SHIATSU - Você conhece?

- Nome idade e Profissão:

Ubirajara Teixeira Tederiche, 42, Técnico em Massoterapia e Acupuntura. Também cursei Economia e Radialismo na Escola de Comunicação e Artes da FMU - SP.

- O que você fazia antes de ser massoterapeuta?

Trabalhava na área de informática, era analista de suporte para o mercado financeiro e prestava serviços para operadores de bolsas e corretoras.

- Você chegou a trabalhar com rádios também não é mesmo? Conte um pouco dessa história. O que te fez mudar de área?

O rádio foi assim, já trabalhava na área econômica e como sempre gostei da área de comunicação e de rádio desde pequeno. Ouvi sempre AM e música. Na infância as pessoas me diziam com freqüência “você tem voz” e nessa história de “você tem voz, você tem voz” eu acreditei e acabei percebendo que gosto da área de comunicação como gosto até hoje. Fiz alguns trabalhos de rádio, gravei alguns comerciais, mas por ser um campo muito restrito e fechado, houve alguma dificuldade para que conseguisse ter uma penetração maior no mercado. Então fiz alguns serviços extras fora aqueles que eu executava na área de economia. Entretanto eu usei bem esses recursos que aprendi do rádio pra chegar onde eu estou hoje. Para lecionar, nas palestras, felizmente a área de comunicação me ajudou muito no meu trabalho, ora nas aulas ora nas conversas com meus pacientes.

- Você trabalhou em alguma emissora?

Sim, atuei na Nova Brasil FM, prestei alguns serviços para a Antena 1 e na rádio USP. Com trabalhos de suporte e gravação de comerciais

- E como você resolve ser Terapeuta?

Eu tinha 30 anos, atuando na área do mercado financeiro. Mas por ter começado muito cedo, com 14 anos no extinto Banco F Barreto no departamento de tesouraria, quando cheguei aos 30 já estava satisfeito com tudo que havia aprendido nesta área e cansado dessa rotina da correria, comecei a adoecer por se tratar de um trabalho muito desgastante. Passei a ter prejuízos de ordem física e também emocional. Pra você ter uma idéia já existem homens com impotência sexual com idade média entre 25 e 30 anos que trabalham na Bovespa. E eu estava entrando nessa coisa de ficar somando os problemas.

Em função disso um belo dia eu fui dormir e lá pelas tantas horas da noite no meio das minhas orações. Eu pensei comigo mesmo eu estou muito cansado eu quero fazer outra coisa da minha vida. Acordei no outro dia de manhã com a palavra acupuntura na cabeça. Foi assim não conhecia acupuntura, não sabia o que era, foi mais um processo intuitivo que surgiu. Ai fui pra internet, eu fui um dos primeiros usuários de internet. Fui pesquisar e descobri. Depois trabalhando ainda no mercado financeiro eu fui estudar Acupuntura e medicina chinesa, com alguns cursos que pesquisei na web e aos poucos eu fui migrando e decidi aposentar o antigo currículo que eu tinha e descobri que sou feliz fazendo o que faço hoje.

- Quanto tempo você levou após concluir seus estudos para começar a lecionar? Em que lugar aconteceu isso?

Eu montei um centro de estudos de terapias orientais chamado: “Shen Tão” que quer dizer caminho do espírito e depois de 7 anos trabalhando nessa área, criei um planejamento e grade curricular de cursos que divulgava no boca-a-boca. Por possuir uma experiência razoável aqui em Diadema, acabei me tornando conhecido e desenvolvi um planejamento de cursos de Shiatsu e medicina Chinesa.

- Quantas pessoas trabalham com você no Centro?

Na verdade uma das grandes dificuldades que eu tive foi preparar pessoas para trabalhar, sempre houve duas ou três pessoas trabalhando comigo, mas a rotatividade sempre foi muito grande. Por isso eu fique um período trabalhando sozinho. É um trabalho muito desgastante, que requer muita determinação e boa vontade de quem trabalha na área da saúde. Talvez por isso as pessoas chegavam com uma ilusão, que seria uma coisa fácil, por ser num ambiente terapêutico, muitas pessoas imaginam que vão chegar ali é vão executar um trabalho light, levinho e não é assim. Existe um desgaste emocional por parte de quem trabalha com medicina terapêutica por ter que ter sua atenção totalmente voltada ao paciente. Então essa foi a grande dificuldade que eu encontrei para preparar pessoas.

Aqui na Fundação, realizando este trabalho, existe uma expectativa muito grande de podermos aproveitar esses profissionais aqui mesmo na Fundação ou convidando-os que se destacarem para participar do meu centro de estudos. O que já acontece.

