Luiza de Fatima Dantas (entrevista concedida a Elaine Cristina Marcelina Gomes)

LUIZA DANTAS ( SECRETARIA DE FINANÇAS DO SINTISAUDERJ)

A entrevista concedida por Luiza de Fátima Dantas (Secretária de Finanças do SINTSÚDERJ) à Elaine Cristina Marcelina Gomes, gravada e transcrita. Na sub-sede do SINTSAÚDERJ, situado na Rua Dom Walmor nº85, Centro de Nova Iguaçu, em 29 de maio de 2008.

Segundo Luiza de Fátima Dantas, secretária de finanças do SINTSAÚDERJ(sindicato dos trabalhadores no combate as endemias e saúde preventiva no Estado do Rio de Janeiro, não fui do movimento estudantil e sim do movimento de Bairros. Não fui da direção do MAB(Movimento de Associações de Bairros), mas conheço a História. O movimento de Bairros de Nova Iguaçu era muito intenso, e aí no MAB as pessoas tinham a responsabilidade de organizar a associação de moradores. Casei em 1975 e gostaria de participar em 78 e 79 comecei a me dedicar muito e em 80 estava grávida e tive que largar o movimento porque o DOPS era muito forte e o 1º contato com a repressão foi nesse período, na organização do conjunto éramos todos moradores do mesmo conjunto, meu amigo disse que eu tinha que fugir porque tinha gente do DOPS atrás da gente, eu não entendi nada, mas foi por causa dos panfletos da organização da associação de moradores.

Então tive minha filha, me afastei e aí em 83 com 23 anos, ainda era forte a repressão, me acusaram de ser da PPL, era uma organização de extrema esquerda e comunista e junto com o PC do B, tentava fazer uma luta armada, nunca me importei, mas eu não era da PPL. Comecei a gostar muito disso, não era filiada a partido nenhum e o meu amigo que descobriu sobre o DOPS, organizamos o PC do B, em nova Iguaçu. Começou a sair do bipartidarismo e ele me colocou como tesoureira e aqui em Nova Iguaçu a organização de Bairros e da Igreja era muito forte, mais eu tinha receio por achar que me colocaram em risco. Fiquei no PC do B até em 84, entrei no PT em 88 e neste mesmo ano entrei no trabalho de mata mosquitos e começou a surgir mais a organização dos trabalhadores do que a de bairros dentro do PT. A organização de mulheres era muito forte e as mulheres vivia uma discriminação muito grande.

Me fala dessa discriminação das mulheres?

O Sindicalismo ficou muito claro a origem do Sindicato com uma cara muito masculina, e a cara das mulheres era muito forte no movimento estudantil e ainda hoje a uma descriminação das mulheres muito grande, comigo não por conta da minha formação, mas eu vejo com todas as companheiras, as mulheres são assediadas moralmente.

Como que é a participação das mulheres dentro dos sindicatos?

O SEPE é um sindicato de maioria de mulheres, avançou muito e no de enfermeiras também, mais de forma geral os sindicatos não abrange as questões das mulheres de forma geral. Na CUT surge a Comissão da Mulher Trabalhadora, discuti a cota para as mulheres, porém o processo é lento. Ainda hoje a discussão do aborto é tal como antes, não avançou. Ainda tem agressões físicas, moral embora seja velada.

O meu estilo pessoal não é de levar desaforo para casa, mais existi comigo uma coisa estabelecida, tenho duas filhas e uma neta, a política de mulheres tem que ser feita todo dia e na rua, da preferência a vendedora mulher e em todas as esferas e mesmo aqui no sindicato, às vezes escondem coisas de mim, por que eu não vou deixar barato.

Na comissão da mulher trabalhadora da CUT nacional, cresceram muito e ainda tem que crescer, tem que ser a mulher maravilha, para ser militante sindical, tem que ter muita estrutura, a militância passa a ser quase que 24 horas, passa a ser tripla jornada.

Em 1975 foi o ano Internacional da Mulher, o que você fazia neste ano?

