FURACÃO E SENTIMENTO

136 -Ah! fale-me sobre a sepultura!

-Sobre ela minha pena, vai no papel discorrer,

está no final da linha, todos temos que descer!

137 -Fale-me mais.

-De todos os ideais, que os humanos deveriam ter,

é que contasse com uma, quando viessem morrer!

138 -Mas todo ser humano terá uma, não?

-Caro discípulo, eis aí uma questão, que fico a ponderar:

quantos morrem e não contam, com um lugar pra sepultar!

139 -Por que isso acontece?

-Do incinerador ao ar, dos desaparecidos no mar;

e os que morrem no espaço? Quem poderá encontrar?

><

140 - É, professor. Isso acontece! Fale-me sobre o mar.

-Se tem algo que um poeta, gosta de divagar;

é sobre o mar da existência, em que estamos a navegar!

><

141 -Que é mar da existência?

-Meu amigo, essa existência, é um verdadeiro mar,

nos somos navegadores, com muitos a naufragar!

142 -Podes ensinar-me a navegar nesse mar?

-Terás que aprender sozinho, a manobrar seu timão,

lembra-te que tem calmaria, mas tem também furacão!

143 -O que seria um furacão nesse mar?

-Nesse mar, furacão é sentimento,

que atormenta a alma, com triste acontecimento!

><

144 -E sobre o verbo atormentar?

-Dos mosquitos que atormentam, até o fogo que queima,

de viver, não desanimes, continue nessa teima!