- Fale um pouco sobre o Shiatsu, o que é essa força “Ki” muito abordada nos livros sobre terapias orientais pode ajudar no equilíbrio físico e mental das pessoas?

Na verdade essa energia Ki que todo mundo falar sobre, já é uma coisa que todos nós temos, ou seja, todos nós já temos saúde, nascemos saudáveis. O papel do Shiatsu é resgatar uma coisa que já existe. O Shiatsu e a acupuntura não irão curar, essas técnicas vão promover uma coisa que já se encontra dentro de cada um de nós. O que acontece é que nós estamos saindo no nosso eixo de equilíbrio e isso nós faz perder nossas potencialidades orgânicas, fisiológicas e também de ordem emocional. O principal objetivo do Shiatsu é a correção da coluna vertebral e o trabalho de enrijecimento muscular. Mas em cima disso obviamente há um processo de promoção da sua saúde, uma vez que o Shiatsu é feito sobre esses canais de energia chamado Ki. Nesses meridianos que nos temos dentro do corpo, o Shiatsu faz circular essa energia dentro do corpo. Com massagens feitas pelos polegares sobre esses meridianos. O Shiatsu faz você se encontrar com você mesmo, os alunos aqui da Fundação já perceberam isso, vai muito além da sensação de bem-estar e conceitos habituais do dia-a-dia. Resgatar essa unidade entre o ser humano e o universo, fazer da gente uma coisa só.

- O que são os meridianos?

Nós temos 59 meridianos ou se preferir canais de energia, entre esses temos 12 principais que são representados por órgãos e vísceras. Nós temos um par de meridianos de fígado e vesícula, outro par de coração e intestino delgado, de baço pâncreas e estômago, pulmão e intestino grosso e por fim um de rim e bexiga. Sem contar o de tripla aquecedor e de circulação - sexualidade, são 12 principais onde o Shiatsu atua e harmoniza a saúde humana.

- Qual é a origem do Shiatsu?

O Shiatsu é uma massagem nova de origem japonesa com cerca de 70 anos de existência derivada do AMA, no Japão essa massagem foi legalizada, desta forma o Shiatsu foi uma ramificação de outra massagem para os profissionais que sobraram no mercado japonês poderem atuar.

- E o AMA é semelhante ao Shiatsu ou totalmente diferente?

Não, é parecido, a diferença é que no AMA você não trabalha com a pressão dos polegares, mas com amassamento dos músculos se usando das palmas das mãos.

- O que os alunos da Fundação aprendem neste curso?

Buscamos nos profissionais daqui, principalmente despertar a capacidade de se auto-observar. Crescer como pessoa humana. Eu sempre digo que para que você possa tratar alguém, você primeiro precisa se conhecer. Isso é fundamental, sem julgamentos, sem fazer juízo de valor ou distinção de raça, credo e religião entre as pessoas, ou seja, esse enfoque filosófico nós sempre tentamos passar aos alunos. Precisamos se melhores não no sentido de superioridade, mas no sentido de sermos melhores do que ontem. É muito mais fácil você tornar uma pessoa boa num bom profissional do que o inverso. Ter um bom profissional e transformá-lo numa pessoa boa é muito mais difícil. Desta forma construímos um tripé somando-se a isso a carga teórica e pratica-técnica.

- Os alunos que se formam na turma de Shiatsu da Fundação estão aptos a fazer o que?

Estão aptos a realizar boas massagens, isso não significa que podem aplicar tratamentos mais avançados. Inclusive existe na Fundação uma proposta de podermos estender um pouco mais esse curso. Talvez elevar a carga horária, para que esses alunos possam efetivamente atuar aqui dentro da Fundação com tratamento e adquirir experiência com atendimento.

- Qual é a carga horária atual?

120 horas com duração de 3 meses, de segunda a quinta-feira com três horas por aula, atualmente estamos com 16 alunos.

- O que uma pessoa precisa aprender ou gostar para ser um Shiatsuterapeuta?

Requisito número 1 - Primeiramente precisa gostar de gente... Outra, ter humildade também é fundamental, porque nós não vamos atender apenas pessoas, bonitinhas, limpinhas e perfumadas. Vamos atender pessoas de toda ordem e todas devem ser atendidas com o mesmo carinho e atenção; Requisito número 2, está pessoa precisa gostar de estudar, se ela não gostar de ler, não terá condições de fazer um bom shiatsu, porque essa terapia não é apenas uma massagem, ela requer um conhecimento profundo de anatomia, da fisiologia e de questões psicossomáticas. Isso tudo requer do Shiatsuterapeuta um estudo profundo, para que o profissional saiba o que fazer quando seu paciente o for consultar.