Nessa época eu tinha 22 anos ainda não era nessa luta, comecei a me envolver no movimento de bairros, nessa ocasião muitas mulheres participavam dessa organização (MAB). As mulheres de Nova Iguaçu fizeram o fechamento da Dutra.

Em 85 e 86 surgiu Dengue no Rio e as mulheres de Nova Iguaçu através do MAB lutou contra a doença e também para saber o que é dengue, e eu mesmo sem saber em 70 eu já lutava para a saúde pública e por moradia e na década de 80 entrei para a luta sindical.

As mulheres saem do lar para a luta sindical e a luta sindical foi organizada para homens e eu na direção do partido era a única mulher começa a luta por disputa, a mulher no poder passa por todo o tipo de pressão, eu construí um perfil e não tive muito problema, mais as mulheres que trouxe comigo sofrem muito.

O sindicalismo parece que esta em retrocesso, há um machismo muito grande, o fato de a mulher ganhar menos que o homem, ninguém liga muito. Eu militei muito na saúde da mulher, se tem danos para o homem, para a mulher tem mais problemas, uma mulher exposta a chumbo, só mulher vai passar o chumbo para o bebê.

O nosso sindicato é filiado a CUT e a CNTSS, que leva a risca os 30% de mulheres, embora tenham este quantitativo os cargos de mais importância não se encontram as mulheres.

No seu sindicato tem discussão de Gênero?

Não tem gênero na discussão geral e sim dentro da formação política, aqui a discussão de Gênero está muito aquém do ideal.

Como é na tua família?

Na minha família as mulheres têm muita História de força política eu perdi minha mãe com nove meses de aborto e tétano, minha mãe era a referência da minha família, eu tenho uma tia que é do sindicato Rural. Chamam-me para tudo, nem sempre tenho tempo, eu acabo tendo mais equilíbrio para resolver problemas, por causa da minha formação política, na família do meu marido me adotaram por isso, pelo meu olhar democrático e social.

A opressão do homem sobre a mulher está na cultura e é muito difícil quebrar cultura, eu gostaria de ter um neto homem, porque eu ia arrasar na educação dele, na minha rua me esperam chegar para resolver e se eu vir um homem batendo numa mulher eu me meto, porque muitas delas não sabem fazer diferente, então o que me preocupa na luta por Gênero, é a mulher continuar formando os agressores. Eu tenho por hábito, vestir minha neta no dia 8 de março sair toda de lilás, agora eu decidi que vou fazer uma semana.

O nosso sindicato, a minha categoria não é de maioria mulheres e é uma categoria que lutou muito pela endemia no Rio de Janeiro. A técnica de combater a Dengue era militar e em 86, entraram as primeiras mulheres no combate a Dengue, foi aqui em Nova Iguaçu, as mulheres de Caritas trazidas pela igreja. Claro que houve retaliação, sofrerão muita pressão, assédio moral, tinham que subir na caixa d’água, tinham que trabalhar mais do que os homens,e provar a capacidade de trabalhar e hoje sou respeitada na minha categoria, começou com estas mulheres. Naquela época trabalhar com organofosforado já era uma agressão e para a mulher muito pior. Alcançamos cargos até de coordenadoras, agradeço a luta destas mulheres, colocaram as mulheres para sofrer muito, mas foi mulher maravilha e passaram pelo desafio e hoje ninguém tem a coragem de dizer que a mulher não tem capacidade, tanto quanto as mulheres. A gente precisou ter um advogado para dar conta da regularização funcional da categoria, só que naquela ocasião, uma advogada mulher, feminista, conseguiu em 96 regularizar a situação funcional de trabalhadores da FUNASA, e para mim ela foi uma pessoa importante para me polir na questão da luta de mulheres, e sempre me colocou em palestras e me construiu, essa pessoa foi a Dr. Joselice, então deste período para cá minha referência na questão de mulheres é ela. O Berriel é um homem que respeita profundamente a luta de mulheres, os outros companheiros o Sandro também respeitam e se não respeitar, eu vou em cima e cobro mesmo. Sempre participo da campanha de homens, mas sempre das mulheres, gostaria de ver mais mulheres nas esferas do legislativo, Judiciário e etc.

