Conversa entre o Professor Paulo Chaves e Archidy Picado Filho, realizada em dezembro de 2005 (participação de Madalena Herculano dos Santos) Parte 1

Paulo Chaves é diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Psicobiofísicas de João Pessoa - PB

(Para saber mais, acesse http://www.ceppjp.org/artigos/Aprenda-a-sair-do-corpo-enquanto-dorme.html)

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Archidy: Fale um pouco sobre você. De onde veio e onde você pretende chegar?

Paulo: Nesta encarnação, nasci em Arco Verde, no Estado de Pernambuco, e desde criança vivi fenômenos que hoje considero extra-sensoriais, que nortearam minha vida e que me fizeram pensar muito sobre o significado da Vida, de estar aqui. Foi a partir deles que defini o trabalho que faço hoje e para onde vou. Meu objetivo é me tornar o que chamo de “completista”, ou seja: nascer, ter um objetivo, descobrir esse objetivo e tentar cumpri-lo da melhor forma possível saindo desta existência com a categoria de “completista”.

(A) O que significa exatamente este termo?

(P) Este termo foi inspirado por experiências extra-físicas de um modo geral. Ele está presente em algumas obras espíritas, como as de André Luis, psicografado por Chico Xavier. O “completista” não é uma pessoa perfeita, não é uma pessoa completa, mas é um ser que conseguiu completar aquilo que ele se propôs a fazer em uma existência. Essa experiência é oriunda de um conhecimento do passado, de outras existências e também do que ele pretende realizar hoje, resgatando e corrigindo o que fez de errado ou aperfeiçoando o que fez de certo.

(A) Às vezes não consigo entender muito bem a questão do significado espiritual do “extra-físico”, ou “extra-corpóreo”, que se refere a uma coisa que acontece “do lado de fora” de seu ser. Como você sente estar fora?

(P) Nós não utilizamos a palavra “espiritual”. Achamos que tem conotação divina, às vezes muito distante da gente, muito ligada ao aspecto religioso, uma vez que esse mundo está permeado de interpretações religiosas. Nós preferimos a expressão “extra-físico”. Por quê? Porque designa algo que está fora desse plano físico. Somente isso; mas ele tem muitas conotações de igualdade entre como as coisas são aqui. Achamos que esse mundo físico é uma cópia mal feita desse plano extra-físico. Na Verdade, a Vida, sua origem, não vem do plano físico; vem do plano extra-físico; não de um plano onde você se manifesta com o corpo, que faz parte deste plano. Isso é apenas uma questão de plano de existência na Natureza; mas existe um estado interno da consciência que considero o mais “espiritual” possível. Se a pessoa não tiver essa conexão consigo mesmo, dentro de si, não importa em que plano da Natureza ela esteja; ela não estará em contato com o divino, com o “espiritual”, no caso.

(A) Acho interessante essa consideração da questão dos planos. Quando se diz que há “planos de consciência”, “planos de Existência”, na Verdade essas divisões são utilizadas para que possamos nos situar dentro de determinado contexto. Porque a rigor, entre os “aglomerados” que compõem a Existência, partindo da dimensão “espiritual” para a “material”, de fato não existem tais limites ou divisões.

(P) Também compreendo assim. Essa divisão é para efeito de entendimento prático, do mesmo jeito que não posso dividir o meu corpo físico em “sistema nervoso”, “sistema endócrino”, “sistema digestivo” e achar que eles vão sobreviver sozinhos. Um sistema depende dos outros para que todo o corpo funcione bem. Mas, para estudá-los, divido-os porque preciso dissecá-los, separá-los, embora a Vida em si mesma seja única. Não pode ser separada.

(A) É dessa forma que compreendo o “mundo espiritual”, mundo que você chama de “extra-físico”. Tal separação existe apenas pela condição de nossa consciência, porque enxergamos as coisas como se estivessem sempre “acima” ou “abaixo”, “de um lado” ou “de outro” de nós.

(P) Mas faço uma distinção. Por exemplo: quando eu me projeto, quando eu saio do corpo físico, saio como sou, do jeito que sou aqui: pensando, raciocinando, com minhas idéias, com minhas percepções. O que ocorre é apenas um deslocamento da consciência de um plano para outro. Eu não me torno um superdotado, não viro um santo, não mudo em nada só porque passei de um plano para outro da Existência. O que ocorre é apenas um deslocamento de meu eu e isso ocorre por uma questão de treinamento, do desenvolvimento de uma técnica. Qualquer pessoa pode realizar o deslocamento de sua consciência e sair de um corpo para outro.