- Qual é a maior dificuldade de ensinar Shiatsu, uma terapia nova. Para uma turma também nova?

A parte pedagógica, porque são termos técnicos que nós usamos e isso requer dos alunos uma pequena bagagem. E infelizmente isso não ocorre. Por defasagem do próprio ensino público brasileiro. Isso tem dificultado a aprofundamento de alguns conhecimentos. Como a cobrança é grande, esses alunos conseguem se superar e atender nossas expectativas.

- Agora falando um pouco das perspectivas do Shiatsu para o País. Como você enxerga isso? Quanto tempo ainda falta para se adotar no Brasil essa cultura de terapias alternativas como acontece nos paises orientais?

Nós temos uma vantagem, o Brasil está sendo incumbido de desenvolver todo esse legado de terapias orientais, observamos que há um crescimento muito grande nessa área. Inicialmente por conta muitas vezes de um ganho – para aumentar a sua renda. Outros no caso por exemplo dos profissionais, muitas pessoas estão migrando para essas terapias por contas da nossa monstruosa deficiência no sistema de saúde pública, mais especificamente no atendimento médico. As pessoas estão um pouco desiludidas com os atendimentos médicos. E quando elas chegam num consultório de um terapeuta elas enxergam um outro mundo, com outra atenção e outro atendimento. Então por conta disso também, essas terapias vem crescendo ao longo dos últimos anos. E os médicos ainda não perceberam isso com muita clareza.

O paciente quer o que? Ele quer atenção. Olhos nos olhos. E o Sistema Público de Saúde não oferece isso. Felizmente os novos terapeutas que estão chegando, estão desenvolvendo isso com bastante qualidade. Por outro lado, muitos ainda não estão preparados, isso é um alerta que eu deixo para as pessoas que forem procurar as terapias, busquem saber onde estes profissionais estão sendo formados. Hoje como não existe uma lei que regulamenta esses profissionais para trabalharem, muitas pessoas estão se passando por terapeutas de finais de semana. Então esse é um alerta que eu faço, prefiram por profissionais experientes e conhecedores da sua área. Eu acredito que para os próximos anos o Brasil ainda irá explorar muito esse tipo de terapia no tratamento de doenças, inclusive dentro dos hospitais como já vem ocorrendo.

Por parte da maioria das pessoas que vem conhecer as terapias, vem por causa da dor, ainda não vem pela consciência que isso é importante. Mas é pela dor que a gente começa a crescer, não tem problema.

- Existe uma tendência das Terapias substituírem as drogas?

A acupuntura trata o vicio do alcoolismo, do tabagismo e de algumas drogas mais pesadas, mas na mesma medida que isso cresce, cresce também a miséria e os aliciadores. Então eu digo que é uma luta injusta, porque eles vêm com uma arma muito forte e nós ainda estamos a passos de formiga.

Eu penso que os Governos podem criar, como ocorre aqui na Prefeitura de Diadema, através do Espaço Zen na Fundação. Isso é um grão de areia no oceano. Porém é o primeiro passo e pode auxiliar muitas pessoas para conhecer o outro lado do mundo e passarem a se valorizar sua saúde.

Quando um menino perceber que o que ele tem de mais precioso é o seu corpo físico e sua saúde ele não irá buscar a droga. Mas pra isso essa informação precisa chegar até a ele. E não basta só isso, mostrar a ele que ele pode ser útil. É um caminho bastante interessante dentro das terapias alternativas. Como já disse anteriormente é um grande legado, mas não apenas de técnicas, um legado de enriquecimento espiritual que os orientais vêm deixando pra gente.

- Deixe uma mensagem para as pessoas que enxergam nas terapias uma forma para começarem a trabalhar.

Como é uma coisa nova as pessoas estão se iludindo. É como no começo do namoro, a gente fica usando óculos cor de rosa e tudo fica parecendo lindo e maravilhoso. E a coisa não é bem assim. Então para as pessoas que querem trabalhar hoje, elas precisam ter consciência de onde estão entrando, procurem desenvolver seu auto-conhecimento, e saibam que na Acupuntura ou no shiatsu é necessário muito conhecimento técnico, muita dedicação e não para ter duas profissões. Ou vai ter essa ou vai ter outra, você não pode dizer eu vou fazer Shiatsu e Acupuntura para agregar no meu salário. Não dá, dedicação exclusiva, total mesmo. Caso contrário, você poderá ficar perdido e pior, prejudicar outras pessoas. O que é ainda mais sério. É uma área muito bonita, é uma área de campo infinito, tanto no conhecimento como na experiência pessoal.

José Luís de Freitas
Enviado por José Luís de Freitas em 02/08/2006
Reeditado em 02/08/2007
Código do texto: T207481
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