Como você construiu esse caminho e quando surgiu a cota de mulheres?

Em 96 já respeitava cotas, mas isso me incomoda muito, eu já preenchi cota, nunca me utilizei da cota na minha vida e quando no PT utilizei das cotas, me senti um nada e pensei como se sente estas mulheres, então a cota ajuda, mas ainda não é o ideal. A libertação das mulheres é fundamental para a libertação da humanidade. A emancipação que a mulher vai conquistar, vai tornar a humanidade diferente, vai existir um antes e depois desta emancipação, eu acredito nisto.

Como você organiza seu tempo de mãe, mulher e sindicalista?

O Presidente Lula veio a Nova Iguaçu, perto da minha casa, minha categoria agradecida entregou uma placa e eu fui escolhida para entregar, então estou acostumada com o mais auto escalão do governo, quando desci do palco e tinha acabado de falar com o presidente, não era uma mulher qualquer, os vizinhos começaram a me tratar diferente. Tenho uma frieza muito grande, que posso sair daqui com muitos problemas, porém chego a casa e brinco muito com minha neta. Tenho muita gente perto de mim que me ajuda, eu paro faço reflexão, não sou religiosa, mas paro para ouvir meu coração. Passei por duas cirurgias e quando parei que descobri quanta coisa eu faço, qualquer um pararia eu não parei.

Acredito que você poderia fazer um projeto, que promova a discussão de Gênero neste Sindicato, para mostrar sua força, em prol de atingir mais mulheres na luta de igualdade de Gênero neste país e, mostrar a força e o poder das mesmas.

Entrar de casa em casa como na nossa categoria, faz crescer muito o ser humano, entrei em muitas casa na favela do Rio e as crianças sozinhas e eu me perguntava , onde estava aquela mulher? Trabalhando. Quando me enternei no Hospital Pedro Ernesto, tinha tudo para ajudar as pessoas, havia uma mulher do Acre, conheço o Senador, a Ministra, mas fiquei quieta, se não as pessoas podiam pensar que eu era uma contadora de histórias. Fiz meus contatos e o assessor do Senador ligou e conseguimos a cirurgia para a mulher que estava lá a meses. De forma geral, quando você coloca isso como meta de vida, não me preocupo com as minhas filhas, porque elas não dão esse mole para ninguém, minhas filhas se orgulham de mim e me orgulho delas. As duas seguem meu exemplo, querem ajudar as pessoas, teem uma postura correta. Algumas mulheres me apóiam muito, como D. Penha que teve um papel muito grande no acompanhamento, era a mãezona no acampamento. Quando a mulher sabe interpretar o som do bebê, essa capacidade é importante, eu doei ao movimento sindical e a meus companheiros, sou meio durona, mas doei carinho por que houve momentos muito difíceis nessa luta. Ontem minha filha falou que as pessoas não sabem o que é ter uma mãe torcendo na beira da piscina, fiquei surpresa, porque sei que falhei muito na educação delas. Hoje você ter mulheres com cargos de transformação a condição da mulher é uma coisa, mas o compromisso é diferente e é difícil levar está bandeira. No acampamento eu passei e vi os homens abusando de uma menina de 10 anos, eu os arrasei, eles rebateram, mas acho que mudei aqueles homens. A transformação da menina para mulher, é muita coisa, embora passe despercebido para alguns e é muito novo imenso para a mulher, passei por isso, tem muita gente na sua família, o seu redor. Sou gente, não só mulher, sou gente, eu sinto essa transformação de menina para mulher que é massacrada pelos homens e quem é mãe se preocupa com isso, a sexualidade é um problema muito grande. Estou ajudando a reorganizar a associação do meu bairro e vou querer um departamento feminino. As mulheres de Nova Iguaçu no Sindicato das domésticas, você vai encontrar muita coisa lá. A Cida Diogo é uma militante de Gênero, boa para você entrevistar, a Dr. Joselice também é militante de Gênero, a Jurema Batista, Benedita da Silva, você deveria ir à CUT, na Comissão de Mulheres para ampliar sua pesquisa.

Elaine Marcelina
Enviado por Elaine Marcelina em 15/11/2010
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