(A) Você sai de um ponto, de um lugar para outro, de um corpo para outro, e você se vê através desse outro?

(P) Exatamente, através do outro. A gente chama isso de “autobilocação consciencial”.

(A) Mas seu corpo continua vivo, naturalmente.

(P) Só que fica inanimado. Ele fica quieto, parado, mas suas funções vitais de sobrevivência continuam normais, embora todas em níveis bastante baixos.

(A) Você diria que isso tem a ver com o sono, por exemplo?

(P) Não, as diferenças são muito grandes.

(A) No sonho pode-se sair de repente?

(P) Sim, perfeito. O sonho pode ser uma porta para a projeção. Não é necessariamente como a projeção. Por exemplo: no sonho nós literalmente somos sonhados. Nós não sonhamos. Ou seja: as coisas vão acontecendo independentes da nossa participação, à nossa revelia, e acontecem coisas as mais absurdas possíveis: uma pessoa se transforma numa gaivota, nisso, naquilo e naquilo outro. Você é sonhado, literalmente. Na projeção você mantém a consciência, como nós estamos aqui, agora, no estado de vigília física; só que se está deslocado; a consciência está em outro corpo, e você pensa, raciocina, você se determina. Um corpo sozinho não tem um “eu”; é apenas um veículo. O corpo não tem consciência por si só.

(A) Se você fizer uma viagem, uma projeção, um deslocamento de sua consciência para o meu corpo, para onde vai o meu eu? Como vou me sentir?

(P) Não existe este deslocamento da minha consciência para a sua consciência. Por exemplo: aqui, agora, tenho vários corpos. Ou seja: tenho o corpo físico, tenho o duplo etéreo, o corpo emocional e tenho o corpo mental. Muita gente fala que tem mais do que isso, mas não tenho vivência disso. O que pode acontecer é minha consciência – que sou eu, na Verdade – se deslocar de um corpo para outro. E, como eu disse, o corpo é apenas um veículo. Neste momento nós estamos no que a gente chama de coincidente. Todos os corpos estão unos. Ou seja: os corpos mental, emocional, energético e físico estão num só; estão coincidentes. Porém no sono todos nós nos deslocamos, os corpos saem uns dos outros, só que a consciência continua dormindo. Os corpos ficam dês-coincidentes. Eles saem uns dos outros. Na maioria das pessoas eles ficam a oitenta, cinqüenta centímetros, mais ou menos, acima do corpo que dorme. Isso é um fenômeno fisiológico natural. Todo ser humano faz isso, todas as noites, quer queira quer não, quer goste quer não, quer saiba quer não, quer acredite ou não. Isso é uma coisa fisiológica. Isso acontece com o cachorro, com o gato, com qualquer coisa que tenha vida a partir do corpo emocional. A diferença é que algumas pessoas conseguem “acordar” nesses outros corpos. Estima-se que dez por cento da humanidade faz isso hoje. Dez por cento pode parecer um número pequeno, mas, ao mesmo tempo, é um número muito grande de pessoas que conseguem ter lucidez sobre esse estado e trazer sua rememoração para a esfera do físico. Agora, isso é deslocamento da consciência: o que chamo de evolução da consciência é a consciência “crescendo”, aumentando sua capacidade perceptiva. Independente do corpo onde esteja, ela começa a abarcar o Todo. É quando alcança estados de consciência diferentes e, num estado de consciência diferente você pode ter uma consciência cósmica; ou seja, uma consciência independente do veículo onde esteja. Quer seja no físico, quer seja no emocional, quer seja no mental, terá consciência de todo o Universo. Isso é evolução da percepção, da consciência. Agora, deslocamento da consciência, projeção astral ou “viagem astral”, como queiram chamar, é apenas um deslocamento. Você se desloca com a consciência que você tem de si mesmo. Se você fala inglês, continuará falando Inglês; ou Espanhol, ou Português... A percepção que você tem de si é a mesma: você tem os mesmos preconceitos, as mesmas limitações ou habilidades. Nada disso muda. Vai ser apenas um deslocamento de um corpo para outro corpo, e isso todo mundo faz; só não tem consciência disso, nem lembrança.

