ERVINHA OU CAMISINHA?


(Da minha obra Chega?!.).

Numa homenagem àqueles que amam, preservam e respeitam a natureza dei aos entrevistados o pseudônimo de alguma criação da própria natureza.


Conta-nos Gerânio que, para ser mais feliz aos dezoito anos de idade, achava que deveria fumar maconha. E assim o fez.
No seu linguajar descontraído, revelou:
— Sabe tia, maconha é um produto milenar. Inclusive as grandes personalidades fumavam a ervinha. Escritores, então, nem se fale! — acrescentou. — A senhora nunca deu um “peguinha” para escrever?
— Ora garoto, que pergunta? Escrevo de cara limpa, como dizem vocês. 
— Sem preconceito, tia. Tá cheio de coroa que curte o fininho. Maconha além de ser natural faz menos mal que este seu cigarro.
— Então você acha que devo dar um “peguinha” para desenvolver melhor o meu livro?
— Não, tia. Não mesmo. Fique na sua.
— Assim sendo, “fedelhinho”, conte-nos sua experiência.
— Quando fiz dezoito anos meus amigos me deram de presente uma caixinha de camisinhas e o baseado preso por um lacinho.
Coçou a cabeça:
— Que otário, fiquei mais atraído pelo fininho do que por fazer uso do preservativo.
— Também, o fumo traz sabor de proibido e meninas disponíveis têm a cada esquina.
— E meninos babacas têm muitos?
— Sem feminismo, minha tia!
— Não estou sendo feminista. Apenas me ocorreu que se há muitas meninas disponíveis, naturalmente, é porque há muitos meninos babacas. Sem marcação garoto, apenas observei!
— Tá legal!... Naquele dia fumei junto com meu amigo Abacaxi, o qual me orientou direitinho como puxar o fumo. A princípio eu dizia: “Não alterou em nada, estou normal. Logo depois, viajei!...”
Continuei com a maconha até descobrir que a cocaína tinha uma substância mais eficaz para meu vôo. Daí não foi difícil chegar ao crack.
Na flutuosidade da droga eu era um rei. E, na falta dela, um rato amedrontado. Um dia, eu estava na fazenda do meu pai, quando resolvi cheirar coca e tomar chá de cogumelos. Naquele dia, vi a cozinheira temperando bifes, sendo que um deles saltou do prato e começou a me perseguir. Cara!.. eu corri a fazenda inteira. E o bife me alcançando. Ele só parou quando me atirei na piscina. Ainda na piscina, escutei uma batida forte de um coração. Segui a batida para ver de onde vinha. Para minha surpresa, ela vinha de um coqueiro que parecia querer tombar. Eu o abracei tentando salvá-lo. Mas seu coração por vezes falhava. No delírio da droga ouvi o coqueiro dizer-me: “Otário, é o seu coração que está falhando. Se cuide, se não o bife vai lhe engolir.” Apavorado, chorei muito. Chorei com medo do bife me devorar. No dia seguinte, já deprimido falei com meu velho:
— Pai, faça o que sempre quis: me interne, mas que seja logo, antes que o bife me engula.
— Daí fui para a clínica. Sofri muito para me renovar. A cada vez que eu percebia que ia fraquejar, lembrava-me do recado do coqueiro.
Hoje sou um defensor da ecologia, dou meu testemunho na clínica e dei um graúdo “chega” às drogas.
Deixei o vício alucinante, mas ganhei outro vício. Não posso ver um bife à minha frente que o como. Tenho a sensação de que se não comê-lo ele me comerá. Quando alguém me oferece drogas dou como resposta uma banana.
Esse é o canal, né não?

Lúcia Borges
Enviado por Lúcia Borges em 02/08/2009
Reeditado em 02/08/2009
Código do texto: T1733106
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