, pessoas com mesmos sonhos e neste mesmo gueto, a veia artística de muitos surgiu. Era um amontoado de idéias individuais que tornavam-se coletivas num estalar de dedos.

Montamos nosso grupo de teatro, "EGHO?! - Em busca de si mesmo?!" era mais que um capricho de adolescentes, era a tatuagem que até hoje carrego como marca dos amigos que tenho. Era e é meu elo pessoal com inúmeras pessoas! Passado o tempo, comecei a escrever coisas simples, só por escrever e durante um período da minha vida fiz do ler e escrever a minha válvula de escape para minhas intenções.

Em relação aos textos teatrais, participei de outro grupo de teatro, onde eu era o coringa da trupe. Nunca fiz o papel de protagonista, mesmo sabendo de minha competência como ator. Era mais útil ao grupo como coringa (o ator que tem um papel menor no espetáculo, mas que conhece o texto e está pronto para substituir qualquer integrante do grupo diante de uma necessidade).

Por não ter o papel principal nos espetáculos decidi então que teria todos os papéis do texto e comecei a ser dramaturgo. Nesta época retomei um projeto antigo da época do EGHO?! e escrevi um de meus melhores escritos: "ASCENSÃO, APOGEU E QUEDA DE UM HOMEM QUALQUER" (publicado no Recanto das Letras).

Outro dia estava mexendo em papéis antigos e encontrei meus primeiros rascunhos deste texto. Olhei e pensei: "Nossa! Eu ainda tenho isto!"

Cara, como o texto se modificou desde a idéia inicial! (risos)

Daí para cá foram se acrescentando outro textos e em város estilo: poesias, contos, fábulas, pensamentos e muito mais.

4) E hoje, como você se sente? Escrever às vezes não dá um certo vazio, um sentimento de que talvez estejamos sendo inúteis?

Penso que, se escrevermos para outras pessoas, nunca estaremos completos. Acredito que devamos escrever para nós, para realçar nosso ego (ou EGHO?!), aí sim existirá a sensação de vazio, do incompleto se não estivermos produzindo algo. Não sei se estamos sendo inúteis. Como disse, se é para nós, estamos sendo úteis para nossa existência, trabalhando nossos conflitos, nossos dilemas e expressando nosso viver.

O dramaturgo carioca Augusto Boal escreveu no prefácio de um livro (não me recordo se foi em "Jogos para atores e não-atores" ou em "Hamlet e o filho do padeiro", ambos de Editora Record), que "todo texto é autobiográfico, senão seria plágio!". Pensando assim, não acredito que, ao escrever me torno inútil à minha vida.

5) E o que é que te provoca, te impulsiona a escrever?

É interessante pensar no que nos impulsiona a escrever. Ocorrem momentos, pessoas, frases, palavras e outros pormenores que me provocam. Vamos partir do pressuposto que o escritor é provocado. Então algo te provoca, te desafia e lá vamos encarar a peleja.

Um poeta pindamonhangabense chamado Paulo Tarcizio Marcondes disse certa vez que, como escritores devemos estar atentos para o mundo, abrindo olhos e ouvidos para captarmos estas provocações. E certa vez escutei a seguinte frase, de um senhor que trabalhava comigo, quando contava sobre um tio. Era assim: "O amor da minha vida é a vida do meu amor". Achei tão impactante que comecei a escrever um romance para moças adolescentes, chamado provisóriamente de "Bailarina". Tenho que finalizá-lo.

Então penso que o que me impulsona é o próprio mundo que nos cerca, basta ter olhos e ouvidos.

6) O que você andou escrevendo? Em que(e quantas) peças já atuou?

Ultimamente tenho me poupado de escrever, fiz algumas poesias, comentários com dicas para quem quer escrever sonetos e outro sobre licença poética. São coisas curtas que promovem a curiosidade em se conhecer mais sobre os assuntos. Penso que meu último grande texto escrito é uma poesia chamada "Centúrias", também no Recanto.

Teatralmente já atuei em textos de autores desconhecidos do grande público e em outras de grandes nomes. Fiz o papel do sacristão em "O Auto da Compadecida" do Ariano Suassuna, e em "A Pena e a Lei", do mesmo autor, representei Cheiroso.

Participei de uma montagem de "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade e minha última atuação foi representando o médico, na montagem de "Um Médico na Família", texto meu.

7) E o que você está "aprontando" agora(janeiro de 2009)?

2009 me promete grandes sonhos e quem sabe algumas realizações. Tenho dois argumentos para documentários, que são muio interessantes, falta criar um roteiro, elaborar um projeto e buscar um patrocínio. Reluto para concluir alguns escritos, talvez por já haver passado algum tempo que parei e ainda não ter reencontrado o caminho dos enredos.

Em um campo familiar, penso em escrever a trajetória de vida de um irmão, falecido há pouco. Foi uma vida de mudanças imensuráves que, só quem o conheceu em vida sabe do que falo. O problema é que alguns familiares relutam para não. Talvez eu o faça na calada da noite. (risos)

Penso em outros textos teatrais, mas nada de concreto por enquanto. Até agora é o que tenho em mente. Provavelmente me surjam outras ideias no decorrer do ano. Sei lá!