(A) Uma coisa que eu sempre pensei – e agora muito mais, estando na condição de Chefe de Divisão de Arte, Música e Educação da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do município de João Pessoa – é a questão da necessidade. Estava numa palestra sobre espiritualidade e um cara disse que o importante não é se você é capaz de andar sob as águas. Porque aí você não fará nada melhor do que uma folha sobre as águas de um rio. Um nível de consciência alterada deve lhe dar uma condição de melhores entendimentos sobre você mesmo e sobre a Vida e de reconhecer seu valor real, o valor real de cada coisa. Agora eu pergunto: em que melhora o indivíduo a experiência extra-física, uma vivência extra-corpórea?

(P) Veja bem: posso dividir minha existência em dois momentos. Eu era uma pessoa. A partir do momento de minha vivência na projeção consciente, sou outra. Porque acontecem mudanças em sua forma de perceber, de pensar, de sentir e, acima de tudo, de agir no mundo. Por exemplo: você desmistifica – por você, não por crença, não por dedução de outros, mas por sua própria experiência – que a morte não existe, e o medo da morte é um grande dilema da humanidade. E você a desmistifica. Você pega livros de teólogos, de pessoas inteligentíssimas que teorizaram sobre isso, mas elas não sabem o que falam porque seus conhecimentos não são fundamentados na experiência. Por alguma razão fui privilegiado, vamos dizer assim, por viver tal experiência, e viver a coisa é muito diferente de você acreditar ou teorizar sobre ela, por mais brilhante que seja seu intelecto. É quando você desmistifica a idéia da morte, porque ela não existe. E aí você começa a encarar a vida de uma forma diferente. Você começa a sentir suas relações começarem a mudar. Você descobre por você mesmo que, por exemplo, a teoria da seriex – ou o processo das reencarnações – deixa de ser teoria. Os seres nascem e renascem até alcançarem o ponto ideal da Vida, que eu não sei dizer qual é, embora acredite que, para o mundo, é o que se chama de “Perfeição”. E isso não é mais uma simples teoria para você; isso passa a ser um fato, e então você começa a se preocupar mais com os seus atos, com o que você pensa, sobre como você pensa e como trata as pessoas a partir disso. Você começa a olhar muito mais para você, e começa a desenvolver uma necessidade imensa de ter sentimentos de fraternidade e de realizar sua prática.

(A) Você acha que isso acontece com todo mundo?

(P) Infelizmente, não. Porque algumas pessoas saem do corpo, às vezes, usando alguns artifícios, algum tipo de droga. Ela vive o processo, mas tem uma percepção deturpada dele porque, para mim, vivê-lo a partir da utilização de um artifício não é uma coisa viável. Porque a partir daí se começa a entender as coisas de uma forma deturpada. Só defendo o princípio de a pessoa sair do corpo com o maior nível de lucidez possível, sem usar nenhum artifício, para que sua percepção não seja mesclada. A partir da vivência do fenômeno de forma genuína começa-se realmente a sentir, saber e pensar. O fenômeno obriga você a pensar no fato. O fato de você, por exemplo, ver o seu corpo físico deitado, olhar para ele e ver que você tem outro corpo que também pode pegar, tocar, cheirar... No primeiro momento leva-se um choque muito grande. Tem-se a idéia de que morremos. Depois, você se pergunta: “mas como morri se continuo pensando, sentindo e agindo?” Esta visão, essa sensação, esse fenômeno, por si só, repercute muito dentro do ser humano e é capaz de provocar muitas mudanças em sua vida.

(A) Mas repercute sempre positivamente? Você não poderia estar usando esse conhecimento pra fazer o mal ou para “se dar bem” na vida materialmente?

(P) Acredito que sim. Muita gente às vezes usa isso dessa forma, porque o ser humano tem essa capacidade de contaminar muito do que vive e toca. Mas, a grande maioria dos projetores que eu conheço, e com quem convivo, realmente não são perfeitos, mas têm se esforçado muito para melhorar como pessoas; a maioria, e é por isso que defendo o princípio, não de estimular crenças ou o raciocínio simplesmente, mas estimular para que a pessoa viva um fenômeno semelhante ao que vivi. Porque o fenômeno, por si, tem mexido com muita gente. Quase todos têm escolhido esse caminho de aperfeiçoamento. (CONTINUA)